07 outubro 2005

Sujaganda


Spam era uma marca de carne enlatada que originou um conhecido gag dos Monty Python.

Do gag passou-se a SPAM como termo 'técnico' a designar mensagens não solicitadas.

A Propaganda política tornou-se [ou é hoje explicitamente] SPAM.

É claro que, 'juridicamente', não é SPAM. Porque se entende de interesse público.

Discordamos.

Não porque defendamos a proibição da propaganda política através da sua qualificação como SPAM. Nada disso.

O que sucede é que o interesse público não está na forma da propaganda, está no conteúdo.

E o conteúdo terá de ser, necessariamente, algo correspondente ao que será executado no exercício do poder político eleito.

A peça fundamental de tudo isto é clara: o Programa Eleitoral.

Em qualquer eleição política [inclusive, com as devidas adaptações, para a Presidência da República] o Programa é o essencial.

É dele que tudo depende.

Deve ser claro, com princípios curtos, fundamentais e transparentes. E deve fornecer pistas bem definidas [não necessariamente bíblias de execução!] daquilo que será feito para atingir os objectivos propostos e respeitar os princípios de base.

E tal documento é a base da proposta política, da votação política, da decisão política e do julgamento político subsequente.

Outdoors e as típicas caravanas de campanha, além do verdadeiro merchandising digno de qualquer parque temático [canetas, bonés, aventais, óculos de Sol, e toda uma parafernália típica de feira] descredibilizam a campanha política e ofuscam o essencial.

E, claro, sujam todo o país, sobretudo as cidades. Gasta-se papel inutilmente.

E é evidente: muito dinheiro, que tem de vir de algum lado.

Ora com a descida maciça da militância política, e das baixas contribuições feitas para os partidos [à excepção daquele que, como se sabe, fica com percentagens dos salários auferidos pelos seus membros], nada mais resta do que a dependência do financiamento privado, regra geral empresarial, incluindo associações patronais e sectoriais de vária índole.

Sem que, como se sabe, tais financiadores sejam, em regra, conhecidos, sobretudo as quantias dadas por cada um.

Assim, a propaganda é, em suma, contraproducente, pois ofusca o verdadeiro debate político e o compromisso claro com o eleitorado; prejudica o ambiente e a qualidade de vida; incentiva à corrupção, pelas receitas enormes que se exige para financiar o mercado da publicidade, desde o design de campanhas até à sua execução e distribuição de materiais.

Propaganda para quê?

Um exemplar do Programa Eleitoral por cada Português e debates públicos com todos os candidatos. Nas autárquicas, nas legislativas e nas presidenciais. E, se possível, nas europeias.

Nada mais.