08 abril 2008

TAP, privatizações e o sector público.

Já aqui falámos várias vezes da TAP como exemplo de empresa de capitais públicos que não deve ser privatizada, dado gerar lucros fundamentais para o Estado que substituem, evidentemente, receitas que só seriam obtidas através de maior carga fiscal.

As privatizações, neste sentido, são meios de redução da qualidade dos serviços do Estado [que perde receita] e/ou do aumento dos impostos, para compensar a perda de receita resultante a privatização.

Com a privatização o Estado encaixa algum dinheiro -- extraordinário e não ordinário! -- mas deixa de ter, no longo prazo, as receitas que tinha. Os contribuintes perdem, pois ou os impostos aumentam para compensar e/ou a qualidade dos serviços públicos desce por falta de financiamento.

Isto porque uma empresa 'privatizável' é sempre uma boa empresa: se não fosse, os privados não a compravam.



A TAP continua -- como já aqui demos conta em anos anteriores -- com bons resultados.

Para o Governo [PS ou PSD, é irrelevante] isso significa preparação para a privatização.

Para nós, isso significa o contrário: ao tornar-se lucrativa, torna-se importante para o Estado ficar com ela e usar os lucros em benefício de todos os portugueses e não dos putativos compradores da empresa privatizada.

Era o que faltava que o Estado servisse de milagreiro económico, transformando as suas empresas desvalidas [más] em empresas lucrativas [boas] e classificando-as aí como 'privatizáveis' e vendendo-as, sem aproveitar os resultados dessa recuperação. Isso poderia acontecer em pequenas empresas, estilo private equity, mas não com utilities e grandes empresas como a PT, a EDP, a ANA, a TAP, a GDP, os CTT, etc, etc..



Regressando ao caso da TAP, os dados objectivos deste ano que demonstram a melhoria sustentada da sua performance [equivalendo a boa performance anterior de que falámos anteriormente] e portanto o dever manter-se a TAP nas mãos do Estado e de todos os portugueses. Este ano [2007, ano económico anterior do qual agora se apresentaram resultados] a TAP:

- aumentou os proveitos de passagens em 18.2%, sendo parte de um aumento de 88% entre 2000 e 2008;

- aumentou os proveitos de manutenção de aeronaves em 7.6%, desde 2000 51%;

- aumentou as receitas de vendas e serviços externos em 15.3% entre 2006 e 2007;

- aumentou os proveitos de carga e correio em 5%, sendo que desde 2000 estes aumentaram 44.5%;

- os proveitos operacionais aumentaram 16.1%, e desde 2000 aumentaram 78.6%;

- o EBITDA [earnings before interest, taxes, depreciation and amortization] entre 2000 e 2007 aumentou 228% e este ano 35.9%;

- passou de um resultado operacional negativo de 62 em milhões de euros em 2000 para resultados positivos de 30 milhões em 2006 e de mais 163% no ano passado, ou seja, 79 milhões;

- os resultados líquidos passaram de um negativo de 122 milhões em 2000 para 7.3 milhões positivos em 2006 e em 2007 o valor foi de 32.8 milhões, o que representa um aumento, entre 2006 e 2007, de 349%;


- mantém a sua frota própria, detendo apenas parte em leasing operacional [em 68 aviões, apenas 19 estão em leasing].


A TAP pesa 1.14% no PIB português, sendo menor o peso de empresas congéneres nos seus países de origem, como é o caso da Air France, KLM, Austrian Airlines, Lufthansa, Swiss Air, BA, Turkish, Iberia, Alitalia, LOT... Por exemplo, a Iberia pesa apenas 0.51% no PIB de Espanha e a British Airways apenas 0.61% no PIB do Reino Unido.




Às vezes sinto que os dois grande defeitos da TAP, na perspectiva dos passageiros -- os atrasos e o feudalismo de alguns serviços [e.g. sempre que pegam no microfone e não se percebe nada pela má qualidade de som, ou pronúncia, ou pausas] -- é de propósito, fazendo os portugueses querer ver-se livres da TAP.

Au contraire, basta melhorar isso e, juntando às contas, temos uma empresa genial, cuja privatização é um erro económico [que defrauda os interesses do Estado e dos portugueses a favor dos grupos económicos do costume] e político [de sobreposição de interesses de alguns aos interesses da maioria].

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