24 fevereiro 2005

Portugal discute o banal

Há tempos, citei parte de um artigo do gestor João Rendeiro, que afirmou no Expresso: 'mais preocupante ainda é que a presente elite - apesar de alguns contributos muito positivos como a SEDES ou o Compromisso Portugal - ainda não formulou um conceito estratégico sobre a presença de Portugal no Mundo Global que dê aos portugueses o substrato intelectual e ideológico de uma coesão nacional'.

Recentemente tivemos eleições.

Muito recentemente um canal de televisão reuniu economicas e gestores no Palácio da Bolsa do Porto. Todos manifestaram posições quanto ao estado da Nação e sobre medidas genéricas que entendem necessárias.

:

Porém [sem prejuízo de intervenções marcantes como as do Eng.º Belmiro de Azevedo, com a sua visão própria da inovação, formação e pragmatismo] as mesmas 'elites' insistem na discussão de questões menores como o número de ministros.

Em Londres ninguém se lembraria de discutir esta questão após eleições.

Mais do que uma rejeição por conservadorismo cego [mudança não!] seria por razões pragmáticas [mudar porquê e para quê?].

Com efeito, uns 5 a 7 ministérios bastam em áreas nucleares como os Negócios Estrangeiros, a Educação, a Saúde, a Economia, a Defesa/Interior.

Chega-se [recorde-se a posição do Eng.º Belmiro de Azevedo]a discutir o número de secretários de Estado [demasiado jovens e sem talento nenhum, diz-se].

O talento pode e deve ser discutido. O número não.

Pois não vale a pena, se o problema não passar por aí.

Os problemas são estruturais, mas o problema não está na estrutura orgânica: está nas pessoas.

No essencial, o país continua igual a si próprio, com todas as Constituições que teve.

Falta de Educação e falta de Dinamismo.

Por mais ou menos ministérios, nada será relevante sem uma alteração de mentalidades e sobretudo de Educação. Seja no sentido da formação moral, seja no sentido da formação académica. São interdependentes e indispensáveis.

Não precisamos de ministérios. Precisamos, desde logo, de líderes. De modelos de virtude, de exemplos de dedicação, de demonstração de resultados.

Se para os criar for preciso escola e se para a escola forem precisos mestres e se tais mestres não se encontrarem no país, teremos de importá-los até termos os nossos mestres, depois os nossos alunos, e finalmente os nossos líderes. E depois os nossos cidadãos, conscientes, educados e autónomos. Verdadeiramente livres e 'civilizados'.

O preço é irrelevante, pois a conta que temos a pagar é bem alta. E a qualidade de vida não é melhor.

As elites que se referiu acima são, no geral, egoístas, despreocupadas e muitas vezes ignorantes. São elites possivelmente erradas. Ou elites insuficientes.

A população em geral é igualmente responsável. Tem o voto e não o usa. A famosa abstenção. 'A praia estava boa e é domingo' recordam alguns sobre um certo referendo. Por outro lado, mantemos os hábitos que tanto reprovamos nos outros; acusamos líderes de agirem de dada forma, sendo que agiríamos da mesma: defendendo os nossos interesses pessoais.

Temos de exigir para agir.

E o exemplo começa em casa.