29 maio 2006

O Caso Zara


Lorenzetti sabe que algum leitor desprevenido [i.e. alguém que 'caia' neste Blog e que volte por vontade própria] não acreditará no título deste post.

Mas é verdade.

Lorenzetti fala da ZARA, não a giríssima membro da família real britânica, mas a loja do gigante Inditex.

De acordo com a capa do Expresso desta semana, há sapatos Zara feitos por crianças de 11 anos, em Portugal.

Peculiar, para não dizer bárbaro.

28 maio 2006

Procriação Assistida


é uma das questões da moda em Portugal.

No entanto, a questão de fundo, é que contrariamente ao que poderia pensar-se [como acto de suprema bondade e Entrega] a gravidez é, também, um acto de profundo Egoísmo.

E não estamos no domínio religioso, longe disso.

Do ponto de vista da pessoa em concreto -- e possivelmente da mulher -- há uma escolha, na maioria dos casos, de quando e como.

Ter um filho, para um laico, não religioso, nem um fervoroso amante da natureza que encara o sexo como forma de reprodução da espécie; é uma Escolha.

Uma escolha qualquer, como a de ir de modo prosaico a um supermercado.

Com a vantagem de ser à borla: em qualquer país, há uma legião de homens que engravidariam a primeira mulher que lhes pedisse ou desse, simplesmente, a oportunidade [desde que não a vissem depois disso...].

A ideia de ter uma criança fora do casamento ou mesmo de uma relação a dois;

a ideia de ser mãe [ou pai!] solteira/o não admira nada.

Tal como hoje há quem viva Só por opção, que tem a liberdade para ir onde quiser, com quem quiser e como quiser, que pode mandar e desmandar na sua casa e nos seus consumos e no seu emprego.

Ter um filho é pois cada vez mais como ter um barco ou um avião: um pequeno luxo, mas bem mais acessível.

Ter um filho, fora da noção religiosa ou National Geographic é, hoje, ter um 'objecto', um 'bibelot'.

Não se quer com isto dizer que acabou o amor maternal / paternal. Claro que não; nestes casos até é mais intenso, porque obsessivo.

Tal como se adora o barco favorito, pode adorar-se o filho único ou favorito. Pode mesmo ter-se uma pai~xão obsessiva [e claro, Egoísta].

Lorenzetti tem imensas amigas grávidas. Uma delas é o exemplo mais candente e extremo desta evidência: vai finalmente ter o filho [o bebé] pelo qual sonhou a vida toda.

Tinha de arranjar [e manter!] um homem, claro, e agora 'conseguiu' finalmente engravidar.

Se tudo correr bem, vai ver cumprido o seu sonho. Lorenzetti está feliz por ela.

Mas é Egoísmo na mesma: o simples facto de ela adorar a criança não só antes de nascer, como antes de ficar grávida, prova a tese. A criança não é amada por si mesma, é amada incidentalmente, porque era um sonho que a mãe tinha desde criança.

E tal o aborto é uma forma de impedir o nascimento sem o consentimento do visado, ter um filho é, também [!] um nascimento sem o consentimento do visado...

Daqui aos tais 9 meses lá nascerá a criancinha, que irá fazer a respectiva família muito feliz.

E lá estará Lorenzetti feliz com eles, claro. Não há como os nossos amigos.

Mas Lorenzetti dificilmente esquecerá -- sobretudo sempre que estiver com a referida criancinha e à medida que ela for crescendo -- que ela é produto de um desejo [capricho?] de sua mãe. Que a amará, certamente, de forma desmedida e quase [senão] obsessiva. Se porventura acontecer alguma desgraça à criancinha, lá virá outra...

É extraordinário como os afectos extremos ocultam os mais ávidos [e quase mesquinhos ou psico-patológicos?] interesses.

Ocultam-nos e não só: tornam-nos politicamente incorrectos. Ao ponto de os outros [que não a mãe, mas incluindo a criancinha!] não poderem falar neles. E muito menos os outros, e sobretudo os homens, como Lorenzetti , que optou por escrever...

23 maio 2006

A gestão da tesoura


A maioria dos gestores portugueses gere com a tesoura e não com a cabeça.

De facto, a primeira regra de gestão em Portugal é 'cortar'.

Cortar no pessoal;

Cortar na qualidade;

Cortar [ou nem cortar, porque só se pode cortar o que existe] no investimento e inovação.

Enfim, cortar 'despesas', cortar 'custos'.

Como se fizessem omeletes sem ovos.

O português não arrisca, não investe.

E se houver um pingo de chuva pede um subsídio para a desgraça.

E claro, o negócio vai sempre mau. 'Isto este ano é uma degraça, está muito fraco'. Contemos os anos: são todos. Está sempre mau. Mas florescem os belos carros, a Hermés, a Cartier e afins abrem lojas em Lisboa onde não pululam necessariamente turistas.

O que interessa é cortar.

Educação, formação, redesign, marketing, scouting, benchmark, auditorias, I&D, isso não interessa nada, porque custa dinheiro. E mesmo que haja subsídio, mais vale ficar com o cacau, para quê 'gastá-lo' na empresa?

E os clientes 'que se lixem', que 'isto de ter uma empresa não é pelos outros' e o cliente 'é um tipo a quem se prestam favores', um 'burro' que 'só dá trabalho'.

E assim andamos. NOT.

Lorenzetti gosta muito da Hermés [não necessariamente das gravatas] e moderadamente da Cartier.

Mas Lorenzetti não tem a menor partícula de paciência para estes patos bravos que não se resumem à empreitada, mas alastram por tudo o que é actividade económica.

Alguém os corta a eles e liberta a economia e a qualidade?

22 maio 2006

A Crise



Quando uma empresa ou uma pessoa qualquer [o 'particular'...] tem problemas financeiros, a primeira coisa que faz é, em regra, cortar nos custos.

O tema que tem alimentado o discurso político, eco´nómico e social em Portugal nos últimos anos [transbordanado para tudo o resto] tem sido o défice das contas públicas e o endividamento dos particulares.

Essencialmente, a ideia segundo a qual 'estamos todos', Portugueses, de corda à garganta.

Tanto se insiste no discurso das contas públicas que o Presidente da reública referiu [com reacções negativas de muitos economistas] que 'há vida para além do défice'.

E tanto se insiste neste discurso que andamos todos deprimidos: a depressão colectiva de uma país é, evidentemente, uma razão para o aprofundamento de uma crise económica: é o factor psicológico.

Mas a crise não é, de todo, e no essencial, psicológica. É real.

Interessa pois ver o que tem sido feito pelo cidadão comum para dar a volta.

E o cidadão comum não é o milionário que não sente a crise directamente na sua vida e contas bancárias [apenas através dos seus negócios], nem o miserável que sempre foi miserável ou que está um pouco mais miserável.

É a chamada classe média. A misteriosa classe média, à qual todas as pessoas dizem pertencer, mesmo que algumas aleguem dela fugir.

A classe média que tem TV Cabo, ADSL, que não bebe simples água [sobretudo da torneira, que horror!], mas sumos, 'colas', 'jolas' e afins; que tem um ou mais telemóveis [muitas vezes carotes, ai os 3G!] com contas mais ou menos altas, a que compra perfumes de marcas de Milão, Paris e Nova York, marcas das quais não tem [MESMO] dinheiro para comprar roupa [e que não sabendo, marcas que acabam por sustentar], a classe média que vai ao cinema e vê uma porcaria qualquer por mais de cinco euros, essa classe que tem carros, muitas vezes kitadíssimos, que também muitas vezes não anda de transportes públicos, a mesma que vai comprar imensos presentes no Natal e que invade a FNAC todo o ano para comprar CD's e DVD's e neo-romances 'da tanga'. A mesma que pede belos empréstimos não só para casa e carro mas para bens de consumo corrente, que vai passar a passagem de ano não sei aonde, que bebe imensos cafés e fuma imensos cigarros por dia, essa classe média que redecora a casa, mesmo que devagar, depois de ver revistas que comprou por 2, 3, 7 euros, e que acabarão ou não num consultório qualquer, gente cujos filhos gastam dezenas de euros por noite em copos e eventualmente uma ganzita. Essa classe média que gasta dinheiro com a Maria, a Máxima, jornais da treta e revistas com resumos de novelas, a mesma que compra doces, tremoços, cervejinhas, chocolates, coca cola, e tudo o que não vem na roda dos alimentos e que não é mais do que puro desperdício [ou prazer, mas ainda assim adicional].

Desperdício.

De dinheiro e de vidas.

Compramos o que quisermos, mas não podemos dizer que o dinheiro não existia. Chegou e foi.

E a crise? Será que chegou? MESMO ?



Foto: Cindy SHERMAN [1990] Untitled (Mrs. Claus)

13 maio 2006

Capitalismo de Fach[ada]: carta aberta aos amigos do costume

Portugal vive um momento muito interessante.

Não se refere Lorenzetti à famosa 'crise', que não se reflecte no parque de estacionamento do Estoril Open e afins, nem nas férias e outras coisas que tais dos portugueses ditos de classe média.

Lorenzetti refere-se à visão de muitos dos 'iluminados do costume', sejam jornalistas, economistas, gestores, 'comentadores' [supostos 'opinion-makers' e 'especialistas'] ou mesmo [imagine-se] políticos [ou como dizem os Franceses, e certamente bem, les 'hommes politiques'] do capitalismo e modelo actual de vida, de sociedade, de economia.

A ideia da economia aberta, em que o mercado funciona por si, com uma alegada mão invisível.... Et cetera...

Vindas as [assim tantas?] OPAs, começa a histeria do proteccionismo.

'Ai a Economia Nacional'

'Ai os centros de decisão'

'Ai os empregos'

'Ai os espanhóis'

'Ai os anéis e os dedos'

'Ai que vamos ser dominados pelos 'grandes grupos' dos 'Estados grandes''


Decidam-se. Sejam coerentes.

Estudem e façam escolhas. Mas assumam-nas.

Se o capitalismo e a economia aberta devem existir, qual o medo da mudança para gestores [e donos] mais eficientes e fecho de empresas ineficientes?

Ou o conceito de 'eficiência' varia com termos lugar nela, com o famoso 'tacho'?

Se a fábrica fechou, é porque já não serve. Não dá dinheiro. Ou dá menos do que noutro sítio qualquer.

E se abriu é porque alguém o queria. E se fechou é porque alguém o quer.

O dinheiro.

Ou uma empresa é pura obra de caridade?

Se os Portugueses são comidos, é porque não comem. Não são competitivos, como 'a malta do costume' adora dizer.

Mas 0s 'amigos do costume' é que não são competitivos.

Gosta de estar no quentinho.

Não estuda, não trabalha e tendo ou não background, não o consolida ou não o substitui.

E são comidos: ou se vendem, ou levam um chuto da Administração.

No fundo, Portugal e 'agir Português' deve estar fora de moda.

Mas no mercado livre temos de assumir isto.

Mesmo que implique o nosso despedimento.

Ou a mudança de nome do país.

Ou a sua integração num qualquer espaço económico.

Ou outra coisa qualquer, por escandalosa que pareça [deve, aí, ser vista como uma shift da procura, que serve de incentivo a que alteremos o nosso comportamento, de forma racional, enquanto agentes económicos do lado na oferta...[!]].

Afinal, a Economia é Livre.

E a mão, Invisível e externa.

Ou não?

12 maio 2006

Lisboetas descobrem que Lisboa tem rio


'Gostaria que os portugueses o aproveitassem mais. Vamos ver', completou Cavaco Silva, referindo que 'este ano, em que se assinalam os 150 anos da Associação Naval de Lisboa, pode ajudar a dar um novo impulso à prática de desportos náuticos'.

É a primeira frase de Cavaco Silva com a qual Lorenzetti concorda.

Mesmo agora, enquanto Presidente da República.

E mesmo podendo afirmar-se [numa certa perspectiva...] que tem agido mais como Primeira Dama...

A regata do aniversário da ANL foi um marco. De facto ninguém aproveita o rio. Motas de água, barcos, ski, nada.

Deve ser da crise. Mas sendo o actual PR um exímio economista, não deve ser por isso. Vamos a ver esses navios...


PS - sim, Lorenzetti foi daqueles a quem o pai quis obrigar a andar à vela.

09 maio 2006

A menina do gás


Já se pode falar dela.

Aquela que ficou conhecida como 'a campanha da menina do gás'.

É o sonho de qualquer publicitário.

A dita campanha teve como auge não o download e os emails com filmes da dita 'menina do gás', com direito a the making-of e tudo [estilo extras de DVD], mas sim a venda [sim, venda] pela GALP de uniformes iguais ao utilizado pela 'menina do gás'. Lembram-se do último Carnaval?

É o sonho de qualquer publicitário.

E foi o sonho de todos os homens.

E como é fácil manipulá-los.

Lorenzetti gosta de ver coisas bem feitas.