07 maio 2007

Goya fantasmagórico


Já estamos a imaginar o efeito: vão aparecer uns livrinhos manhosos sobre Goya e provavelmente fazer-se alguns programas de TV.

Acontece sempre isto quando aparece um filme sobre um determinado artista.

Mas sempre é melhor do que manter as pessoas na [absoluta] ignorância, mesmo que isso implique [horror dos horrores] ver quadros de Goya escarrapachados em mouse pads.

Vi esta semana o 'Goya's Ghosts', de Milos Forman.

A expectativa não era imensa, pela leitura da crítica e pelo fraco cast, mas era bastante por Forman, que embora tenha realizado poucos filmes ao longo dos últimos mais de 40 anos de carreira, realizou alguns bastante significativos, como Man on the Moon (1999), The People vs. Larry Flynt (1996), Valmont (1989) ou Amadeus (1984, este último mais maçador), encontrando-se agora a produzir Amarillo Slim (2008).

Gostei de Goya. Tenho duas biografias de Goya em espera, uma delas ficou mais ou menos a meio, em Lisboa, e com o filme estou mesmo decidido a retomá-las: porque o grau de detalhe do filme significa uma de duas coisas -- ou foi fiel à história, ou foi absolutamente paranóico.

Em qualquer dos casos, e apesar de um cast fraco e de um argumento algo inopinado [sempre que a mãezinha vai conhecer a filha desaparecida começa tudo aos tiros e afastam-se novamente], Goya's Ghosts tresanda a uma deliciosa ironia, sarcasmo e denúncia de hipocrisia e oportunismo, demonstrando como o 'mundo é pequeno' e como se põem e tiram líderes, oscilando entre o trono e a sarjeta, num balanço verdadeiramente intemporal, que tanto faz sentido na Espanha acossada por Franceses, Ingleses e o Vaticano [o filme é de resto uma história instantânea de Espanha entre o fim do século XVIII e o início do século XIX], como na américa latina dos anos 80 ou no leste europeu nos anos 90 ou no Iraque, Líbano e Afeganistão agora ou em África... all the time.

Goya's Ghosts é um retrato delicioso da opressão, do ego e da natureza humana em geral. E é isso que justifica o tempo usado a vê-lo [e o bilhete, que em Londres são uns belos 15 euros].

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