Referendo à Europa.
Promessa eleitoral de Sócrates e governo PS, já ninguém parece acreditar num referendo à Europa, que também não existiu na adesão nos anos 80.
Desta vez seria um referendo ao Tratado e em particular não ao seu texto em geral, mas ao modelo de governo das instituições europeias, aos princípios fixados no Tratado, e ao nosso futuro.
Se a Europa é de cidadãos [e não de Estados], onde até há eleições europeias, não se percebe que não seja dada voz aos portugueses.
Em primeiro lugar, porque, precisamente, é uma Europa de Cidadãos, e não uma mera associação de Estados.
Segundo, porque era uma promessa eleitoral sem condições. E não a cumprir é alinhar pela mentira, falta de lealdade aos portugueses, e falta de condições para continuar a governar o país.
Terceiro, porque é de esperar que nos últimos 20 anos os portugueses tenham aprendido algo sobre a Europa de que fazem parte, e portanto não vale mais o argumento, dos anos 80, de que os portugueses nada sabiam.
Quarto, e mais importante, porque a ignorância não pode ser desculpa para a retirada do direito de voto. O que sabem os portugueses sobre os partidos e pessoas em quem votam? E não têm direito de voto?
Negar o referendo e o voto dos Portugueses à Europa é pois assumir que se lhes mentiu nas eleições legislativas, e sobretudo chamar-lhes estúpidos.
É assumir que nada sabem sobre a Europa e o que querem para ela e pois para si mesmos.
Ora se assumirmos isso assumimos também que nada sabem de assuntos nacionais: o que sabem os portugueses de economia, direito, finanças, ciência, educação, defesa, energia, turismo, negócios estrangeiros, administração interna? Tão pouco ou nada.
Mais valia então acabar com o direito de voto e atribuí-lo 'a quem sabe', não? Chama-se a isso aristocracia.
E é o que parece querer-se fazer agora, pelo menos quanto ao Tratado Europeu / União Europeia, como desculpa para não a referendar.
Quem não deve não teme, e se Sócrates tem medo de que o resultado do referendo seja contrário à sua opinião pessoal, tem mais uma razão para o fazer e das duas uma: conformar-se com a opinião dos portugueses ou arranjar um emprego e convocar eleições.
Quanto à oposição, nada menos se espera do que uma moção de censura, e a ponderação do chumbo do próximo Orçamento.
A queda do Governo não seria uma causa de crise. Essa já chegou. Seria uma consequência natural.
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