31 outubro 2007
Putin [ou: 'a polícia portuguesa']
Dizia um dos gatos fedorentos qualquer coisa como 'com tantos polícias à volta de Putin, não há nenhum que o prenda'.
Tal como os portugueses discutiram a actuação das polícias [GNR e PSP] durante a visita do Presidente russo a Lisboa, a imprensa atirou-se agora ao assunto, enquanto ninguém a silenciar, algo que deve ser tratado esta tarde.
As polícias portuguesas têm um enorme complexo: Lisboa [para não falar no resto de Portugal] não é Paris nem Londres, ou Bruxelas ou Nova York, e portanto aquelas séries todas de televisão não se aplicam.
Não há eventos diplomáticos de grande porte, e a sua actuação fica reduzida a umas multas de trânsito, ou à advertência de maus estacionamentos de carros e carroças [até porque as polícias municipais assumiram a parte mais regulamentar]...
Este ano, tal como no ano histórico do CCB e da anterior presidência portuguesa, ou em menor escala da Expo98 e Euro2004, as polícias estão ao rubro: há chance de usar trajes de gala, parar o trânsito, enfim, exercer o seu poder: os polícias, nos seus escassos meios [que agora incluem novas pistolas, e espera-se os novos tasers, quase armas de tortura como já se percebeu nos EUA] brilham.
As sirenes, tão comuns nas grandes metrópoles mundiais, 24h sobre 24h, ouvem-se agora em Lisboa e Cascais. Usa-se e abusa-se do poder: políticos e seus boys, passeiam-se nas calmas, com grande aparato. É o júbilo policial, tipicamente terceiro-mundista, sobretudo quando as decisões políticas em nada compensam tal aparato.
O júbilo acaba quando a presidência chegar ao fim, e vamos ver como será gerido o complexo policial...
Entretanto, e estilo FBI versus polícias locais, numa típica equivalência de filme ou série americana, a GNR e a PSP discutem competências, que em regra acabam na percepção de que a GNR é uma polícia militar dispensável [até porque existe uma polícia militar em sentido próprio] e que nos basta a PSP, onde a actual GNR podia perfeitamente ser integrada. Mas enfim, o Governo PS e PSD tem preferido 'poupar' noutras áreas, fechando centros de saúde e escolas.
O último caso do confronto GNR e PSP foi precisamente com Putin: a GNR, diz o DN de hoje, terá fechado o viaduto Duarte Pacheco, leia-se, o acesso à A5, autoestrada Lisboa, Cascais. Conclusão: os lisboetas, em plena hora de ponta, ficaram horas parados na autoestrada, sem chegar aos seus empregos. E alguns, em pleno 'Túnel do Marquês'. Deve ter sido arejado, ficar parado no túnel. E a PSP terá discordado.
Isto com uma hora de antecedência relativamente à saída de Putin do putativo hotel D.Pedro. E isto com a consequência de Durão Barroso e Javier Solana chegarem mais tarde à reunião prevista, aliás Solana depois de Putin e já com os jornalistas a ir embora, o que foi tudo menos cortês...
No fundo isto não tem nada a ver com a GNR e a PSP, que têm, no entanto, os problemas referidos no início deste post: um enorme complexo de inferioridade, ego e inactividade/produtividade.
Tem a ver com o simples facto de não se concentrar os Putins deste mundo no Parque das Nações, Queluz, Mafra, Belém, Ajuda, Sintra, ou outra zona fora do centro, onde estes pernoitariam e sem deslocações, reuniriam com quem quer que fosse.
Os jornalistas garantiriam a cobertura e a informação à população.
E nós habitaríamos a cidade, em paz, sem cortes de trânsito nem outras estupidezes que tal.
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30 outubro 2007
Droga nas prisões...
O famoso João Goulão, presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência [!], diz que - Público de 24.1o.2oo7 -- 'é 'criminoso' atraso na troca de seringas nas prisões'.
Não deixa de ser curioso que seja o presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência a proferir tal afirmação.
Seria ainda mais curioso perceber como é que a droga -- cujo consumo a troca de seringas em prisões apenas estimula -- entra nas prisões...
Isso é que é criminoso. E sem aspas.
Marcadores: drogas, João Goulão, prisões
29 outubro 2007
Estado, privados e escolas.
Foi hoje divulgado pela imprensa uma sondagem segundo a qual 'Três em cada quatro pessoas inquiridas entendem que a administração pública funciona "pior" ou "muito pior" do que o sector privado'.
É claro que isto não significa que 'a administração pública funciona "pior" ou "muito pior" do que o sector privado'.
Significa apenas que as pessoas inquiridas 'acham' que 'a administração pública funciona "pior" ou "muito pior" do que o sector privado'.
Em todo o caso, é interessante pensar no recente caso dos rankings das escolas, segundo a qual os alunos das privadas surgem como detentores dos melhores resultados nos exames nacionais.
É claro: tal não significa que as escolas privadas sejam melhores do que as públicas, i.e. que o ensino nos privados seja melhor que o público, ou que o público seja pior que o privado.
O que é certo é que o tipo de gente [sejamos claros] que frequenta um colégio e o tipo de gente que vai para a escola secundária ou o ciclo lá do bairro é bem diferente.
A diferença é, sobretudo, de estrato social e de conforto das instalações.
Seria mais interessante [para não dizer útil e realista] realizar o ranking ponderando o background socio-económico dos estudantes e a qualidade das instalações dos colégios e escolas analisadas.
Digam o que disserem, com o politicamente correcto do costume, o background é 95%.
E esquece-se, por exemplo, que os estudantes do privado podem ser expulsos e atirados para o público. E não o contrário.
Pois.
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24 outubro 2007
23 outubro 2007
Leitura aumentou apenas 7% em 10 anos.
Lemos hoje no Público que 'Dez anos depois, a leitura de livros só aumentou 7 por cento'.
E desses 7% muito será light em qualidade [não só quanto ao conteúdo, mas sobretudo quanto à forma] e hard em disparate...
'Os portugueses estão a ler mais do que há dez anos atrás. Lêem mais jornais, revistas e livros, mas ainda assim não lêem o suficiente quando se compara com outros países europeus. Em dez anos, o número de leitores de livros aumentou sete por cento e o de jornais quase 20 por cento, diz o estudo A Leitura em Portugal que será hoje divulgado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do congresso de avaliação do Plano Nacional de Leitura'.
É certo que o grande boom terá sido depois do 25 de Abril, entre os anos 70 e 80/90.
Mas tendo em conta a explosão bibliográfica nos últimos 10 anos [o livro, enquanto objecto, democratizou-se, pois hoje edita-se bem barato, inclusive na qualidade -- onde já vão as edições em pele inteira, para não falar no chagris!], era de supor mais leitores...
imagem: óleo sobre tela de VIEIRA DA SILVA [1974] Bibliothéque en Feu.
Marcadores: leitura, livros, Vieira da Silva
Greve dos pilotos.
Lorenzetti não alinha no habitual argumentário de que os pilotos ganham muito dinheiro e não devem fazer greve por migalhas.
No entanto, importa reconhecer que os passageiros [e Lorenzetti é um deles] foram deixados sem o apoio devido, depois de terem pago o seu bilhete e assumido compromissos importantes numa altura do ano que não é propriamente de férias nem Natal, nem ainda sexta ou sábado.
- a TAP pertence à StarAlliance [que faz 10 anos, segundo se ouve na interminável mensagem de atendimento da TAP na sua linha de atendimento telefónico]: poderia bem beneficiar-se dessa aliança para conseguir lugares noutras companhias para passageiros apeados devido à greve dos pilotos;
- a TAP tem muitas chamadas que entopem a sua linha de atendimento. Isso é sempre assim quando há greves. E sendo previsível, não só pela experiência passada, como pela existência de pré-avisos de greve, não se percebe que não haja maior eficiência no atendimento aos passageiros, nem que seja pelo famoso outsourcing de call centers extra: não faz sentido que a IATA não imponha padrões mínimos de qualidade de serviço a este nível, nem que a TAP não tenha a elegância e competência de, por si, os ter;
- a TAP anuncia, na sua interminável mensagem de atendimento telefónico, que os passageiros devem fornecer o seu telemóvel para serem avisados de atrasos ou problemas com o voo. No último ano deixei sempre o telemóvel e em 20 ou 30 voos, nunca me avisaram dos atrasos constantes, nem agora, da greve e do cancelamento do meu voo;
- ao saber do cancelamento do voo, sou posto em lista de espera para um voo no dia seguinte [que provavelmente é mera esperança vã]. Mas porque é que não me enviam noutra companhia aérea no mesmo dia?
- não se percebe que ninguém seja responsável: a TAP porque diz que o Governo é o responsável pelas pensões e idade de reforma, o Governo porque diz que os pilotos é que fizeram greve, os pilotos porque dizem que têm direito à greve. O que é certo é que em greve os trabalhadores beneficiam [e é compreensível] de um fundo de greve. E os passageiros, como verão compensadas as centenas ou milhares de euros gastos em bilhete e taxas, em transportes, em alojamento, e os negócios ou qualquer outra coisa que perdem por não realizarem a viagem? Será o balanço económico positivo?
- e serviços mínimos? suponho que o meu voo não faça parte deles, uma vez que não vou para a ilha da Madeira...
Fica o desabafo [coisa para a qual os blogs são úteis]. Até porque os tribunais nunca terão pensado em declarar ilegais certos disclaimers de transportadoras. Suponho que o INAC apenas regule o espaço aéreo e nada tenha a ver com os passageiros. Que resultados terá conseguido o INAC nessa matéria?
Numa época em que se fala de escutas, seria interessante que se escutasse os passageiros [e se desse seguimento às suas críticas] e, já agora, que se pusesse escutas nas linhas de atendimento telefónico da TAP [sobretudo a contar os tempos de silêncio, ou de música enquanto se espera], e não só...
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22 outubro 2007
La Dolce Vita
Não me refiro ao filme, mas à vida de filme, à boa vida, que tivemos [ou alguns, dirão... alguns] no reinado de D. João V.
E falamos dele hoje porque faria anos: 22.10.1689.
Dom João V [22.10.1689—31.7.1750], João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança, Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África e antes disso
Príncipe do Brasil, Duque de Bragança, Conde de Ourém.
PS - e não, não iremos especular sobre o Convento de Odivelas e 'Madre Paula' [Paula Teresa da Silva e Almeida], que teria sido amante de D. Francisco de Portugal e Castro [Conde de Vimioso e Marquês de Valenças] e que D.João V terá 'adoptado', 'compensando' Portugal e Castro com outras duas...
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Belicosos
são não só um tipo de charuto, como uma forma de estar, como se sabe: aqueles personagens que, por tudo e por nada, arranjam conflitos, confusão.
Hoje li uma Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira que parece ser exactamente assim:
REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA
Assembleia Legislativa
Resolução da Assembleia Legislativa da Região
Autónoma da Madeira n.º 19/2007/M
Contra a política de discriminação dos passageiros das Ilhas
no Aeroporto da Portela — Novo terminal 2
Com a abertura do novo terminal 2, no Aeroporto da
Portela, perspectiva-se mais uma discriminação aos passageiros das Ilhas.
Pretende a ANA — Aeroportos de Portugal, S. A., que os passageiros dos voos domésticos das companhias nacionais que realizam voos regulares de Lisboa para as Regiões Autónomas embarquem no novo terminal 2, cujo acesso se faz pela segunda circular.
Não pode deixar-se de lamentar tão discriminadora medida, pelo facto de, apesar dos passageiros das Ilhas pagarem tarifas exorbitantes, serem obrigados a embarcar no novo terminal 2 que não reúne as comodidades a que estavam habituados os utentes destas linhas.
O novo terminal 2 não oferece as comodidades que se exigem em pleno século XXI, não tendo mangas telescópicas para acesso directo às aeronaves, não existindo um parque de estacionamento, bem como, obrigando as pessoas que se destinam a esses voos, em horas de ponta, a circular numa das vias de Lisboa com tráfego mais intenso.
E mais discriminadora e caricata se torna tal medida, quando a ANA — Aeroportos de Portugal, S. A., pretende que os passageiros que utilizem as companhias low cost
utilizem o terminal 1, apesar de pagarem tarifas de baixo custo.
Assim, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, nos termos da Lei n.º 130/99, de 21 de Agosto, resolve aprovar a presente resolução:
Solicitando ao Governo da República, enquanto entidade de tutela, e à ANA — Aeroportos de Portugal, S. A., na qualidade de concessionária, a alteração dos critérios que presidem à utilização do terminal 1 e do novo terminal 2 do Aeroporto da Portela, tendo por escopo a não discriminação dos passageiros que realizem voos regulares de Lisboa para as Regiões Autónomas.
Da presente resolução deverá ser dado conhecimento ao Presidente da República.
Aprovada em sessão plenária da Assembleia Legislativa da Região Antónoma da Madeira em 2 de Outubro de 2007.
O Presidente da Assembleia Legislativa, José Miguel Jardim d’Olival Mendonça'.
Às vezes a realidade é tão boa que nem merece comentário.
E assim será.
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21 outubro 2007
do Almocreve das Petas
Marcadores: biblioteca, livros, Torre do Tombo
Livros em grande
na décima sessão do leilão da biblioteca dos Earls of Macclesfield, na Sotheby's.
imagem: John BATE [1635] The Mysteries of Nature and Art of Water Works, of Fire Works, of Drawing, Washing, Limming, Painting and Engraving, of Sundry Experiments, 2nd ed., London: Thomas Harper
lote 349, £1,000—1,500
A fantástica oportunidade deste leilão [ou melhor, do já 10º leilão da enorme colecção da família Macclesfield] deve-se a um facto bem mais infeliz: a casa onde se encontravam foi transmitida a uma empresa [Beechwood Estates, em 1922, pelo 7.º Earl], por motivos fiscais, que tem como gestores vários membros da família Ecclesfield. O actual Earl residia nela e reservava-se o direito, por razões de privacidade, a não deixar entrar livremente todos os membros da família. Os familiares não terão achado muita graça e o 9.º Earl [Richard Timothy George Mansfield Parker, que tem apenas 1 irmão, mas deixa 3 filhos] foi expulso do castelo [tem apenas 25% da empresa], logo que o seu irmão lhe sucedeu na presidência da empresa.
Foi concedido um prazo de dois anos para o 9.º Earl deixar o castelo [a menos que pague 16,000 libras de renda, o que por ano nem é muito, dado ser património histórico e que custa mais de 100 mil por ano mantê-lo], pois habita o castelo desde 1993, aquando da morte do 8.º Earl. Para juntar à desgraça, em 1994 o Castelo foi assaltado e desapareceram bens no valor de 200,000 libras, dos quais se encontraram umas armas [espadas] em 1995/1996. O Earl deve ter recuperado o sorriso em 2ooo, ao ganhar mais de 6 milhões ao vender originais de cartas de Newton à Universidade de Cambridge.
A expulsão resultou de uma decisão judicial num processo movido pelo próprio Earl, em 2oo2.
E como é típico, não há espaço para colocar os 12 mil livros, colecção concluída e assim deixada por volta de 1750, mas que pertence ao actual Earl. O 2.º Earl, filho do Earl que comprou Shirburn Castle, era astrónomo -- o que explica por exemplo a quantidade de livros geniais sobre navegação, que atingiram os maiores valores.
O castelo, perto de Oxford, data de 1378, foi adquirido no século XVIII pelo 1.º Earl, que nele fez enormes e avultadas obras [os jardins foram desenhados por Nash] e as suas monumentais torres serviram às observações astronómicas do 2.º Earl. Hoje está totalmente vazio e quase em ruína. Aproveitemos os livros e desejemos boa sorte ao Earl [que embora não coleccione livros, juntou [!] uma das mais 'importantes' colecções de t-shirts havaianas...].
19 outubro 2007
Referendo: Petição
Petição para Referendo ao Tratado Europeu [aka Petição para que o PM / PS cumpra o seu compromisso eleitoral]
Marcadores: europa, política, portugal, ps, referendo, Tratado Europeu
Tratado rápido e silencioso.
José Sócrates, PM do PS, acaba de dar uma entrevista a Ricardo Costa na SIC.
Ricardo Costa fez as perguntas certas e obteve as evasivas esperadas:
- o referendo prometido nas eleições;
- a manifestação de 180 mil pessoas junto à cimeira europeia onde o Tratado foi aprovado;
- a perda de poderes de Portugal com o novo tratado, em particular o fim das presidências rotativas do Conselho da UE [que permitiu a José Sócrates 'brilhar' e, quem sabe, assegurar uma reforma dourada e longe de Portugal, como parecem ter conseguido Guterres, Durão e, em certa medida, Sampaio].
Como habitual, José Sócrates fugiu às questões.
Quanto ao referendo, diz que apenas decidirá depois da presidência do Conselho Europeu [!] e depois do Tratado formalmente assinado [!].
Quanto à manifestação diz que se esquece o acordo patrões / sindicatos europeus [ao que Ricardo Costa, e bem, notou que toda a gente sabia, as televisões não falaram de outra coisa ontem de manhã] quando na verdade a maior associação sindical portuguesa [CGTP] não só não participou nesse acordo, como se manifestou contra [juntando as cerca de 200 mil pessoas].
Quanto à perda de poderes de Portugal na Europa, como das presidências rotativas, apenas murmurou que poderíamos ter um presidente do Conselho [que no entanto de pouco serve, pois não pode representar os nossos interesses de forma afirmativa].
Sobretudo, não se conhece o novo Tratado, alegadamente publicado no site da Presidência Portuguesa do Conselho Europeu. Pois a versão que está lá não é a aprovada esta madrugada e que será assinada em breve. Ora onde está a transparência e a participação dos europeus? E sobretudo, se já pouco se sabia desta proposta de Tratado, aprovada à margem da opinião dos povos nacionais, menos agora se sabe, pois o pouco que tinha sido divulgado foi alterado.
Pior: continuará secreto até assinado, e a ratificação esperada até ao final do ano. Sócrates reduziu pois o tempo para um referendo e já tem a concordância do PSD e de Cavaco Silva para não haver referendo. Se alguém tinha dúvidas quanto à mentira e questão ética no caso da licenciatura na Universidade Independente, confirmará agora, com a recusa em referendar algo como prometido em eleições.
Quais os interesses defendidos por Sócrates e pelo governo PS, se defendem um Tratado que faz Portugal perder peso, e que cede ao dumping social, arrastando a Europa numa concorrência disparatada a nações subdesenvolvidas e sem respeito pelos direitos humanos, fazendo os portugueses perder direitos sociais em vez de criar condições para que haja esses mesmos direitos para os países que não os têm e que só por isso produzem mais barato, concorrendo assim [deslealmente] com a Europa?
A desculpa de Sócrates que tem de haver reformas que respondam à globalização é, no essencial, uma treta.
Ou falta de inteligência e visão, ou traição à pátria.
Porque implica, desde logo, que Portugal e a Europa cedam em pontos fundamentais como os nossos direitos constitucionais e sociais.
Em vez de ser líder, Sócrates deixa-se levar.
E pior, leva-nos e ao país, com ele.
Pena não o podermos acompanhar na reforma. Não dos Tratados, mas na sua.
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Portugal no seu melhor.
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Ronaldo e o seu 'ar rufia e suburbano'.
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'Porreiro, pá!'
[audio-link MP3 do Público]
Tão inimigos que nós éramos...
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Escutas do processo Portucale...
'O SOL publica as escutas do caso Portucale, que revelam como Sócrates propôs a demissão do PGR'
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G8 , Lisboa e o Tratante
A cimeira europeia desta semana em Lisboa fez-me recordar o G7 / G8, em particular o contexto em que se realiza: alta segurança, protestos mesmo ao lado, aprovação de matérias pelos eleitos não discutidas [nem sequer dadas a conhecer] pelos eleitores.
Regressa pois o famoso défice democrático da UE: aprovou-se um tratado que ninguém conhece senão os que o redigiram e aprovaram. E graças ao método neo-socrático, foi tudo rápido, embora não necessariamente indolor ou limpo. E claro, Sarkozy parecia padecer do mesmo mal que no G8, desta vez ao chegar às 17h, quando sai do carro cambaleante e chega a afagar o rosto de Sócrates...
Como referia o DN de hoje à meia noite e 45 mins, 'Após um dia inteiro de negociações no Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, em Lisboa, os dirigentes celebraram com champanhe o novo documento que irá substituir a fracassada Constituição Europeia, rejeitada por referendo em França e na Holanda em 2005. A decisão hoje alcançada vem culminar um processo iniciado em Junho pelos 27 e é já considerado um dos acordos mais rapidamente aprovados na história dos Tratados da construção europeia.'.
E assim acontece: se os eleitores dizem não, dá-se um retoque e apresenta-se outra vez: água mole em pedra dura...
Não é novidade: todos se recordam dos referendos consecutivos até obter sim.
Vamos ver agora como corre a ratificação. Se com referendo [prometido pelo PS e José Sócrates] ou se sem referendo.
Em qualquer caso, parece ser sem conhecimento popular. O que é problemático, pois quem não deve não teme.
Sócrates e o governo PS engoliram, no entanto, o pseudoargumento do papão comuna: afinal, Sócrates [e não Guterres, Cavaco, Durão ou Soares] apanhou com a maior manifestação de protesto popular que a nossa democracia conheceu nos últimos 20 anos: além das vaias às quais já se habituou -- 'juntou 200 mil nas ruas - números confirmados pela polícia e que superaram todas as expectativas. Debaixo de um calor muito intenso para um mês de Outubro,' diz o DN.
É difícil acreditar que aquelas 200 mil pessoas fosses comunistas... Em qualquer caso, não foram só elas a protestar: também os donos de restaurantes e bares no Parque das Nações protestaram: foram obrigados a fechar por uns 2 dias por causa da cimeira e não receberam da UE ou do Governo português um tostão pelo lucro perdido... 'sue me' terá sido a resposta.
No Público é interessante a referência a Gordon Brown, que está neste momento abaixo dos conservadores nas sondagens [e que não foi eleito, mas 'nomeado', na sequência da fuga de Blair depois do escândalo 'Cash for Honours']: 'Quem se depara com um processo mais complicado é o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que teve de passar muito tempo a explicar que o tratado não é uma constituição, recusando por isso levá-lo a votos. Mas a oposição está a exigir uma votação popular e o primeiro-ministro preparar-se-á, segundo o diário "The Times", para três meses de discussão parlamentar em que espera convencer os eurocépticos de que o texto respeita o interesse nacional britânico e que é demasiado técnico para ser referendado'.
Lê-se ainda no SOL que 'Ao contrário do PSD e do CDS-PP, o PCP, o BE e Os Verdes não felicitaram o acordo alcançado na Cimeira de Lisboa sobre o novo tratado. «A história deu um passo à frente e os senhores ficaram para trás», reagiu Augusto Santos Silva'.
Não Senhor Ministro... Portugal ficou para trás.
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18 outubro 2007
Monárquico e antifascista.
Estas expressões, verdadeiras tags / etiquetas, são contraditórias para muitos.
João Camossa, falecido hoje, era além de advogado, monárquico [fundador do PPM, em ruptura com a Causa Monárquica] e antifascista, tendo mesmo sido preso e torturado durante o regime de extrema-direita que marcou Portugal entre 1926 e 1974.
O Público refere uma verdadeira peculiaridade: 'João Camossa foi um dos raros advogados portugueses que, durante o exercício da profissão e em plena barra de tribunal, passou, em circunstâncias insólitas, de advogado a réu, num julgamento presidido por Almeida Moura'.
O seu legado permanece, em particular a compatibilidade teórica [pois não se conhece realidade semelhante] que propôs entre respeito pelos direitos humanos e democracia de esquerda e um regime político monárquico.
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16 outubro 2007
Referendo à Europa.
Promessa eleitoral de Sócrates e governo PS, já ninguém parece acreditar num referendo à Europa, que também não existiu na adesão nos anos 80.
Desta vez seria um referendo ao Tratado e em particular não ao seu texto em geral, mas ao modelo de governo das instituições europeias, aos princípios fixados no Tratado, e ao nosso futuro.
Se a Europa é de cidadãos [e não de Estados], onde até há eleições europeias, não se percebe que não seja dada voz aos portugueses.
Em primeiro lugar, porque, precisamente, é uma Europa de Cidadãos, e não uma mera associação de Estados.
Segundo, porque era uma promessa eleitoral sem condições. E não a cumprir é alinhar pela mentira, falta de lealdade aos portugueses, e falta de condições para continuar a governar o país.
Terceiro, porque é de esperar que nos últimos 20 anos os portugueses tenham aprendido algo sobre a Europa de que fazem parte, e portanto não vale mais o argumento, dos anos 80, de que os portugueses nada sabiam.
Quarto, e mais importante, porque a ignorância não pode ser desculpa para a retirada do direito de voto. O que sabem os portugueses sobre os partidos e pessoas em quem votam? E não têm direito de voto?
Negar o referendo e o voto dos Portugueses à Europa é pois assumir que se lhes mentiu nas eleições legislativas, e sobretudo chamar-lhes estúpidos.
É assumir que nada sabem sobre a Europa e o que querem para ela e pois para si mesmos.
Ora se assumirmos isso assumimos também que nada sabem de assuntos nacionais: o que sabem os portugueses de economia, direito, finanças, ciência, educação, defesa, energia, turismo, negócios estrangeiros, administração interna? Tão pouco ou nada.
Mais valia então acabar com o direito de voto e atribuí-lo 'a quem sabe', não? Chama-se a isso aristocracia.
E é o que parece querer-se fazer agora, pelo menos quanto ao Tratado Europeu / União Europeia, como desculpa para não a referendar.
Quem não deve não teme, e se Sócrates tem medo de que o resultado do referendo seja contrário à sua opinião pessoal, tem mais uma razão para o fazer e das duas uma: conformar-se com a opinião dos portugueses ou arranjar um emprego e convocar eleições.
Quanto à oposição, nada menos se espera do que uma moção de censura, e a ponderação do chumbo do próximo Orçamento.
A queda do Governo não seria uma causa de crise. Essa já chegou. Seria uma consequência natural.
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A histeria dos 3%
A crítica da equipa Gato Fedorento não é novidade: o histerismo em torno dos 3% e aquilo que tem parecido a quase redução da política económica europeia a isso é já conhecida, e por arrasto [ou arrastão, remember?] a política orçamental do PS e do PSD.
O inovador foi o sketch do Gato Fedorento sobre os efeitos dos 3%. E as razões para [não] o festejar, pois não é propriamente um mal maior, nem dele parecem advir quaisquer vantagens. até porque já se percebeu que um défice de 3% não é propriamente razoável para todos os países europeus [que têm economias e vidas diferentes] e sobretudo não o é para todos ao mesmo tempo. E se França não o conseguiu e obteve uma moratória, porque não fez Portugal o mesmo? Porque o Governo achou, como habitual, que temos de dar o exemplo [a estupidez não mata, mas a teimosia sim] e para variar andamos a vender-nos [oferecer-nos] ao estrangeiro que, sem o fazer, nem sequer repara nisso. Mas os políticos portugueses que têm passado pelo Governo assim o fazem: o que 'é estrangeiro é bom e assim deve ser'. Este rebaixamento além de imoral é desnecessário e sobretudo errado. Porque como se percebeu não leva a lado nenhum.
Tal como os recentes políticos dos EUA usam a desculpa do terrorismo para as políticas mais doidas, o PSD e o PS, desde o 'discurso da tanga', usa a desculpa do défice, assente basicamente no facto de termos de cumprir uns 3% que a Comissão Europeia manda.
Portugal tem de deixar de ser o 'amigo que diz sempre sim', o parvo do grupo, para ser ou um líder ou [mais realista e desejável] o membro que está no grupo conquanto este lhe seja favorável e vantajoso. Senão ou muda de grupo ou passa a governar-se de modo independente. Os ingleses [e mais recentemente os polacos] têm sido assim -- os ingleses nem à moeda única aderiram -- e portanto o precedente já existe.
Além da famosa liberdade de circulação na UE e de uma moeda que nos evita câmbios, e [em desejo] mais forte que o escudo, a vantagem maior que se tirou da UE foram os fundos estruturais. Mas até isso falhou: com a conhecida corrupção deste sul da Europa, muitos dos fundos foram para Ferraris do Norte e coisas do género. Ou para umas estradas cuja manutenção agora temos de aguentar seja em SCUT ou em portagens estupidamente caras e de 5 em 5 minutos. Com o alargamento, os fundos acabaram... porque supostamente há Estados 'ainda mais pobres que nós'. Perguntamo-nos agora que vantagens há que compensem esta histeria dos 3%. o que recebemos em compensação do sacrifício dos 3% e dos 'danos colaterais' como o desemprego [e quer o Governo mais natalidade...], subidas de impostos, redução do investimento público, privatização de empresas lucrativas, mentiras como a promessa eleitoral de um referendo europeu, etc. etc..
Há quase 10 anos que andamos a apertar o cinto. Os portugueses estão a demorar a perceber esta fraude do défice, mas acabarão por fazê-lo. E não gostaria de estar na pele do PS nem do PSD [e sobretudo não na pele dos portugueses que acordam] nessa altura.
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Santana... reloaded.
Pois é, no estado em que os últimos partidos e governos têm deixado Portugal, tenhos vivido de 'reedições', da mesma forma que o mundo musical diz que o 'old school is the new school'.
Lorenzetti é too cool for school e não liga nenhuma.
Aliás acha mais piada aos reloads na política, como o caso recente [e bem rápido] de Santana Lopes. Já aqui se falou dele, por várias vezes. Basta fazer uma pesquisa no campo 'Search' no canto superior esquerdo da 'capa' do blog.
E desta vez, Santana liderará o PSD no Parlamento sem especial intervenção de Menezes que, como se sabe, não só não é deputado -- não podendo pois sentar-se na bancada parlamentar do PSD, sobretudo para as deliciosas questões ao Governo -- como não tem tanta experiência política como Santana.
Pode-se discordar do estilo e apurar algum vazio de conteúdo [sobretudo cultural] em Santana. Não pode é confundir-se [ou desculpar-se] isso com juventude: Santana é já um histórico do PSD, embora não pareça. E é essa experiência que justifica os seus bons truques de cintura, sobretudo no jogo mediático. A sua saída da SIC, há dias, foi genial.
E é interessante o putativo regresso de Santana, que tem, não tenhamos dúvidas, 'unfinished business' com o país e alguns dos seus políticos [o caso de Jorge Sampaio é flagrante].
Santana mantém a tese: foi censurado e expulso da presidência do conselho por um presidente socialista que aí viu a oportunidade. Seria interessante ver como seria Sampaio presidente com Sócrates no governo... A situação inverteu-se. Hoje o PR não diz mata e o PM esfola. É o PM a esfolar e o PR a aplaudir, com o silêncio de quem sabe que no cargo em que está, estar calado é a melhor maneira de não fazer asneira.
A dificuldade de Santana é clara: vai ser difícil uma 'vingança' apenas no Parlamento. Santana terá certamente -- e caso nada lhe aconteça até lá -- o desejo irresistível de se candidatar à Presidência da República [a concorrer com Marcelo e Sócrates, depois de um segundo mandato de Cavaco?] ou à 'Presidência do Conselho'. E para o segundo caso, Menezes teria de ficar de fora [o que é fácil pois pode cair entretanto sem que ninguém ligue].
E essa incerteza vai ser difícil de gerir.
Com Costa numa CML alegadamente falida, com Sócrates no Governo e Cavaco a representar o país no estrangeiro e um parlamento iníquo e oposição quase inexistente, acho que vou continuar uns tempos como 'emigrante'. Desde logo, não tropeço na 'calçada portuguesa' nem caio num dos seus famosos buracos, bem mais graves que o orçamental.
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14 outubro 2007
Advogados em 'grandes sociedades'.
As 'grandes sociedades de advogados' em Portugal têm o tamanho que têm, tendo em conta o tamanho do país: enfim, a maior tem uns 200. E injustamente, é referida como 'a sociedade do Júdice' que não é, sequer, o seu fundador histórico.
Outros detalhes escapam.
O último foi no Expresso de 13.10.2007, com a reportagem sobre a Abreu Advogados, na p.13 do suplemento económico.
Sob o título 'Abreu chega ao top 5 com processo de fusão', fica-se com a ideia -- que o texto do artigo parece confirmar -- que a Abreu é uma sociedade emergente, pequena, que sobe, funde-se, cresce e vinga.
Não é necessariamente assim.
Um projecto nascido há umas poucas décadas [como de resto todas as sociedades congéneres à excepção da velhinha Gonçalves Pereira, já ultrapassando a terceira geração], a Abreu que agora se funde, foi uma Abreu que cindiu.
Resultado da mais famosa ACA, a Abreu, Cardigos e Associados. Teixeira de Abreu e Pedro Cardigos dos Reis terão encontrado 'diferenças de estratégia' [expressão do momento] e cindido a sociedade. Passou a existir Abreu, e o grupo de Cardigos juntou-se à ANBM que passou a ser a ABBC. Qualquer advogado sabe isto. Mas o Expresso não o disse.
Embora tenha dito de que sociedades vieram os novos sócios da Abreu e tenha tocado na questão da Mullerat: 'Chastre&Associados, que sucedeu à sucursal portuguesa da espanhola Mullerat']. É verdade. Porque a Mullerat nem se cindiu: desapareceu em Espanha em Maio de 2oo6 e consequentemente em Portugal. Cada sócio foi para seu lado e Leonor Chastre, que coordenava o escritório lisboeta da Mullerat, tornou-se independente. Hoje, junta-se à Abreu, da mesma forma que outros foram para a Baker&McKenzie, a Cuatrecasas, a Gómez-Acebo & Pombo, a Jausas, a KPMG,ou a Iurisvalls.
Isto para dizer que é falsa a tendência unilateral de fusões nas sociedades de advogados.
É certo que se fundem várias sociedades. Mas essas sociedades têm um passado [e terão um futuro] que passa também por cisões e outros eventos que tais. a incerteza é bem maior do que parece, com um impacto enorme nos advogados que fazem parte da sociedade, mas que não são sócios, ou seja, a sua grande maioria.
Expresso
Esta semana [13.10.2oo7] o Expresso está de parabéns por alguns dos conteúdos. Destacam-se:
- uma reportagem sobre o risco de terramoto [parece que não aprendemos nada com a nossa própria história, com um terramoto que nos lançou para a cauda não só da Europa, como do mundo]: 'enquanto nós perdemos ânimo político para prevenir o sismo, as placas tectónicas vão acumulando mais energia': pp.25-25;
- uma reportagem sobre uma consequência imediata e muito grave da actual crise económica e política em Portugal: a subida dos preços dos alimentos básicos [ver LorenzettiCome], a descida do IVA apenas em alguns produtos manhosos de fastfood e portanto o encorajamento ao seu consumo, e a existência de 50% de portugueses adultos com excesso de peso: p.26;
- um artigo sobre a incapacidade do Governo PS para combater o desemprego: p.5;
- uma reportagem sobre o OE2oo8 e em particular as verbas para cada ministério, que provavelmente não irão chegar [a Cultura não recebe quase fundos [o pior de todos, com 245.5 milhões, sendo que as Finanças e Administração Pública recebem a maior fatia do bolo, 18.406 milhões, seguidos pela saúde apenas com 8645 milhões]: p.4;
- uma coluna de Miguel Sousa Tavares questionando qual a razão das queixas de Catalina Pestana quanto a actuais abusos na Casa Pia, sendo ela a principal responsável pela instituição, como Provedora, o que obviamente a torna, então, culpada: p.7;
- a subida louca de processos contra sindicalistas na vigência do actual governo: p.8;
- um artigo sobre as 'vaias, apupos e insultos' ao PM José Sócrates na Covilhã, sua terra natal, sob o título 'A democracia é uma festa' e o comentário do PM 'uns protestam e outros aplaudem': p.8;
- uma crítica ao PM José Sócrates, que acusa os seus críticos de serem comunistas [como já faziam os ditadores mais clássicos do século XX]: p.18;
- o artigo sobre Angola e o seu traço imperialista sob Eduardo dos Santos: p.34;
- a simpática referência ao leilão da Leiria e Nascimento, onde Vieira da Silva bateu os records de quadros leiloados em POrtugal [mesmo Malhoa?!]: p.48.
E isto só o 'primeiro caderno'.
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A REN e os 'moradores'.
Já todos sabemos da famosa história das linhas de muito alta tensão da REN, que passam junto a casas de pessoas que, pelo que se percebe, têm vindo a morrer com cancro e outros mimos do género.
Este é provavelmente um em muitos casos. E não é só com a REN: é com outras construções do género. É a 'grande festa da patobravice', o caos urbanístico tipicamente do Portugal pós-1960.
Não que antes se construisse muito bem -- sobretudo no campo, não se construía. Vivia-se em, chamemos-lhe, 'cabanas de pedra'. O que acontece é que no pós-1960 construiu-se à bruta, sem critério. Não bastava quantidade, era preciso qualidade. Mas nada.
A REN, chefiada por um indivíduo do PS, actualmente no governo do país e de Lisboa, e com maioria no parlamento, é um político de CV para mim duvidoso.
Não é raro: relembremo-nos de Celeste Cardona [ex-ministra do CDS] ou Armando Vara [ex-ministro do PS afastado com o escândalo da famosa Fundação para a Prevenção e Segurança, mas confortavelmente recolocado na CGD], cujo CV empresarial é nulo tendo em conta que hoje estão na administração do maior banco português, a CGD].
Como referia o DE, Penedos foi nomeado pelo PM himself: A manutenção de José Penedos à frente dos destinos da Redes Energéticas Nacionais (REN), cujo mandato tinha terminado em Dezembro passado, já está confirmada. Segundo o Diário Económico apurou, o convite partiu do próprio primeiro-ministro, José Sócrates. Os restantes administradores, diz a notícia, é que não ficaram... e a coisa não foi pacífica, como se lia no Expresso na altura, e Catroga [também PS] foi para presidente da mesa da AG: 'Há quem afirme, no entanto, que o objectivo final era afastar Henrique Gomes e Paulo Pinho, tidos como próximos do ex-ministro da Economia Carlos Tavares e, por isso, uma espécie de «personas non gratas» para o ministério da Economia. Refere-se mesmo que o próprio nome de José Penedos teria sido colocado em causa, mas a sua força dentro do Partido Socialista e as suas competências técnicas teriam inviabilizado a sua substituição. Sobretudo, acrescenta a mesma fonte, seria desaconselhável substituí-lo a meses da dispersão em bolsa do capital da REN. A composição da administração da REN assume actualmente especial relevância justamente devido à aproximação da entrada da empresa no mercado de capitais, de forma a não causar nenhuma turbulência que possa vir a afectar a operação. Esta é também a razão para o assunto ser tratado com grande discrição pelos ministérios da Economia e das Finanças'.
POis é, a turbulência chegou, derivada da acção da própria REN, que agiu mal. Não só ao construir linhas de muito alta tensão perto de habitações, como na forma trapalhona e tola como se defendeu, através de José Penedos.
Penedos disse ao Diário Económico que 'Não há evidência da relação causa-efeito entre o transporte de electricidade e problemas de saúde humana'.
Como é evidente, não é preciso ser muito inteligente para perceber que da mesma forma, não há provas que não haja uma relação causa-efeito entre o transporte de electricidade e problemas de saúde humana.
E havendo risco aplica-se o princípio da prevenção: não se constrói; ou constrói-se debaixo do solo; ou compram-se as casas e terrenos, que deixariam de ser habitados.
Quanto à construção subterrânea, Penedos disse que 'As populações afectadas pela passagem das linhas afirmam-se dispostas a negociar com a REN a alternativa de enterrar a linha de muito alta tensão.
Solução que para José Penedos só resolve o problema visual. Se fizesse mal à saúde, o que não está provado, continuaria a fazer mal debaixo da terra', acrescentou'. Peculiar...
Entretanto, e à margem da questão das linhas e da população, o problema continua: o governo pretende vender a REN aos privados, e ficar com uns meros 20%, ou seja, sem o controlo da empresa. Por razões de segurança nacional [?] temos forças armadas em Portugal. Um suposto exército.
Mas pelos vistos não nos preocupa -- pelo menos ao actual governo -- perder o controlo da rede energética nacional [REN]: referiiu o DE que 'Ao falar à margem da sessão de apuramento de resultados da privatização de 24% da REN (19% do Estado e 5% da EDP), José Penedos afirmou, citado pela Lusa, que "a procura identifica países com uma profundidade de acções da REN que não estiveram no mercado e que deverão estar numa próxima oportunidade".
"É o accionista Estado que fica solicitado por esta procura a vender mais acções numa próxima oportunidade", sublinhou.
"Gostava que a próxima tranche a ser colocada no mercado fosse tal que a REN ficasse equiparada com a sua congénere espanhola, que só tem 20 % do capital do Estado", afirmou José Penedos.'
Chamam a isto rigor...
Marcadores: governo, José Penedos, José Sócrates, política, ps, REN
Sócrates e a sua polícia.
Continua o crescendo mediático sobre o PM José Sócrates, do PS, a quem já nenhum spin-doctor parece valer.
Nem mesmo tácticas como a referida no Eixo do Mal de 13.102oo7 segundo a qual detalhes do Orçamento de Estado apresentado na sexta-feira teriam sido 'libertados' pelo Governo ao longo da semana, para entreter e distrair os portugueses, cidadãos e eleitores, da escandaleira da Covilhã, onde mais uma vez -- e nesta vez na cidade onde o próprio Sócrates nasceu e estudou, e onde o PCP tem baixa votação -- Sócrates foi vaiado, e desta vez apelidado já de fascista.
A melhor resposta que Sócrates e os seus spin-doctors -- que claramente já sabiam da manifestação -- arranjaram, foi esta: 'o primeiro-ministro disse que'a democracia faz-se assim: há quem aplauda, há quem assobie' [Público], negativa, difusa, tanto faz. Além de fraca, esta resposta tem um risco: a de dar a ideia -- correcta ou não -- de que o PM está-se nas tintas para a opinião pública: positiva, negativa, difusa, tanto faz.
O que é certo é que a PSP esteve, à paisana, num sindicato que nem sequer participava na manifestação, e terá retirado material do dito sindicato.
Não se percebe então porque é que o processo disciplinar não teve seguimento. Ou é normal? É que se for [e parece, com a notícia 'Governo Civil de Castelo Branco diz que visita da PSP a sindicatos é procedimento de rotina'], o caso é mais grave: porque se os polícias em casa não são responsáveis, é a sua tutela. De acordo com o Público, houve 'reacções por parte do Sindicato dos Profissionais de Polícia, que considerou que a PSP está a ser "o bode expiatório da hostilidade dos sindicatos para com o primeiro-ministro'. Pois é, a polícia também tem um sindicato [e nesse pode entrar à vontade].
Não se percebe. Se a PSP é inocente, o que fazia dentro do sindicato e à paisana? Tomava chá?
Ou representava o seu próprio sindicato e também ia manifestar-se?
Pois é. Uma história mal contada. Estilo JFK, Camarate, Al Qaeda ou Casa Pia. O costume. Tentemos lembrar-nos dela nas próximas eleições. Eu vou.
Marcadores: Covilhã, governo, José Sócrates, primeiro-ministro, ps, PSP, sindicatos
O Tratado Europeu... também reloaded.
O que as crianças têm de mais adorável é a insistência na palavra 'porquê'.
Paulo Sande, comentador televisivo habitualmente sobre assuntos europeus e agora director do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal 'salienta que o Tratado Constitucional e o Reformador são distintos, qualitativa e quantitativamente'. Assi acontece na página 44 do jornal Expresso de 13.10.2oo7.
Em três colunas, o autor defende a proposta actual de tratado europeu, utilizando inúmeros argumentos políticos gerais, sem no entanto descrever o seu conteúdo.
Recorre, desde logo à comparação da versão anterior e da actual versão de proposta de Tratado através da comparação do DNA do homem e do chimpanzé...
Dá-me vontade de rever 'Wag the Dog' / 'Manobras na Casa Branca', o filme que veio, precisamente, como oferta com a edição do jornal, Expresso, em que foi publicado o artigo que aqui se comenta.
Essencialmente, como leitor, vejo nesse artigo propaganda pela actual versão do texto, numa ânsia de aprová-lo.
Percebe-se, em parte esta abordagem: como membro de uma instituição europeia, quer sensibilizar a população para a aprovação de um texto que a instituição entende como parte da sua evolução.
Fá-lo, no entanto, por comparação uma proposta anterior, e não quanto ao mérito da actual proposta.
E sem descrever o seu conteúdo: defende-se uma proposta de Tratado sem falar do seu conteúdo, o que é estranho, desagradável e inútil.
Porque quem não deve não teme. E quem é responsável e aberto comunica claramente aquilo que pretende e porquê. Percebe-se, é certo, que se pretende a aprovação de um novo tratado. Mas importa perceber quais as vantagens e desvantagens. E para isso, é preciso apresentar de forma fiel, total e clara o seu conteúdo. E discuti-la previamente à sua propaganda e aceitação.
Recorde-se uma das frases lapidares no mesmo artigo sobre a nova proposta: 'para aqueles que gostariam de ver reforçada a transparência, a legitimidade e a eficácia da UE, ele é até pior [...] com este tratado, terminou a aventura constitucional e adopta-se uma mera revisão dos Tratados originais, como em Maastricht ou Nice'.
Seria bom perceber porquê. Mas nisso, o artigo nada diz.
Apenas acaba na mesma lógica dos neocons norte-americanos de 'preservação do estilo de vida', tão típico do argumentário pró-militar, e pró-ingerência, sobretudo no médio oriente: 'é o mínimo a que podemos aspirar para assegurar o futuro da Europa. E dos povos europeus'.
Então e porquê?
Mais uma vez, o autor nada diz.
Marcadores: Comissão Europeia, eua, europa, Manobras na Casa Branca, Paulo Sande, Tratado, Tratado Europeu, Wag the Dog
Casa Pia reloaded.
O regresso da 'famosa' Catalina Pestana não é surpresa, pelo menos tão grande como o seu próprio nome.
Com efeito, já se esperava, mais uma vez naquilo que parece ser uma tentativa típica de testemunha que não quer passar a arguida.
Todos se recordam das famosas expressões como 'os meus meninos'.
Se seus, importa perceber o que andou a fazer desde que é Provedora, uma vez que agora parece dizer que ainda há abusos sexuais na Casa Pia. Se sob a jurisdição isso não faz dela suspeita?
Como já era suspeita, creio, antes de ser Provedora. Pois quando chegou ao cargo, recorde-se, foi na sequência de longos anos como funcionária da Casa Pia. Precisamente a época dos abusos que têm sido investigados e julgados agora.
Ora se sabia deles e não os denunciou na altura, e nem sequer saiu da organização [tendo até chegado a Provedora, o que demonstra o seu percurso alegre na instituição e beneplácito dos colegas que agora acusará] isso não a torna minimamente suspeita?
Tal como seria, por exemplo, Teresa Costa Macedo, da qual nunca mais se falou.
Pois a relação de ambas com a Casa Pia era bem maior do que a de Paulo Pedroso ou de Carlos Cruz. Disso não tenhamos dúvidas.
Afinal as crianças estavam à sua guarda, e o que quer que lhes tenha acontecido é da sua responsabilidade.
Tipo caso McCann...
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13 outubro 2007
Modalisboa estoril, que afinal é em cascais...
A CP preparou um plano de transporte, integrado no serviço regular, onde a carruagem da 'ModaLisboa|Estoril (a terceira a contar da frente) irá “desfilar” durante os quatro dias entre Lisboa e Cascais, adicionando mobilidade a este acontecimento social, económico e social.'
[extracto do site ModaLisboa, na parte sobre o comboio da ModaLisboa]
Assim é, até porque foi 'estrela' na festa de hoje, sexta, no Farol Design Hotel, a 'famosa' 'Lili' Caneças. Com muito Möet [que rapidamente se tranformou em Murganheira] e sushi do belo Sushimoto.
E assim vai Portugal. E sim, estive lá, por isso não digam que faltei por snobeira. Em boa verdade estava lá antes da festa, tinha ido tomar um copo ao bar... Deixei e ir à ModaLisboa pelo seu toque menos fashion e mais pseudo-socialite / wannabe gay VIP or something.
Acabei no Cocos, sinistro. Saímos uns 5 minutos depois de entrar. Passados por uma pista cheio de pitas histéricas com um grupo qualquer de reggae e por uma 'zona VIP' com 5 gatos pingados.
E boa noite. Para quem tiver conseguido.
Marcadores: Cascais, Coconuts, Farol Design Hotel, Lili Caneças, moda, Moda Lisboa
12 outubro 2007
O fim da Ordem dos Advogados?
Um wishful thinking? Assim parece tendo em conta o texto enviado pelo candidato a Bastonário da Ordem dos Advogados Magalhães e Silva:
'[...] hoje, cerca de 60% dos advogados têm entre 25 e 35 anos; e largos extractos desta advocacia jovem nem se revê na Ordem, nem lhe encontra qualquer serventia.
[...]
é esta geração quem, nos próximos 30 anos, está na crista da onda. Se o modelo de Ordem não for o dela, o plano inclinado é garantido e o fim da Ordem, auto-regulador da profissão, será certo'
Este discurso tem um risco: a concordância [que abordámos aqui noutra ocasião], que para a Ordem dos Advogados seria suicidária.
[ler aqui o texto completo]
imagem: Sean SCULLY [1996] Five Unions #2
Marcadores: advocacia, advogados, bastonário, Ordem dos Advogados, regulação
Tiques autoritários.
Tem sido assim a caracterização geral do actual governo PS, chefiado por José Sócrates, feita pela imprensa e o 'public eye'.
É interessante porém, face a esta 'classificação', ler esta parte inicial de um decreto-lei publicado hoje no Diário da República, sobre reconhecimento em Portugal de graus académicos estrangeiros:
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
Decreto-Lei n.º 341/2007 de 12 de Outubro
A mobilidade das pessoas e das ideias está na base das
sociedades e das economias do conhecimento.
Superar atavismos corporativos e ilusões de auto-
-suficiência é exigência do País neste momento de desafios
e de oportunidades.
Nem mais.
Sublinho a parte 'superar atavismos corporativos' [que podemos ler até como partidários ou governamentais] 'e ilusões de auto--suficiência'...
imagem: capa da Chiquilín uma revista espanhola, este número de 1924.
11 outubro 2007
O Governo controla a PJ?
É esta a infeliz pergunta que os portugueses farão uns aos ouros depois de saber que os resultados dos testes de ADN no famoso caso McCann 'dificilmente chegarão à PJ esta semana, como apurou o DN, já que, por questões diplomáticas, terão de ser enviados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico para o congénere em Lisboa, que por sua vez os enviará para o Ministério da Justiça. Só depois serão libertadas para a PJ'.
Assim o diz o DN de hoje.
Mas quais razões diplomáticas? Os resultados serão conhecidos pelo Governo antes da PJ ou serão transmitidos apenas, e a PJ os abrirá e lerá? A resposta a estas perguntas não foi dada juntamente com a notícia de que a PJ não os receberia directamente. E é isso que põe os portugueses a pensar se -- na onda dos famosos tiques autoritários do governo PS / Sócrates [ao qual alguns já chamam o 'regime'] a polícia foi secundarizada, como mero instrumento governamental. Ou como 'instrumento do regime'.
E isso, verdade ou mentira, não augura nada de bom.
foto: Watson&Crick, os 'descobridores' da estrutura molecular [a dupla hélice] do ácido desoxiribonucleico, vulgo ADN.
Marcadores: governo, José Sócrates, Madeleine, McCann, PJ, ps
Aeroporto de Lisboa em pausa.
Sempre que passo pelo aeroporto de Lisboa, lá apanho com o cartaz horroroso a dizer 'La Pausa', um café qualquer daquele aeroporto.
Já bastava ter a feira da Andaluzia no parque Eduardo VII, em cima do Marquês de Pombal, centro da capital e Portugal, a fazer propaganda turística a Espanha e, basicamente, a mandar portugueses e turistas para Espanha. Percebe-se do ponto de vista espanhol, país com o qual tenho óptima relação [tendo até feito parte de programas de cooperação entre os dois países]. Mas do ponto de vista português, não só dada a história mas sobretudo a concorrência turística portuguesa com Espanha e a ideia, que muitas vezes passa em muitos países, que Portugal é parte de Espanha, ou algo do género, fazer publicidade à 'Andalucía' no Marquês de Pombal [e não sequer a Espanha no seu todo] parece ridículo. E nem iremos falar do facto de a residência do embaixador de Espanha em Lisboa ser um antigo palácio real [ainda que dos 'ilegítimos'].
Voltemos ao 'La Pausa': simplesmente isto -- nome bem estúpido [não vejo outra configuração menos deselegante, pois a ideia e o café nada de elegante têm] para um café em Portugal, de um aeroporto português e não espanhol, argentino, mexicano, peruano, guatemalteco ou outra coisa do género. Não há problema nenhum em haver cafés espanhóis. Mas há problema quando se dá um nome espanhol a um café português de um aeroporto português, que deve ser, à sua medida, um estabelecimento que mereça alguma atenção do ponto de vista da imagem / diplomacia. A imagem do país está em jogo. E, no limite, a sua independência. Ou a queremos, ou não. É por desprezo a estes detalhes que continua tudo na mesma desde os descobrimentos. Perdão: está pior.
imagem: metro de lisboa [os governos insistem em TGV, estádios e até aeroportos, mas não souberam em décadas ter uma estação de metro no aeroporto. Serão todos filhos de taxistas?]
10 outubro 2007
Construção em Portugal.
Lê-se hoje na capa do Diário Económico que 'Construtoras só investem no país com pacto PS/PSD'. 'O pedido de Sócrates para que as maiores empresas de construção apresentem grandes projectos foi recebido com condições: só com um pacto de regime'.
É pena que sejam só as 'grandes construções'. De patos bravos estamos nós fartos.
Porque grandes ou pequenas, tendo em conta a qualidade e quantidade de construção / betão em Portugal nos últimos 50 anos, mais valia ficarem mesmo paradas.
O ambiente e o bom gosto arquitectónico, urbano e paisagístico agradeceriam.
E, claro, os prédios construídos há mais de 100/200 anos -- esses sim, belos e bons na sua maioria -- e a precisar de recuperação.
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09 outubro 2007
Tratado para a Europa
está finalmente disponível ao público o texto do projecto de Tratado Europeu, que pode ser consultado aqui.
Lorenzetti espera pronunciar-se sobre o mesmo em breve [e espera desde logo que o 'Tratado' não seja outra vez a 'constituição', mas sob outro nome...] e convida os leitores a ler o projecto e ter uma opinião sobre ele, seja de SIM ou de NÃO.
E de preferência, de SIM a um referendo.
É certo que é preciso uma reforma das instituições europeias. Mas é preciso perceber se este tratado corresponde a essa reforma, à reforma certa, e não a outra coisa qualquer.
Marcadores: Comissão Europeia, europa, TCE, Tratado, Tratado Europeu
Oh-la-la.
A Comissão Europeia multou a Visa em 10 milhões e 200 mil euros por recusar a admissão da Morgan Stanley como membro.
A recusa da Visa contraria o acordo europeu contra práticas restritivas [Art. 81 do Tratado CE e Artigo 53 do Acordo AEE, visto que a Visa, entre Março de 2ooo e Setembro de 2oo6, recusou admitir a MS sem apresentar ma justificação objectiva.
Marcadores: Comissão Europeia, concorrência, Mastercard, Morgan Stanley, UE, Visa
06 outubro 2007
O Milagre das Velas.
O Gato Fedorento, Mr. Bean ou qualquer outro, não têm piada nenhuma comparados com Luciano Guerra. E quem é ele?
Numa entrevista publicada hoje no DN, o 'reitor' [!] do Santuário de Fátima, 'Monsenhor' Luciano Guerra, a propósito da abertura de uma mais uma igreja [esta custou 80 milhões de euros, mesmo havendo outras lindíssimas a cair por falta de fundos, além dos pobres a quem o reitor disse que daria 50% dos fundos, se 'tivesse agora mais 80 milhões de euros'], proferiu esta frase fantástica:
'estou a tentar que as pessoas, de forma gradual, usem velas electrónicas, que ardam com dignidade'.
Velas electrónicas e dignidade combinam tão bem, creio, como um elefante suado em latex rosa choc e o professor Salazar.
E o tamanho interessa. O jornalista do DN afirmou haver 35 alegadas aparições de 'Nossa Senhora', desde o século XX. O que faz Fátima algo de diferente? O 'Reitor' do Santuário de Fátima responde o seguinte:
'até eu recebo com muita frequência pessoas que dizem ter pretensas visões e aparições. Teve [Fátima] uma característica fortemente divina, pela quantidade de presença de Deus que aqui se manifestou e manifesta'.
Se eu dissesse isto quando andei na escola, mandavam-me fazer uma despistagem...
O tamanho interessa MESMO. Como refere o entrevistado, há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá o soco na mulher de três em três anos'.
Ora para o Reitor do Santuário de Fátima, um homem que bate na mulher com tal frequência [a dos 3 anos...] não comete um acto de 'gravidade suficiente para deixar um homem que a amava'.
Repare-se: não 'que ela amava', mas que 'ele amava'. Não deixam de ser detalhes deliciosos.
E continua.
'No tempo em que havia div´rcios havia situações bastante dolorosas, mas a pessoa resignava-se. A mulher dizia: calhou-me este homem, não tenho outra possibilidade, vou fazer o que posso'.
Bem, vou deixar a Internet. Vou ali dar um soco à minha mulher, e colocar uma etiqueta para o próximo, a 6 de Outubro de 2010... ámen.
[entrevista completa no Notícias Sábado, do DN, pp.12-18]
Marcadores: catolicismo, Fátima, igreja, Igreja da Santíssima Trindade, Santuário de Fátima
Aeroporto.
Um filme delicioso. E o trailer, do tempo em que não havia limites de tempo! [quase spoiler...]
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05 outubro 2007
O atrasado.
José Sócrates, Primeiro Ministro, em pleno feriado, atrasou-se para as celebrações oficiais da República Portuguesa, hoje na Praça do Município, em Lisboa.
Um atrasado, José Sócrates -- ou o seu pessoal, o que vai dar ao mesmo, uma vez que é ele que o escolhe e que por ele é responsável -- parece não perceber a importância da pontualidade.
E se a incompetência técnica pode ser desculpável [e Sócrates não andou propriamente em Oxford], a falta de educação não.
Não é preciso ser diplomata e especialista em protocolo / cerimonial de Estado para saber que num evento com o chefe de Estado, este é o último a chegar. Ou seja, todos os outros têm de chegar antes. E como qualquer cidadão, português e eleitor sabe, as agendas de personalidades públicas são, em dias como o de hoje, coordenadas ao segundo pelo pessoal da Casa Civil do PR e do Gabinete do PM.
Goste-se ou não da República.
O regicídio da pontualidade ficou bem mal.
E curiosamente, achei piada ao discurso de Cavaco Silva. Chamar a responsabilidade educativa aos pais das criancinhas e criticar os disparates da Ministra da Educação não lhe ficou mal.
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Dos Passos. John Dos Passos.
Fala-se pouco de John dos Passos, ou, mais exactamente John Rodrigo dos Passos.
Nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 1896 e morreu em 1970 em Baltimore, EUA. O seu nome português deriva da sua ascendência madeirense.
Filho ilegítimo do advogado John Randolph Dos Passos, e de Lucy Addison Sprigg Madison, viveu com a mãe na Virginia e em França, regressando aos EUA para estudar em Harvard, entre 1912 e 1916.
Em 1918 fez o serviço militar nos Medical Corps, como motorista de ambulância no final da I Guerra Mundial, em Itália e França.
Já bem adulto, casou com uma jovem que faleceu, aos 18 anos, num acidente de automóvel [John sobreviveu, mas sem um olho].
Recasou, com Elizabeth Hamlin Holdridge da qual teve uma filha, Lucy Hamlin Dos Passos, nascida em 1950.
John dos Passos celebrizou-se pela actividade política e sobretudo pela sua obra literária, da qual são especialmente famosos Manhattan Transfer[1925] e a trilogia USA [42nd Paralell [193], Nineteen Nineteen [1932] e The Big Money [1936]].
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02 outubro 2007
A morte do pai do Chefe de Estado.
O pai do Presidente da República Cavaco Silva chamava-se Teodoro. Descobri porque se escreveu sobre isso no DN e duas vezes, e na TSF, entre outros órgãos de comunicação social.
Não percebo que a morte do senhor seja 'notícia' dado que aquilo que torna o senhor Teodoro Silva 'famoso' é o seu filho, actual 'Chefe de Estado'.
Sobretudo numa democracia, onde é suposto não haver cultos de personalidade, neste caso levada ao extremo [pelo menos do ponto de vista genealógico...].
Claramente os jornalistas não têm mais que fazer.
E os leitores / ouvintes / telespectadores nenhuma exigência quanto à qualidade dos conteúdos.
Marcadores: Boliqueime, cavaco silva, jornais, jornalismo, noticias, política, presidente, sociedade, Teodoro Silva
01 outubro 2007
A Anunciação.
Daniel ARASSE [1999] L'Annonciation italienne: Une histoire de perspective, Paris: Éditions Hazan
Um dos temas mais fantásticos na arte, mesmo para quem não é católico ou, sequer, religioso.
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