19 outubro 2007

G8 , Lisboa e o Tratante

Pensei em intitular este post 'O Tratado e o Tratante', mais do que Tratador, mas não.

A cimeira europeia desta semana em Lisboa fez-me recordar o G7 / G8, em particular o contexto em que se realiza: alta segurança, protestos mesmo ao lado, aprovação de matérias pelos eleitos não discutidas [nem sequer dadas a conhecer] pelos eleitores.

Regressa pois o famoso défice democrático da UE: aprovou-se um tratado que ninguém conhece senão os que o redigiram e aprovaram. E graças ao método neo-socrático, foi tudo rápido, embora não necessariamente indolor ou limpo. E claro, Sarkozy parecia padecer do mesmo mal que no G8, desta vez ao chegar às 17h, quando sai do carro cambaleante e chega a afagar o rosto de Sócrates...



Como referia o DN de hoje à meia noite e 45 mins, 'Após um dia inteiro de negociações no Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, em Lisboa, os dirigentes celebraram com champanhe o novo documento que irá substituir a fracassada Constituição Europeia, rejeitada por referendo em França e na Holanda em 2005. A decisão hoje alcançada vem culminar um processo iniciado em Junho pelos 27 e é já considerado um dos acordos mais rapidamente aprovados na história dos Tratados da construção europeia.'.

E assim acontece: se os eleitores dizem não, dá-se um retoque e apresenta-se outra vez: água mole em pedra dura...

Não é novidade: todos se recordam dos referendos consecutivos até obter sim.

Vamos ver agora como corre a ratificação. Se com referendo [prometido pelo PS e José Sócrates] ou se sem referendo.

Em qualquer caso, parece ser sem conhecimento popular. O que é problemático, pois quem não deve não teme.

Sócrates e o governo PS engoliram, no entanto, o pseudoargumento do papão comuna: afinal, Sócrates [e não Guterres, Cavaco, Durão ou Soares] apanhou com a maior manifestação de protesto popular que a nossa democracia conheceu nos últimos 20 anos: além das vaias às quais já se habituou -- 'juntou 200 mil nas ruas - números confirmados pela polícia e que superaram todas as expectativas. Debaixo de um calor muito intenso para um mês de Outubro,' diz o DN.

É difícil acreditar que aquelas 200 mil pessoas fosses comunistas... Em qualquer caso, não foram só elas a protestar: também os donos de restaurantes e bares no Parque das Nações protestaram: foram obrigados a fechar por uns 2 dias por causa da cimeira e não receberam da UE ou do Governo português um tostão pelo lucro perdido... 'sue me' terá sido a resposta.

No Público é interessante a referência a Gordon Brown, que está neste momento abaixo dos conservadores nas sondagens [e que não foi eleito, mas 'nomeado', na sequência da fuga de Blair depois do escândalo 'Cash for Honours']: 'Quem se depara com um processo mais complicado é o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que teve de passar muito tempo a explicar que o tratado não é uma constituição, recusando por isso levá-lo a votos. Mas a oposição está a exigir uma votação popular e o primeiro-ministro preparar-se-á, segundo o diário "The Times", para três meses de discussão parlamentar em que espera convencer os eurocépticos de que o texto respeita o interesse nacional britânico e que é demasiado técnico para ser referendado'.

Lê-se ainda no SOL que 'Ao contrário do PSD e do CDS-PP, o PCP, o BE e Os Verdes não felicitaram o acordo alcançado na Cimeira de Lisboa sobre o novo tratado. «A história deu um passo à frente e os senhores ficaram para trás», reagiu Augusto Santos Silva'.

Não Senhor Ministro... Portugal ficou para trás.

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