Continua a moda do chinelo, da chanata, de dia e de noite.
O insistente 'schlap-schlap-schlap'.
Eu uso chinelos apenas no ginásio, porque são mesmo para estragar e salvar-me das coisas miseráveis que devem andar no chão dos balneários.
Há que dar os parabéns aos fabricantes e vendedores. E há que lamentar a maioria dos utilizadores.
Chamam-lhes havaianas, pela marca dos mais famosos, 'as legítimas', como se de chinelos não se tratassem, e tivessem alguma aura de glamour.
É isso que são: chinelos.
Não há paciência.
Charruada no Parlamento.
Diz o Público que 'em declarações à Lusa, o deputado social-democrata Pedro Duarte lamentou que Maria de Lurdes Rodrigues não se desloque ao Parlamento já amanhã ou na próxima semana, considerando que o adiamento dos esclarecimentos visa "empurrar o assunto para o esquecimento". "Os três meses que a ministra demorou a tomar uma decisão não foram inocentes", acusou.
Em causa está o processo disciplinar instaurado ao professor Fernando Charrua, por decisão da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), onde estava requisitado, na sequência de um comentário sobre o primeiro-ministro.
O processo foi arquivado segunda-feira pela ministra da Educação, não tendo sido aplicada qualquer sanção disciplinar ao professor, que agora exige uma indemnização e a reintegração na DREN, onde deixou de trabalhar por ter sido cessada a sua requisição de serviço, poucos dias depois da abertura do inquérito.
No Parlamento, Maria de Lurdes Rodrigues deverá ainda dar explicações sobre as crianças contratadas a uma agência de publicidade para uma demonstração do uso de quadros interactivos, no âmbito da apresentação pública, na passada segunda-feira, do Plano Tecnológico da Educação. Segundo defende o PSD no requerimento apresentado, tratou-se de uma "encenação" que "leva ao extremo a lógica propagandística" do Governo e "levanta inúmeras dúvidas éticas, políticas e legais"'.
Sobre este último assunto, disse a TSF 'A apresentação da escola que o Governo quer para o futuro foi feita perante alunos que não foram recrutados nas escolas mas sim na agência de casting da NBP. Uma situação que a ministra da Educação considerou normal'. E o Público que 'para além da sala improvisada no Centro Cultural de Belém havia algo mais encenado. Os “alunos” eram crianças que tinham sido recrutadas por uma agência de casting: a NBP, num trabalho que rendeu 30 euros a cada um, de acordo com o relato feito por um dos miúdos à RTP'.
Assim se combate o desperdício, o défice, bla-bla, da-di-dah... ah, e se evitam as vaias.
Acabo de ver a transmissão diferida pelo Canal Parlamento [sim, ainda existe] e a desarticulação de Maria de Lourdes Rodrigues, Ministra da educação, foi evidente.
É certo que como sempre no parlamento, houve deputados na habitual chicana, no caciquismo partidário sem qualquer interesse. Foi especialmente o caso do PSD e do PS.
As boas contribuições vieram do PCP e logo de seguida do CDS.
Em particular, as questões relevantes:
- se a decisão foi disciplinar e não política, porque levou o processo tanto tempo e porque foi o processo arquivado, uma vez que havia matéria provada?
- se o argumento não era disciplinar e sim de liberdade de expressão [como referiu a própria ministra no despacho de arquivamento] como foi possível abrir o processo?
- se a DREN agiu bem, porque chamou a Ministra a si [avocou] o processo, para proferir despacho de arquivamento?
- se a DREN agiu mal, porque é que a sua coordenadora não foi ela própria e o denunciante alvos de processo disciplinar [esses por perseguição política] e devidamente demitidos?
- se a promoção do denunciante coincidiu no tempo com a denúncia e o processo, poder-se-á falar de mera coincidência e não de pagamento pela denúncia?
- se se trata de 'participação' e não de 'delação', qual o fundamento disciplinar?
- se a única acusação é de insulto ao primeiro ministro, porque é que a Ministra recusa tratar-se de uma delação e de um processo político?
Portugal parece ainda não se ter habituado à democracia, cujos 32 anos já justificariam uma melhor convivência com ela.
imagem: Ford Madox BROWN [1863] Mauvais sujet, comprado pela Tate Gallery em 1917
Com 350 anos, este quadro do melhor que há da pintura holandesa, foi roubado no dia 10 de Junho do museu de New South Wales, em Sydney, Austrália, enquanto aberto ao público.
Crê-se que o retratado é o próprio Van Mieris e o quadro entrou esta semana nos 10 mais procurados pelo FBI, que desde Novembro de 2oo5 que aplica à arte o famoso tratamento dos 10 Most Wanted Criminals, tendo já ajudado a recuperar cerca de 850 obras de arte roubadas. Entre elas, destaco cerca de 1oo [cem!] quadros de uma casa na Florida, incluindo Picassos, Rothkos e Matisses...
O Van Mieris substitui nesta lista um quadro de Goya, pintado em 1778 e recuperado pelo FBI em Newark.
O Goya 'Criança com carro' tinha sido roubado de uma carrinha de transporte de valores que levava o quadro de um museu no Ohio para o Gugenheim de Nova York.
Se virem o quadro, já sabem de onde vem... e têm o privilégio de saber para onde foi.
Frans VAN MIERIS I [1657-1659] Um cavaleiro [auto-retrato]
Portugal é pequeno mas foi grande, todos o sabemos.
E é a extensão 'física' e em particular o património histórico português na África, Ásica e América que a Fundação Calouste Gulbenkian -- que tem sido como que um co-ministério da cultura em Portugal -- vai inventariar, tendo para o efeito contratado o Professor José Mattoso [que convidou, entre outros, o prestigiado arqueólogo Cláudio Torres].
Este passo essencial da nossa história mereceu [podia ser pior...] uma caixa de uns 4cm no fim da página 24 do Expresso de 28.7.2oo7. Ver aqui a notícia mais alargada da RTP.
Parabéns à Gulbenkian pela iniciativa; aguardamos os resultados deste projecto, bem mais relevante do que muitas obras tão faladas e caras, sem qualquer interesse para a história do país.
Era isto que o Governo devia fazer e a utilidade das instituições -- e das pessoas que nelas estão -- vê-se pelas áreas que apostam e pelos seus resultados.
imagem: Forte de Jesus, construído por Portugal em Mombaça, Quénia, em 1593 e que bneficiou de apoio da Gulbenkian para obras de recuperação.
É um pouco o que pode dizer-se do que se vem passando e acentuado por certos comportamentos como o do definhado líder do PSD, Marques Mendes. Desta vez, está na Madeira, essa bela ilha, a acompanhar o Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.
Da perspectiva da Madeira admito que 'Alberto João' seja um óptimo líder, sobretudo na canalização de fundos vindos do Continente e da UE e da sua aplicação em infraestruturas, apesar de existirem, sabe-se, problemas de expressão política na região e um desequilíbrio entre povo e elites [leia-se famílias favoritas], que existindo também no Continente, é menos gritante, com classes médias mais amplas.
No entanto, do ponto de vista do Continente, e devido ao comportamento do Presidente do Governo Regional eleito pelos madeirenses, a Madeira é um flop, seja financeiro, seja em educação: trata-nos mal, e ainda por cima dá-nos prejuízo.
Por isso, é estranha a visita do líder do PSD à Madeira e à festa do Chão da Lagoa que, como descreve o DN na sua p.15 de 3o.7.2oo7, 'chegaram em viatura descapotável. Eram 1o.3o. Hora de início da visita pelas tascas do recinto'.
E lá começou, às 1oh3o, a bebida de poncha. Como gozou o Expresso de 28.7.2oo7, sob o título 'Uma poncha mágica', Marques Mendes foi ''beber votos'às barraquinhas da festa do Chão da Lagoa'.
Pelo timing, que coincide com a sua recandidatura a líder do PSD, sabendo já ter a oposição de Menezes de Gaia, Marques Mendes sujeitou-se às piadolas do governo, vindas do Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, que o acusou de mendigar votos na Madeira.
A visita acabou por ser inútil -- apenas a demonstrar o poder de Alberto João Jardim na região e nos políticos do Continente, e em particular do seu próprio partido, o PSD.
Porém, o tema da autonomia regional continua. Alberto João Jardim -- e compreendo a sua posição -- insiste em usar o discurso da autonomia regional e dos cubanos do Continente, separatistas, etc.etc.; o seu discurso para consumo interno, dos madeirenses, acirrados contra o Continente e apenas tendo consolo no seu líder, Alberto João Jardim.
Alberto João Jardim é pois um vencedor, ao qual nenhum político do Continente fez frente, nem primeiros-ministros nem presidentes da república.
Não deixaria de ser um confronto interessante.
Seria interessante ver, por exemplo, a República fazer aquilo que Alberto João pede de forma mais ou menos explícita. A independência. Depois se veria o resultado.
'Eça de Queirós não foi longe. A sua análise compraz-se na sátira daqueles salões, jornalistas e literatos que Balzac considerava inteiramente desprovidos de vontade própria, mas que Eça parece responsabilizar. Para Eça, esses salões e os seus figurantes são ridículos em si mesmos, e a gargalhada corrida três vezes à sua volta basta para os aniquilar convencendo-os da própria insignificância. Balzac não tem uma confiança tão grande no poder da pena do escritor e, procurando as causas fundamentais, não se preocupa com o ridículos das instituições secundárias. Tudo se passa como se Eça se tivesse preocupado predominantemente com o aspecto moral-social da vida portuguesa, enquanto Balzac genialmente penetrava no esqueleto económico-social da França burguesa'
De artigo de António José SARAIVA no jornal O Primeiro de Janeiro de 23.11.1949, artigo subsequentemente publicado na colectânea de ensaios Para a História da Cultura em Portugal, vol. II, parte I, em 1961, reeditado pela Gradiva e pelo Público em 1996 [estando nesta última edição na p.86].
Só comprei e li o primeiro volume da série Harry Potter, para tentar perceber o 'fenómeno'. E vi parte do primeiro filme.
Desta vez vi -- com algumas distracções -- o filme a Ordem da Fénix.
Pontos positivos:
. vistas aéreas do Tamisa, quando Harry e companhia lá passam em voo de vassoura, que foi o que mais me atraiu no trailer; . caracterização de Ralph Fiennes; . máscaras usadas na perseguição na sala das bolas de cristal; . o inglês perceptível.
É Verão, Agosto está a chegar, e isso significa férias para a maioria dos mortais.
'Eu sou daqueles' acusados de elitismo, que não fazem férias em Agosto, e que por detestarem o calorão e a multidão são chamados de todos os nomes, algures entre o lado político right-wing e o 'tem a mania que é bom'. Tenho a vantagem, creio, e para mal do meu ego, de não ser nenhum dos dois.
Uma amiga, que faz sempre uma 'mega viagem' anual, telefonou-me hoje a despedir-se, desta vez vai à Polónia, porque esgotou praticamente os roteiros não europeus. Após décadas de viagens, diz que a Europa é a sua 'reforma': o regresso a casa.
Comentava 'ela' que as 'pessoas' não viajam, que 'ficam no buraco' ou então que fazem férias de 'pacote', sem o país 'genuíno' e que o turismo é em regra o do hotel e piscina ou praia e copos.
Concordo com ela.
Creio no entanto, que a sua opção não é isenta de críticas, tal como a minha [que é ter trabalho e férias tudo ao mesmo tempo, e odiar fazer um mês de férias ou semanas de férias no mesmo sítio] também não.
Claro que não lhe disse nada: teimosa como é -- e como também sou, sei que ela não desistirá -- não vai ligar nenhuma pôr-se aos berros a dizer que eu não sei nada e ela é que sabe, e que viaja, e que é mais velha, e que 'sim'.
A opção 'dela' até agora tem sido a de ir a sítios exóticos, mas em vez de praia, visita ruínas, florestas, montanhas, e na China, por exemplo, claro que foi à muralha, mas o ponto alto foi ter andado de mochila às costas, pelas montanhas.
Na Guatemala, também fez loucuras montanhosas, no Laos, no Cambodja, em São Tomé não foi à praia mas às roças, na Índia prefere tudo o que não seja cidade, e fotografa muitos mercados, e meninos, e meninas, e velhinhos, e velhinhas, e coisinhas, e tralala. E assim faz em todo o lado.
A mania da mochila às costas e da frase 'eu não sou como os que vão para a praia' é o mudar para que tudo fique na mesma, sobretudo para quem acha -- como acha a minha amiga -- que isto dá uma visão abertíssima do mundo, e que só quem faz isto conhece o mundo.
Como se as viagens não fossem organizadas, como se não levasse guias, como se não tivesse guias, como se não tivesse limites culturais, linguísticos, sociais, políticos, naturais.
Nesta perspectiva, continuo a preferir aqueles que não viajam e que dizem nada saber ou querer saber. Não faço isso, mas assusta-me menos do que os me viajam 'muito' e acham que conhecem 'muito': os turistas que dizem que não são turistas, para quem as dificuldades são maravilhas, e acham ser pedagógico não tomar banho uns dias ou, de alguma forma, fazer 'sacrifícios', estilo lição de vida. Não há paciência.
O pacote pode não ser praia, mas não deixa de ser pacote.
É o pacote das grutas e das montanhas, do porco sujo e mau, dos álbuns de fotos 'fantásticas' para mostrar aos 'amigos', que se 'roem de inveja' e com os quais se partilha 'conhecimento' do povo, das tribos, dos locais. A foto do miúdo chinês pobre, que se ri para a foto do ocidental, que é turista e tem uma bela máquina. E assim se põe a foto do miúdo no álbum, da mesma forma que se põe creme no corpo que fica na piscina as férias todas. As férias são colecções de cromos.
Cada vez me convenço que conhecer implica viver, e viver fora de uma redoma, nos locais e com as pessoas, mas vários locais e várias pessoas, de vária extracção. Dir-me-ão que isso é impossível. E eu concordo.
Maria José Morgado apresentou contas quanto à sua função de coordenação da investigação 'Apito Dourado', com um relatório impressivo e oportuno.
Já aqui o tínhamos dito: este era o teste de MJ Morgado -- depois de tantas críticas, verdadeiras, pela própria, contra a corrupção enquistada e criminalidade económica em geral em Portugal, esperavam-se resultados na sequência da sua nomeação pelo PGR.
Tudo o que tivesse sido a sua carreira e imagem pública iriam abaixo se, tendo aceite este processo, como aceitou, desse mau resultado.
Assim, dividiu a 'história' em partes: antes de depois de Jan. de 2oo7.
Antes: 12.50% de acusações [3 inquéritos].
Depois: 54.84% [17 inquéritos]
Antes: 87.50% de arquivamentos [19 inquéritos+2reaberturas]
'CABEÇA-DE-LISTA do PSD, pelo Porto, Luís Filipe Menezes, suspeito de ter abusado dos dinheiros públicos no caso das «viagens-fantasmas» dos deputados, veio esta semana, com a elegância que lhe é habitual, declarar que «a Procuradoria está transformada numa nova PIDE em Portugal» e que o procurador-geral «é um incapaz». Mas, em vez de exigir que seja apurada toda a verdade e esclarecidas todas as suspeitas, assegura que «não houve notificação nem vai haver». E mais: «Não há julgamento nenhum. Este processo vai acabar como começou: no zero»'
'O PRESIDENTE da Câmara de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes, não resistiu ao caso das «viagens-fantasma» dos deputados e resignou, ontem à noite, à posição de cabeça de lista do PSD pelo Porto. Após ter desferido violentos ataques ao procurador-geral da República, no início da semana, o candidato escolhido por Durão Barroso para liderar a lista do Porto acabou por ceder às repercussões políticas que o seu caso estava a atingir.
Segundo o EXPRESSO apurou, Menezes esteve durante dois meses afastado da autarquia depois de, no início de Junho, ter sido acusado pelo Ministério Público. Invocando dificuldades em o notificar, o MP remeteu de imediato o processo para julgamento.
Segundo fontes da Câmara de Gaia, a primeira vez que Menezes se ausentou foi na última semana de Maio, para receber tratamento médico em Paris. Menezes só voltou a aparecer na véspera de S. João (24 de Junho) para se ausentar de novo, regressando na última semana de Julho.
Luís Filipe Menezes é acusado de ter requisitado viagens à AR, cujo dinheiro era colocado na conta-corrente de uma agência de viagens, que serviu para pagar viagens e estadas da família em hotéis'.
' Os deputados utilizavam as verbas das viagens em serviço que tinham direito de requisitar à AR, para abrir «contas-correntes» em agências. Depois, usavam o crédito acumulado nestas contas para custear viagens de outro tipo (férias com a família ou de amigos, ou deslocações de trabalho exclusivamente partidário). Entre os deputados que usaram este esquema, estavam Luís Filipe Menezes, Carlos Coelho e Luís Geraldes.
Cada parlamentar tinha um livro de requisições (conhecido pelo «livrinho azul»), que lhe era entregue pelo seu grupo parlamentar, tendo direito a que lhe fossem pagas as deslocações entre a AR e o seu círculo eleitoral, além de uma viagem, por sessão legislativa, a todas as ilhas dos Açores e da Madeira. Ao deputado bastava apenas assinar as requisições; e era a agência que, depois, se encarregava de cobrar as verbas à Assembleia.
Era então prática corrente a requisição, por junto, de várias viagens, muitas vezes sem data, realizadas ou não mais tarde, em função das necessidades do deputado e do seu trabalho. A inexistência de qualquer controlo sobre se as viagens eram de facto realizadas institucionalizou esquemas pouco claros de gestão das verbas da AR.
Conforme se verificou pelos documentos da Sinestur, para certos deputados as requisições não tinham qualquer correspondência com a realidade. Ou compravam cheques-trem e viajavam de comboio, ou iam de carro (às vezes em grupo, com outros deputados), ou iam mesmo de avião, mas em classe turística, aproveitando a diferença de preço - pois a AR pagava sempre a viagem em executiva'.
Nota quanto ao vídeo: recorda-se que 'anuncia' não tem acento, como 'anúncio'... Enfim.
E o programa 'eixo do mal', na SIC, é um reflexo disso, sempre com a amosa expressão 'boiada', entre 'boys' e 'manadas'...
'Acreditar'. A crença -- porque Portugal nunca se alfabetizou; funcionalmente, sequer -- nunca deu lugar à consciência.
O caciquismo já é velho, e o voto ou já nem se 'dá' [60% nas últimas eleições, ainda que intercalares e em autárquicas, mas em algo tão representativo como Lisboa, capital] ou é 'dado' ao que é visto mal menor, àquilo que 'é au mas já se conhece'.
É uma espécie de voto numa ilha de mafiosos. Dá-se ao boss, que pode ser mau, mas é o 'nosso' boss, que já conhecemos.
Ou, se se quiser, a relação dos Portugueses com os seus políticos é um casamento que não acaba, mesmo sendo o país o membro do casal vítima de violência doméstica.
O político, esse agressor, não se rala. A sua vida, em regra, não é mais do que isso: na sua maioria -- e se Filomena Mónica continuar o Dicionário parlamentar, comprovar-se-á -- são arrivistas. Arrivistas geográficos e sociais. Sem grande formação, sem CV / carreira profissional relevante, cuja ausência se explica pelo 'carreirismo político', em que entrar numa 'jota' acaba por ser uma rampa para toda a vida em cargos partidários ou públicos [ou semi-públicos, no caso das empresas públicas / municipais].
Isto para enquadrar devidamente a questão dos PAs para deputados.
Os nossos deputados vão ter PAs, diz-se. Assistentes Pessoais.
Há quem diga que isso é um luxo. Creio que depende da função.
Sei como dá jeito numa profissão exigente. A de deputado sê-lo-á em teoria, mas há dois impedimentos: a prática e a contenção orçamental que tudo parece justificar, e onde os políticos terão então de dar o exemplo.
Na prática, não sabemos o que fazem as de deputados no Parlamento. A abstenção é conhecida. E poucos [algum?] trabalham em exclusividade. Muitos são advogados, e o Parlamento é como que um café onde se passa para ler um jornal ou -- já o presenciei -- uma revista social com as festas da noite [ou do dia] anterior.
Vale a pena ler a lista de deputados no website da AR, ainda com círculos eleitorais [como se ele viessem mesmo das áreas que representam, como se as conhecessem e transportassem para o hemiciclo a sua legitimidade - será que os 18 deputados de Braga são mesmo de Braga? ou mesmo que os 48 de Lisboa são mesmo de Lisboa? e os 2 do círculo 'Fora da Europa'? etc etc...].
O que fazem nas actuais 12 comissões especializadas permanentes? E as subcomissões? E os grupos de trabalho?
O que se passa nas duas eventuais [Comissão Eventual Para o Acompanhamento das Questões Energéticas e Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios?].
Isso até poderia estar tudo num website.
Mas num país onde a taxa de analfabetismo, em 2001, era de 11,5% para as mulheres e de 6,3% para os homens, onde o analfabetismo funcional é gritante, e onde o descrédito dos políticos provoca desinteresse, era importante que a própria 'classe' política divulgasse o que faz, como faz, quando faz, a quanto faz e porque faz.
Enquanto não se fizer isso ninguém vai perceber a necessidade de assistentes pessoais. Ou de muitas outras coisas que custam dinheiro a um país ao qual o Governo insiste em dizer que está pobre e cuja resposta ao que quer que seja é a desculpa de sempre: o défice.
Mas o grande problema não é o défice financeiro. É o défice cultural e democrático de uma sociedade pequena e analfabeta. Que os políticos, em geral, bem reflectem.
A exposição divide-se pela sala de exposições temporárias que une o edifício da administração ao do museu e biblioteca e a sala de exposições temporárias junto ao bengaleiro dos auditórios. É especialmente interessante como análise de percurso e percepção das obras iniciais de muitos artistas ainda no activo e suas obras iniciais, bem como a divulgação de artistas portugueses de grande qualidade afastados do grande público [muitos deles bolseiros da FCG]. Inclui quadros, instalações, vídeos e objectos.
O Presidente do Conselho de Ministros em exercício, Eng.º [?] José Sócrates Pinto de Sousa, concedeu uma entrevista à SIC. Em amor à camisola, o jornalista Ricardo Costa interrompeu as suas férias e o seu dia de aniversário para, juntamente com outro jornalista, entrevistar o Presidente do Conselho.
O Presidente do Conselho parecia bem disposto e estava bem apresentado...
... mas passemos ao que interessa.
O Presidente do Conselho nada disse [e não foi questionado nesse sentido] sobre a sua formação académica. Continuamos sem saber o desfecho do caso 'Independente'.
Ficámos a saber que há mais X portugueses com 'médico de família', como se isso quisesse dizer alguma coisa de relevante sobre o sistema nacional de saúde. Interessa sim taxas moderadoras 'moderadas' e qualidade de serviço ímpar. Com ou sem marketing de 'médicos de família', a fazer lembrar uma série televisiva.
Impostos, não se sabe o que vai acontecer. Aeroporto, o discurso do costume, em novidades.
TGV, nada.
Vaias, alguma coisa. E foi adorável a referência aos meninos a receber 30 Euros em casting para assistir a uma conferencia do PM... sem vaiar. Défice, o discurso habitual, com referência ao não aproveitamento de uma excepção como França, que irá beneficiar de mais tempo para corrigir o seu défice com calma.
Entendemos a posição do Presidente do Conselho: tem a perfeita noção de que, quando se justifica tudo a todos com o argumento das finanças públicas -- a fazer lembrar alguns seus antecessores, também eles do campo, como frisou Ricardo Costa -- nada resta.
E por isso, para justificar o que se desfaz e o que não se faz, Portugal continua com a sua meta de défice, não aproveitando a abertura que teria, e cujo precedente foi aberto por França.
Dizem as alíneas e) e g) do art. 133 da Constituição que compete ao Presidente da República dissolver a Assembleia da República e demitir o Governo, nos termos do n.º 2 do artigo 195.º, e exonerar o Primeiro-Ministro[...].
O 195/2 diz que o Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas[...].
Hoje, não se fala de outra coisa senão de tiques autoritários e da política teimosa do quero posso e mando, com uma maioria, um governo, um presidente, e um presidente de câmara...
E não é que foi no governo de Santana, e não de Sócrates, que se dissolveu a Assembleia?
Depois de ouvir os partidos políticos com representação parlamentar e o Conselho de Estado, venho comunicar-vos formalmente que resolvi dissolver a Assembleia da República e convocar eleições parlamentares. Face à diversidade de propostas que me foram apresentadas, marcarei as eleições para o próximo dia 20 de Fevereiro.
Houve quem estranhasse que só hoje, alguns dias depois do início deste processo politico-constitucional, me dirija ao País. Quero lembrar que a democracia é também o regime do respeito pelas formas e do rigor no cumprimento dos processos constitucionais. Para que se possa verificar a dissolução do Parlamento, a Constituição da República estabelece uma metodologia precisa e obrigatória que só hoje se pôde concluir e cujo calendário foi definido de acordo com o que entendi ser conveniente para o País.
[...]
Entretanto, desde a posse do XVI Governo Constitucional, e depois de lhe ter assegurado todas as condições necessárias para o desempenho da sua missão, o País assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o País vive.
Refiro-me a sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral. Dispenso-me de os mencionar um a um, pois são do conhecimento do País.
Já falámos aqui de privatizações e de como em regra não fazem muito sentido, uma vez que existe um conflito de interesses que faz com que uma empresa para ser privatizada tenha de ter as mesmas características que a fariam dever ficar nas mãos do Estado: darem lucro.
A menos que se que queira aumentar os impostos ou reduzir a quantidade e qualidade de serviços prestados pelo Estado, as empresas são óptimas fontes de financiamento do Estado, se derem lucro. Porém, quando dão lucro, tornam-se atractivas a privados e o Governo, na ânsia eleitoralista por receitas extraordinárias [em vez de investir, apostando em receitas ordinárias e bem melhores] lá as privatiza. Precisamente quando deixaram de ser um fardo e passaram a ser um ovo de ouro.
A TAP é um desses casos. Já falámos dela aqui duas vezes a este respeito:
Ontem, o famoso Ministro Mário Lino também o fez, sendo no entanto desértico quanto ao timing e às razões da privatização da TAP [que inclui a GroundForce, a AirMacau, a Catering de Portugal, a UCS, a Air S.Tomé e Príncipe, a recém-adquirida Portugália, entre outras coisinhas].
E o Administrador Delegado da TAP, Fernando Pinto, foi peremptório à imprensa, tendo afirmado ontem que o regresso aos lucros faz a TAP regressar à pista das privatizações. Mas se dá lucro, para quê livrarmo-nos dela?
A TAP deu lucros em 2oo6 e é a 'companhia de bandeira', sendo uma empresa de interesse estratégico, seja como meio de transporte em geral, seja como elemento com efeitos fundamentais no turismo português, cuja importância no PIB é de 7& a 8%, empregando 10% dos portugueses. O número de turistas que recebemos anualmente é praticamente igual à nossa população [10 milhões].
Por isso recusamos a ideia infeliz de privatizar a TAP que além de útil e estratégica é lucrativa. Fossem assim todas as empresas do Estado, e não se privatizava nenhuma e reduziam-se impostos até ao limite, aproveitando ainda para eliminar a histeria do défice.
Escandalosamente -- os famosos tiques autoritários? -- e segundo o noticiário que acabo de ouvir os resultados das 'empresas públicas' foram apresentadas pela primeira vez pelo Governo e não pelas próprias empresas. Shame on... ?
Giuliano Amato Senador Italiano Primeiro-ministro de Itália entre 1992 e 1993 e 2000 e 2001, actualmente ministro do interior do governo Prodi. Professor da Universidade de Nova York e do Instituto Universitário Europeu, Florença Professor de direito constitucional comparado na Universidade de Roma entre 1975 e 1997
O DN traz hoje uma tradução portuguesa do Hound of the Baskervilles, e a capa é um cão sinistro.
O livro, que li quando andava na escola, é delicioso, e a edição do DN terá o destino da maioria das coisas que vêm com os jornais: outro sítio que não a minha casa.
Esta edição foi bastante oportuna, num momento em que Portugal discute -- é o mais próximo que parece chegar-se de política nacional enquanto decorre a presidência portuguesa da UE -- o 'problema' dos cães perigosos.
De um lado vítimas ou pessoas escandalizadas com vítimas de ataques de cães de dadas raças e, do outro lado, os proprietários desses cães, que dizem que os cães são bonzinhos, o problema está nos donos e na forma como tratam os cães.
O que é certo e todos parecem concordar é que os ataques mais graves circunscrevem-se a raças específicas e das duas uma: ou, como dizem os primeiros, essas raças são de facto perigosas, ou, como dizem os segundos, as pessoas 'perigosas' que tratam mal os cães, compram 'essas' raças.
Na Austrália os cães considerados perigosos têm de usar coleiras identificativas. No Reino Unido há um Dangerous Dogs Act que data de 1991. As raças especificadas como perigosas são os Pit Bull Terriers [embora se refira que o Pit Bull abrange várias raças / sub-raças, como os Staffordshire Bull Terriers, American Staffordshire Terriers, American Pit Bull Terriers]; os Tosa, o Dogo Argentino e o cão de fila brasileiro. É preciso ter uma autorização de um tribunal para ter estes cães, e todos devem andar com açaime e trela em público, estar registados e dispor de seguro e ser-lhes implantado um microchip de identificação. A lista de cães periogosos pode ainda abranger outros terriers e os akita inu, alangu Mastiff, alano espanhol, bulldog americano, bully kutta, cão de luta de Córdoba, Dogue de Bordeaux, Dogo Cubano, tibetano, napolitano ou inglês, Dogo Sardesco, gull dong, gull terr, lottatore brindisino, bulldog inglês, perro de presa canario, perro de presa maiorquino, shar pei, staffordshire Bu, ...
É claro que o problema destes cães não existia até há uns 10 ou 20 anos. Até aos anos 70 / 80 havia problemas com cães? Não. algumas destas raças foram especificamente criadas para a luta. Ao contrário dos familiares golden e labrador retrievers, dos sossegados e amigos whippets, dos clássicos e brincalhões cocker spaniel ingleses, dos lindíssimos e meus favoritos: os galgos [os italianos, os de Rampur, os Karwani, os Chippiparai, os Hortaya Borzaya, os Rajapalayam] que não dão problemas de maior ou mesmo nenhuns em termos de segurança, sem deixarem de ser óptimos para a caça e grandes corredores: rápidos, silenciosos independentes.
Há ainda o fantástico fenómeno das lutas de cães , que parecem formar um interessante triângulo: são mais caros que a maioria dos outros, são usados muitas vezes em lutas de cães ou mesmo para atacar pessoas, e eventualmente dão dinheiro pelas apostas nessas lutas.
O ciclo é fatal: compensa-se o dinheiro gasto a comprá-los em lutas que dão dinheiro de apostas, e acabam por tornar-se ainda mais violentos pelas lutas em que participam. Se nas lutas asiáticas de galos não se teme ter galos a matar pessoas nas ruas, no caso dos cães é bem diferente.
O fenómeno sociológico à volta das 'raças perigosas' é também genial. Por alguma razão que não descortino, e que seria interessante ser analisado por sociólogos, polícia e serviços secretos é o tipo de pessoas que são donos desses cães.
Tipicamente, não vivem na Lapa ou no Restelo e provavelmente nem no centro da cidade de Lisboa, por exemplo.
São, em regra, dos subúrbios mais manhosos da capital, que envolvem -- não só mas também -- o famoso 'deserto da margem sul'.
Poderá ver-se esta observação como elitismo: mas com observação, facilmente se percebe que é verdade. Elitismo é precisamemte o que influencia em muito a aquisição desses cães, que acabam por ser sinais de status pessoal em certos bairros.
Mesmo sendo estes cães bastante caros. Ironias de um destino que não se sabe qual é.
Por outro lado, e embora não seja tão certo, é muito comum um mix sociológico com a malta do tuning [o chuning...] e das armas, sendo estes três 'hobbies', grandes negócios do bas-fond / underground e também três brincadeiras bastante perigosas. à qual se junta, por vezes, a participação em grupos políticos extremistas e claques de futebol.
Alguém sente segurança convivendo com cães perigosos, carros alterados e estupidamente velozes e ruidosos [quando os carros 'normais' já ultrapassam e muito aquilo que a lei permite aos condutores fazer], armas, claques ultras?
Não teria qualquer problema a apreciação de cães [esteticamente], ou de carros alterados [se for em propriedades privadas] ou da tecnologia de armas [algumas lindíssimas, e que podem ser calmamente usadas em propriedades privadas], ou de futebol.
Não tenho nada contra isso. Mas não pode aceitar-se que se faça isso em espaços públicos [excepção às claques obviamente].
E no caso das lutas de cães, nem em espaços públicos nem privados: quem faz isso não gosta de cães, é simplesmente sádico.
Não se trata de atacar quem tem hobbies, que pode e deve tê-los nas suas propriedades.
Trata-se de proteger aquilo a que chamamos sociedade e o bem comum.
Quem não percebe isso deve arranjar pais que lhe expliquem ou voltar à escola.
E quem não respeita isso não pode ter lugar na nossa sociedade, porque a coloca [e no caso das lutas de cães, os próprios animais] em perigo.
Como sorri agora, ao ler a citação que Pacheco Pereira faz de Santana Lopes, no rescaldo das 'intercalares' para Lisboa: 'Santana Lopes tem toda a razão: 'Candidatos em relação aos quais não se conhecem programas, propostas, ideias e diferenças é a mesma coisa que manequins numa passerelle'. E fala com autoridade porque conhece bem essa passerelle'.
Mas vamos ao pós-intercalares. O CDS foi conhecido, recentemente, como partido do táxi.
Nessa perspectiva, o PND seria o partido da cabine telefónica, mas sem qualquer fleuma britânica.
Esta semana Manuel Monteiro sai do PND [deixa portanto de haver PND, partido unipessoal?], deixando espaço político ao PNR.
O PSD tem um líder também insonso, que sonsamente pede eleições internas antecipadas, sem que apareçam outros candidatos, que estão a deixar a palha queimar.
O PS continua na mesma, como partido de centro-direita e imagem de centro-esquerda. Com um governo, uma maioria, um presidente e um presidente de câmara.
Num país onde se comentam tiques autoritários, em crise económica, em presidência do Conselho Europeu [que nos faz esquecer as tropelias da política interna], não ter oposição -- ou não ligar à que resta -- é mau. Muito mau.
Se as condenações foram 'exemplares', seria interessante saber também o que acontece à polícia que, após as primeiras queixas de violência, que terão sido apresentadas pela jovem com identificação do seu pai, nada teria feito.
E ainda -- porque envolve o Estado e muitos outros casos -- da aparente 'política de ingerência' da polícia britânica em 'assuntos familiares' de 'minorias étnicas'.
Num Reino Unido inundado de água e agora de livros do Harry Potter, soube-se hoje que a morosa e mediática investigação 'Cash for Peers', em que se apurava se o Partido Trabalhista inglês, com o apoio do Primeiro Ministro 'Tony' Blair tinha conferido peers por donativos ao 'partido', em 'nada deu'. Há 732 peers na House of Lords. Dos quais 600 são vitalícios. A maioria desses foi retirada, mas restam 92.Os outros mantêm-se Lords, mas deixaram de ter lugar no Parlamento.
É o que todos parecem queixar-se: que a investigação foi um flop. Que depois de se interrogar várias vezes o Primeiro Ministro e outras individualidades, durante 1 ano e 4 meses, e um milhão de libras ['300 mil contos'], com raids na residência do primeiro-ministro, incluindo a retirada de computadores para exame, a nada se chegou, nada se conseguiu provar.
'If any person accepts, obtains or agrees to accept or obtain from any person, for himself or for any other person, or for any purpose, any gift, money or valuable consideration as an inducement or reward for procuring or assisting or endeavouring to procure the grant of a dignity or title of honour to any person or otherwise in connection with such a grant, he shall be guilty of a misdemeanour' s.1 do 1925 HONOURS (PREVENTION OF ABUSES) ACT.
Num dos Itsu de Londres morre um russo, num suposto envenenamento com uma substância radioactiva. O resto da história já se sabe: o Reino Unido pede a extradição de um russo no processo de investigação do envenenamento, a Rússia recusa, o Reino Unido expulsa diplomatas russos, e a Rússia retalia na mesma moeda.
O Conselho da UE, presidido neste semestre por Portugal, emitiu hoje uma declaração 'sobre o caso Litvinenko', copiada abaixo.
Nessa declaração, o Conselho Europeu toma partido pelo Reino Unido. Tal espera-se, dado o Reino Unido ser membro da UE e a Rússia não.
SECRETARY RICE: It's very clear what needs to happen in this current situation. There was a terrible crime committed on British soil. That crime needs to be investigated and the perpetrators brought to justice and punished. It is going to be very difficult to do that without the extradition of those who are requested by the British and without the full cooperation of Russia. So this is an issue of rule of law -- to our minds not an issue of politics, it's an issue of rule of law. And so I think if we get back to the basics here, it is a matter of Russia cooperating fully in what is simply an effort to solve what is was a very terrible crime committed on British soil.
A Rússia, sabe-se, invoca a sua Constituição, que proíbe a extradição de nacionais.
É normal. Acontece assim em quase todos os países com constituição [que não é o caso do Reino Unido, que não tem constituição, embora tenha um Extradition Act].
A Constituição russa é clara:
Article 61.
1. The citizen of the Russian Federation may not be deported out of Russia or extradited to another state.
2. The Russian Federation shall guarantee its citizens defense and patronage beyond its boundaries.
Ora sendo a questão jurídica e a lei clara, não há nada a fazer.
Nos Estados constitucionais, as constituições proíbem, quase sempre, a extradição de cidadãos desse país.
Assim é na:
- Alemanha Article 16 [Citizenship; extradition] (2) No German may be extradited to a foreign country.
- Espanha Artículo 13 3. La extradición sólo se concederá en cumplimiento de un tratado o de una ley, atendiendo al principio de reciprocidad. Quedan excluidos de la extradición los delitos políticos, no considerándose como tales los actos de terrorismo.
- EUA US Code T.8 Part II Chap. 209, §3181. Scope and limitation of chapter (b) The provisions of this chapter shall be construed to permit, in the exercise of comity, the surrender of persons, other than citizens, nationals, or permanent residents of the United States,
- Itália Art. 26. L'estradizione del cittadino può essere consentita soltanto ove sia espressamente prevista dalle convenzioni internazionali. Non può in alcun caso essere ammessa per reati politici.
- Japão [Lei da Extradição - 68/1953] (Restrictions on extradition) Article 2. (9) When the fugitive is a Japanese national.
- Suíça Article 25 Protection Against Expulsion, Extradition, and Removal by Force (1) Swiss citizens may not be expelled from the country; they may be extradited to a foreign authority only with their consent.
- etc.
Este princípio tem vindo a ser mitigado, e crimes como os de terrorismo internacional podem ser excepções que admitam a extradição de um nacional. Mas a regra mantém-se e sempre em reciprocidade.
No entanto, a própria Rússia já pediu, como se sabe, a extradição de vários cidadãos no Reino Unido -- inclusive por terrorismo na Tchetchénia -- tendo os seus pedidos sido negados.
Por outro lado, sucederam casos semelhantes como por exemplo o de Ronald Biggs, que fugiu para o Brasil, que em regra não extradita ninguém [Biggs era britânico e não brasileiro] e o Reino Unido nunca quebrou relações diplomáticas com o Brasil por causa disso. E assim sucedeu em muitos outros casos, menos mediáticos.
Article 6 – Extradition of nationals 1. A Contracting Party shall have the right to refuse extradition of its nationals.
O problema deste caso é pois conjuntural e nada jurídico. A Rússia parece estar a levantar-se e há quem não esteja a achar muita piada. É mais isso. E no rescaldo da crise EUA-Rússia por causa da base antimíssil americana na Europa, ironicamente, os EUA parecem hoje não apoiar os ingleses: ao recordar que a questão é jurídica e não política. Porque se é jurídica, já se percebeu quem tem razão. E não é o Conselho Europeu.
'CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA Bruxelas, 18 de Julho de 2007 11976/07 (Presse 174) P 58 (OR. en)
Declaração da Presidência, em nome da União Europeia, sobre o caso Litvinenko
A Presidência recorda a sua declaração de 1 de Junho sobre o assassinato de Alexander Litvinenko, um crime grave e irresponsável. A UE manifesta a sua decepção ante a falta de cooperação construtiva da Rússia com as autoridades do Reino Unido. A UE salienta a importância e a urgência de uma cooperação construtiva por parte da Federação da Rússia nesta matéria. A UE espera uma solução satisfatória para este caso, que levanta importantes questões de interesse comum para os Estados-Membros'.
imagem: The Tank and the Waterfall , Last Riot2 [2oo6] AES+F, um colectivo de artistas russos que vi recentemente na Sotheby's, Londres. Precisamente...
'Os vestígios e as estruturas' [ver abaixo] como esta, estão em risco. Neste caso concreto, a capela do MNAA, pouco mais de um ano volvido da fotografia, parecem existir infiltrações e parcial desabamento do tecto da capela, que teve de ser encerrada e não foi incluída na apresentação das renovações levadas a cabo este ano no MNAA [e mesmo assim sem grande apoio público, sendo grande parte das obras financiada pela própria construtora civil conhecida da directora do MNAA].
Enquanto isso, constroem-se estádios e planeiam-se aeroportos.
Museu Nacional de Arte Antiga Lisboa I 2005, 2005 Ed.: 3/6 C-Print 252,4 x 205 cm
Em 2005 o CCB convidou a fotógrafa alemã Candida Höfer a visitar Portugal, para fotografar interiores de monumentos e edifícios públicos e privados portugueses.
As visitas decorreram entre Outubro de 2005 e Julho de 2006, e o resultado foi a série Portugal, que inclui cerca de 70 fotografias inéditas de grande formato com imagens dos interiores do Panteão Nacional, Mosteiro dos Jerónimos, Convento de Mafra, Sociedade de Geografia, Biblioteca Nacional, Palácio de Belém, Biblioteca e Palácio Nacional da Ajuda, Fundação de Serralves, Casa da Música, Coliseu do Porto e Biblioteca da Universidade de Coimbra, entre outros.
Candida Höfer elegeu o espaço como tema central da sua obra, 'espaços onde, apesar de ausente, o Homem marca presença constante através dos vestígios que deixou e estruturas que criou', como se lê no catálogo do CCB.
por Oscar WILDE, na Pall Mall Gazette de 28.2.1885:
'‘How can you possibly paint these ugly three-cornered hats?’ asked a reckless art critic once of Sir Joshua Reynolds. ‘I see light and shade in them,’ answered the artist. ‘Les grands coloristes,’ says Baudelaire, in a charming article on the artistic value of frock coats, ‘les grands coloristes savent faire de la couleur avec un habit noir, une cravate blanche, et un fond gris.’
‘Art seeks and finds the beautiful in all times, as did her high priest Rembrandt, when he saw the picturesque grandeur of the Jews’ quarter of Amsterdam, and lamented not that its inhabitants were not Greeks,’ were the fine and simple words used by Mr. Whistler in one of the most valuable passages of his lecture. The most valuable, that is, to the painter: for there is nothing of which the ordinary English painter needs more to be reminded than that the true artist does not wait for life to be made picturesque for him, but sees life under picturesque conditions always—under conditions, that is to say, which are at once new and delightful. But between the attitude of the painter towards the public and the attitude of a people towards art, there is a wide difference. That, under certain conditions of light and shade, what is ugly in fact may in its effect become beautiful, is true; and this, indeed, is the real modernité of art: but these conditions are exactly what we cannot be always sure of, as we stroll down Piccadilly in the glaring vulgarity of the noonday, or lounge in the park with a foolish sunset as a background. Were we able to carry our chiaroscuro about with us, as we do our umbrellas, all would be well; but this being impossible, I hardly think that pretty and delightful people will continue to wear a style of dress as ugly as it is useless and as meaningless as it is monstrous, even on the chance of such a master as Mr. Whistler spiritualising them into a symphony or refining them into a mist. For the arts are made for life, and not life for the arts. [...] For all costumes are caricatures. The basis of Art is not the Fancy Ball. Where there is loveliness of dress, there is no dressing up. And so, were our national attire delightful in colour, and in construction simple and sincere; were dress the expression of the loveliness that it shields and of the swiftness and motion that it does not impede; did its lines break from the shoulder instead of bulging from the waist; did the inverted wineglass cease to be the ideal of form; were these things brought about, as brought about they will be, then would painting be no longer an artificial reaction against the ugliness of life, but become, as it should be, the natural expression of life’s beauty. Nor would painting merely, but all the other arts also, be the gainers by a change such as that which I propose; the gainers, I mean, through the increased atmosphere of Beauty by which the artists would be surrounded and in which they would grow up. For Art is not to be taught in Academies. It is what one looks at, not what one listens to, that makes the artist. The real schools should be the streets. There is not, for instance, a single delicate line, or delightful proportion, in the dress of the Greeks, which is not echoed exquisitely in their architecture. A nation arrayed in stove-pipe hats and dress-improvers might have built the Pantechnichon possibly, but the Parthenon never. And finally, there is this to be said: Art, it is true, can never have any other claim but her own perfection, and it may be that the artist, desiring merely to contemplate and to create, is wise in not busying himself about change in others: yet wisdom is not always the best; there are times when she sinks to the level of common-sense; and from the passionate folly of those—and there are many—who desire that Beauty shall be confined no longer to the bric-à-brac of the collector and the dust of the museum, but shall be, as it should be, the natural and national inheritance of all,—from this noble unwisdom, I say, who knows what new loveliness shall be given to life, and, under these more exquisite conditions, what perfect artist born? Le milieu se renouvelant, l’art se renouvelle. [...]'.
Yinka SHONIBARE [1998] Diary of a Victorian Dandy: 21.00 Hours
Direitos dos utentes das autoestradas, 'ICs' e IPs'.
Mais cedo ou mais tarde teria de acontecer.
Depois de acidentes com cães, pedras e qualquer dia ovnis saídos das portagens.
Resta saber como será desenvolvido [nos próximos 180 dias] legislativamente e aplicado na prática o regime de direitos dos utentes das principais estradas portuguesas, uma pequena lei publicada hoje no DR e que pode ser consultada aqui.
Paulo Portas: 'o poder é a pior coisa que há [...] eu sou geneticamente contra o poder, seja ele de quem for [...] no dia em que algum amigo meu lá chegar, eu passo-me para a oposição ou deixo de ser amigo dele, percebe?'
Zita Seabra: 'Paulo, quem é que tem mais poder? Se o Paulo ao ser director do Independente, ou se o Ministro do Mar, ou o ministro de outra coisa qualquer?'
Paulo Portas: 'O do mar é um pouco vago. É uma coisa um pouco vaga...'.
Em entrevista ao Expresso, Saramago diz não ser profeta, mas antecipar uma inevitável integração de Portugal em Espanha.
Lorenzetti pergunta-se se será uma espécie de Ega:
'Ega vê a salvação nacional numa invasão espanhola que varresse as classes dominantes e despertasse uma resistência nacional vinda da base populacional' [1]
Ou se será algo mais próximo de Antero de Quental:
'nas nossas actuais circunstâncias o único acto possível de verdadeiro patriotismo consiste em renegar a nacionalidade'
[1] Óscar LOPES [1984] Álbum de Família, Ensaios sobre autores portugueses do século XIX, Lisboa: Caminho, p.106.
[2] cit. em 15-16 António José SARAIVA [1995] A Tertúlia Ocidental, Estudos sobre Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queiroz e outros, Lisboa: Gradiva, pp.15-16.
'Carlos é, sobretudo, um modelo de diletantismo. Já nesse período de estudante de medicina escreve sonetos, contos flaubertianos, artigos de apreciação estética, e tenta a pintura a óleo. Colecciona experi»ências de amor, como colecciona bricabraque, impressões de viagem, ou como pratica nobres desportos. [...] Nunca chega a exercer a profissão, nem a fazer ciência, nem sequer a concluir o livro sobre a medicina grega que iniciara com requintes de prosador'.
Óscar LOPES [1984] Álbum de Família, Ensaios sobre autores portugueses do século XIX, Lisboa: Caminho, p.99
Seria importante responsabilizar o próximo presidente pelo que fizer e pelo que não fizer.
E a propaganda [a sujaganda, como dissemos noutro post], totalmente inútil, ruidosa, poluente e cara [e pois uma das razões do financiamento duvidoso e corrupção de partidos e governos] deve ser posta de lado.
'A arte e a litteratura de um povo constituem duas fulgurantissimas manifestações da alma d'esse povo. Não se pode conceber um povo civilisado, sem uma arte sua e auma litteratura sua; se existisse tal povo, não teria elle alma que valesse a pena mencionar-se; seria um aborto moral. [...] O Japão é todo arte. Não se pode dizer que n'elle abundem os artistas, -- seria mesmo um crime pensal-o. -- No Japão, toda a gente é artista. -- N'este paiz, a arte é comparavel a uma emanação, commum a todas as flôres da mesma especie. Mas, afinal, o que é a arte?... Eu sei lá o que é a arte! [...] Arte é qualquer d'estes artigos, ainda o mais insignificante, um brinquedo para creanças por exemplo, se o brinquedo guarda a feição typica, nacional. Observando os objectos de loiça para uso commum, á venda nos estabelecimentos da especialidade, arte é o delicadissimo bule para chá, com a sua aza de bambú, que exclue a inconveniencia das queimaduras, servindo o liquido; é a pequenina taça de saké, o vinho indigena, deliciosamente ornamentada; é o bojudo brazeiro, que se enche de cinzas, onde poisam as brazas, de serviço constante no inverno, no comforto dos domicilios; é o jogo de recipientes em forma rectangular, assentando uns sobre os outros, com uma tampa sobreposta, destinado a iguarias diversas, para uma mesma refeição [...] Ha uma coisa n'este mundo, inteiramente incompativel com a arte: -- é a sciencia. -- Arte e sciencia são inconciliaveis entre si [...] A arte é mais modesta, contenta-se com pouco; bastando-lhe, em rigor, a inspiração, a chamma do genio a esbrazear dentro do cerebro. [...]
Wenceslau DE MORAES [1925] Relance da Alma Japonesa, Lisboa: Livraria Bertrand, pp.161-165
Índice:
I - Primeiras ideias II - A linguagem III - A religião IV - A historia V - A vida na familia VI - A vida na tribu VII - A vida no Estado VIII - O amor IX - A morte X - A arte e a litteratura XI - Synthese dos aspectos XII - Té onde irá a alma japonesa?
Foi o nome dado à autobiografia e filme de Nick Leeson, o 'jovem' inglês que era trader no Barings, o primeiro banco de investimento de Londres, aberto em 1762 e falido em 1995, devido a cerca de um bilião de dólares perdido em dois anos de posições abertas por Leeson enquanto trader de futuros para o Barings em Singapura.
Leeson acabou por ser preso por fraude em Singapura e libertado em 1999, 4 anos depois, e hoje o seu 'êxito' nos mercados [era o maior trader no SIMEX, o mercado de futuros de Singapura, incorporado no ano da libertação de Leeson e do lançamento do filme -- na bolsa de Singapura] foi substituído pelos discursos que faz em vários eventos sociais, podendo ser 'contratado' através da agência NMP.
A falência do Barings -- que colocou a primeira emissão de obrigações portuguesas no exterior, em 1802 --continua a ser, ao lado da fraude do BCCI, o maior escândalo financeiro mundial e a demonstração de como a regulação dos mercados é importante, por um lado, e de como mesmo no mais sofisticado dos ambientes tudo pode ir ao ar por algo aparentemente insignificante ou negligentemente ignorado.
O filme é relativamente banal, mas vale a pena ler o livro que, como todas as autobiografias, não será 'a verdade', mas um conjunto de dados que merecem análise, sobretudo para quem se interessa por mercados financeiros, economia, direito, gestão, ou simplesmente queira perceber como tudo se passou. Mesmo para quem já conhecia o caso, é sempre uma oportunidade de ler alguns desabafos que devem ter incomodado o interior do Barings e dos seus clientes, e a esse preço animar [e até certo ponto informar] o leitor.
Como referiu o NYTimes ao criticar o livro quando publicado, 'Mr. Leeson prefers to place the blame on superiors, who in his view had more blue blood than brains, and who failed to spot some clear signs of fraud'. ... 'Mr. Leeson, who is the son of a plasterer, clearly views himself as a working-class hero. He never went to college, but managed to get a job in the back office of a British bank, and then moved on to Morgan Stanley and to Barings, where he sorted out the trades others had made and learned the nuts and bolts of the options and futures markets.' ... 'British press reports, denied by Mr. Leeson's lawyer, say investigators have located $35 million in Leeson bank accounts. This book certainly provides no clue as to how such a sum might have been accumulated.
The fraud should have been spotted in 1993, not long after it began, rather than remaining hidden until Mr. Leeson quit early in 1995. But auditors failed to make obvious checks and accepted idiotic answers when they did spot something odd.'
... This is a dreary book, written by a young man very taken with himself, but it ought to be read by banking managers and auditors everywhere. Those who don't need the lesson will simply be astounded by the attitudes of the author, who is appalled by a Bank of England report that lets his superiors off easy when, to Mr. Leeson's mind, it was their bad management, far more than his perfidy, that brought on the collapse'.
Nick LEESON e Edward WHITLEY [1996] Rogue Trader: How I Brought Down Barings Bank and Shook the Financial World, London: Little, Brown & Company
E não falar de Segurança e Cultura, ao lado do tema essencial da Reabilitação Urbana é não falar de Lisboa e dos problemas que é preciso resolver.
Felizmente não houve momentos destes, bem presentes nas últimas eleições:
Mas todos parecem concordar que numa cidade de 84km2, 53 freguesias e cerca de meio milhão de residentes [a descer desde 1960, altura em que eram mais de 800 mil], doze candidatos é demais.
Sendo essa uma realidade relativamente inalterável, é preciso analisar o que se tem.
O PS foi buscar um ministro, sem que se perceba como pode o maior partido português não ter alkguém disponível e preparado para o cargo, sem ter de tirar um ministro [e substituí-lo por Rui Pereira, que mal teve tempo de aquecer o lugar para o qual tinha sido nomeado no Tribunal Constitucional]. Não se percebe qual é o programa além de retirar o aeroporto da Portela e de colocar lá um jardim [jardim que alguns candidatos já disseram ser a maior mentira do século, e cuja verdade seriam os projectos imobiliários manhosos do costume]. E a vitória para o PS seria o expandir da famosa frase 'uma maioria, um governo, um presidente' para 'uma maioria, um governo, um presidente, uma capital'. O próximo passo é o Porto?
O PSD foi buscar um 'independente', ex-chefe da polícia, o juiz Negrão, que além da confusão EPUL/EPAL, IPPAR, etc., não tem qualquer carisma e pelo que se percebe, e a acompanhar COsta, a ausência de um programa coerente, e apenas o argumento de 'estabilidade' e de 'ordem' na Câmara. Porém, como se tem visto em casos como o de Oeiras e Isaltino Morais, os cidadãos querem resultados e não querem saber se isso é com ordem ou desordem. O que desde que não ultrapasse os limites, até pode ser razoável -- pode haver alguma desordem se o resultado for positivo [desde que a desordem não seja alguém fugido à justiça ou claramente corrupto] pois o facto de ter um ar arrumadinho [veja-se Marques Mendes] nada indica sobre a obtenção de bons resultados.
O PCP aposta em Ruben de Carvalho, cuja falta de carisma assombra os resultados, sobretudo quando tem ao lado Sá Fernandes e Roseta, que lhe 'roubarão' alguns votos [e muitos mais 'roubarão' ao PS]. Foi importante ter relembrado que o activo da CML é imensamente superior ao seu passivo e que portanto, em termos contabilísticos, a CML não está falida, como alguns querem fazer crer, no habitual discurso 'luso-fatalista', onde a mania dos défices parece justificar as medidas mais horrendas e o abafar de direitos constitucionais. É também sua a proposta -- velha mas muito útil -- de metro no aeroporto e de uma autoridade metropolitana de transportes que regule a estrutura e qualidade dos transportes públicos na cidade e no acesso a ela.
O PPM apresenta Câmara Pereira que apesar dos disparates que por vezes diz, e de um discurso pouco articulado [o que talvez o torne o candidato 'duh' AKA tecla3], tem dois pontos muito positivos -- reconhece [algo semelhante ao PCP] que o programa é o mesmo de sempre, e opõe-se [com todo o apoio de Lorenzetti e, pelo que vi das últimas sondagens, da maioria dos Lisboetas] a nova construção, até que seja recuperada a já existente. Esta devoção ao património é um grande trunfo do PPM. Negrão, por exemplo, já afirmou -- no debate da RTP -- que não iria parar a construção.
Roseta surge como um reavivar do espírito de uma 'campanha Alegre' vivida nas últimas presidenciais, e tem sido sem dúvida a candidata mais inteligente destas eleições, como se tornou claro no debate a 12 na RTP. A aplicação da 'acupunctura urbana' foi ar fresco e um método necessário em Lisboa, que tem de renovar o seu património já, sob o risco de perdê-lo.
Garcia Pereira candidata-se como sempre, com a já [in]famosa frase 'são sempre os mesmos que falam, estão-me a cortar o tempo' e é de louvar o seu plano estratégico para um porto a sério em Lisboa, e para a reestruturação dos acessos ferroviários à cidade e [em colaboração com o Governo evidentemente] ao país.
O MPT apresentou propostas muito simpáticas e parece ter-se preparado bem -- ou pelo menos reduziu o discurso àquilo que preparou, o que não deixa de ser mais feliz que a maioria dos candidatos]. A ideia de transferir parte das receitas das portagens de acesso a Lisboa para a CML são positivas [e uma 'congestion charge' mais justa, pois é cobrada 'como acesso' e não como 'assinatura']. Provou que não é necessário mais um aeroporto, pois os slots da Portela [disponíveis no site da ANA] estão quase todos disponíveis. Referiu ainda a igualmente verdadeira, inconveniente realidade da inexistência de inventariação do património camarário. Como é possível governar uma cidade sem saber o que tem a sua câmara? E como é possível avaliar a dívida e negociar empréstimos e afins sem saber a posição financeira real da cidade enquanto devedor?
O CDS esteve no seu pior e a ausência de ideias, associada a um caciquismo mal educado e desagradável, nada expectável de quem se afirma conservador, era dispensável. Continua sem se perceber se o candidato é Telmo Correia ou Paulo Portas Reloaded.
O Bloco de Esquerda mantém a política do 'não' e a contestação parece não estar sustentada por nada de substancial. Se é certo muito do reclamar, é também evidente, e como frisou a sofrível moderadora do debate na RTP, já ninguém quer diagnósticos, porque os fez enquanto cidadão, querem-se soluções. E não basta boa vontade.
O PNR teve piada pelo estilo, embora o conteúdo seja discutível [sobretudo o ódio aos gays e afins] e aquilo que todos sabem ser a ideologia por trás do partido em causa. È igualmente impressionante o ódio que parece sair dos olhos e do discurso do candidato [hate speech?]. É interessante o facto de ser antisistema, e subtis alguns dos seus argumentos, mas o problema é que a alternativa que apresenta não servir a todos e implicar a exclusão de parte da sociedade ['gays e afins']. É no entanto correcto que exiete um lobby gay e que a CML não deve apoiar manifestações gay. Mas não porque sejam antinatura ou outra das razões apresentadas pelo PNR. Tão simplesmente porque a sexualidade nada deve ter a ver com a câmara, e porque os gays não são, nem devem ser, uma causa pública, mas uma opção privada de quem quiser e com os seus fundos.
Manuel Monteiro continua no PND como one man show, e parece um mix PNR / MRPP. PNR pela ideologia, MRPP pelo estilo. Pelo que bastará ler o que se escreveu acima. É bom ter ideologia, e Monteiro têm-na, mas falta o resto. Mudar de óculos não foi suficiente.
Não sei quem vai 'ganhar' nestas eleições. Mas todos sabemos que a cidade vai perder tudo o que tem se não se recuperar o seu património histórico. Que é tudo aquilo que lhe resta.
imagem: Noticia estadistica de Lisboa [Material cartográfico : ou breve notícia das cousas mais notaveis que Lisboa contem e planta da cidade de Lisboa.... - Lisboa : Oficina de Stª. Cathª., 1834. - Not. em 5 tábuas, metidas em caixa de cartão, na Biblioteca Nacional.