06 maio 2007

'A Pequena' qualquer coisa.


Como qulquer país relativamente rural, Portugal tem uma sociedade que vê as crianças de modo muito especial.

Ao mesmo tempo que é capaz de lhes bater e gritar [os mais próximos], é capaz de aproximar-se de uma criancinha desconhecida na rua e começar a brincar com ela, fazendo 'festinhas' e falar com ela com voz de quem fala para um ser inferior que não percebe nada ou, como se costuma dizer, 'voz de anormal'.

Quando uma criancinha desaparece ou é vítima de algo peculiar e/ou criminoso, as coisas [às vezes] aparecem na comunicação social.

Mas sempre que aparecem é a 'menina/o' não sei quantos, ou o glorioso 'o Pequeno João' ou a 'Pequena Joana' e afins. Seja como for a personalidade da crianças, etc. etc., e em oposição ao que se faria com um adulto. No 'fundo' até se percebe que haja um tratamento relativamente diferente, que de resto justifica as palavras 'criança' e 'adulto'. No entanto, toda a 'estética' à volta disso, bem patente na escolha de palavras, não deixa de ser uma delícia.

Desta vez, e depois do famoso caso da 'Pequena não sei quantas' adoptada, temos a 'Pequena não sei quantas' do Algarve [ou no caso, 'Allgarve'].

Não se leia aqui desprezo pelo caso: é obviamente angustiante pensar o que possa estar a acontecer à criança no Allgarve [ou noutro sítio qualquer onde possa estar] ou aos milhões de crianças que morrem em zonas como a maioria de África, partes da Ásia e América Latina, e claro nas zonas assoladas pelas 'guerras' do costume [mais 'invasões'] género Iraque, Afeganistão, Líbano e Palestina.

Mas é curioso e quase gozável a forma como estes assuntos são tratados em público e como as pessoas se comportam.

Neste último caso, tenho bastante pena nos pais.

Para quem as notícias veiculadas pela BBC devem ser duras. Porque sempre que aparecem, mencionam 'The resort offers a creche service but the couple decided to leave Madeleine and two-year-old twins Sean and Amelie sleeping in the apartment'.

Faz-nos pensar na palavra 'remorso': quando podíamos tomado outra decisão, sentindo agora o peso do efeito de uma acção que tomámos em liberdade e que nos deixa agora num cenário de sufoco e de impotência.

No caso, 'podiam' tê-la deixado na creche. E não deixaram. E ela desapareceu, apesar de alegadamente a verem de 30 em 30 minutos.

O grande problema deste tipo de problemas é que normalmente não tem solução, e se se resolver é por pura acção alheia.

Anteontem, 'Madeleine McCann' esteve no centro da wepage da BBC World News.

Ontem também.

Hoje está abaixo, à direita, com o título 'Church services for abducted girl'.

No centro, foi substituída pela notícia de um polícia morto em casa.

E amanhã?

Marcadores: ,