o Essencial do HipHop é o Acessório
Recentemente fui a um club de hiphop em Londres. E fiquei a pensar no assunto.
Havia uma coisa chamada rap, há uns tempos. E antes disso, na Jamaica dos 60s onde a expressão MC era mesmo mestre de cerimónias, no caso, cerimónias populares.
A coisa era de rebeldes, alguns com cérebro, que até tinham algumas letras provocantes E interessantes. E veio o funk... e o break...
Mas depois apareceu um termo chamado gangsta rap [Tupac e Notorious B.I.G. foram os grandes protagonistas, inclusive com a própria morte] e depois o hiphop. A provocação continuava, mas sem interesse.
As cerimónias tinham acabado e a revolta contra a pobreza também. Agora o bom era ser [novo] rico e abusar do poder através do sexo [as chicks passaram a ser bitches] e o sonho de igualdade deu lugar à progressão a todo o custo ['get rich or die try'in'], onde as armas são uma ajudinha. Tinha de ser ser 'mauzão'.
Mais tarde, quando só restava a provocação, esta passou a ser banal.
Era a antítese. Já ninguém tinha medo ou pelo menos achava peculiar um bando de indivíduos que diziam 'asneiras' e cuspiam para o chão [mesmo dentro de edifícios] e vestiam 3 números acima, com especial predileccção para roupa 'desportiva', a bem dizer de equipas de basket norte-americanas e coisas assim.
A certa altura a roupa não restava. As letras não falavam de política, mas de violações e assassinatos feitos por pura piada.
Sem roupa, restavam os acessórios.
O Essencial tinha desaparecido.
Agora é só Acessórios: os brinquinhos brilhantes, os bonés de lado, os ténis brancos, as calças de ginásio de subúrbio, os lencinhos brancos debaixo dos bonés, as meias em cima das calças... e claro, o peito a descoberto com umas quantas tatuagens e cordões de ouro.
Mas o 'yô yÔ', a roupa larga, os gestos inexplicáveis com dedos e braços e o 'ser javardolas é bom, e eu sou um granda dread' cansam. Para não falar das secantes palmadas no traseiro.
Será interessante ver qual o efeito de vídeos e fotografias desta 'gente' hoje nas suas vidas, quando tiverem uns 30 anos.
Como todas as modas, esta está a chegar ao fim, a menos que -- pela suas características tão 'próprias' -- seja suicida. Pelo menos cerebralmente falando...
Marcadores: hiphop, musica, sociedade, violacao, violencia, violencia domestica
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