25 abril 2008

TAP, pelo seu 'CEO'


no Diário Económico de 24.o4.2oo8:

'problema que a TAP hoje não tem: a interferência política. Em oito anos à frente da companhia, Fernando Pinto aprendeu a defender-se desta pressão, a falar pouco e especializou-se na valorização do trabalho feito até aqui. Sempre que pode, sublinha que a TAP não custa nada ao Estado, contribui com impostos – 60 milhões em IRS e 80 milhões à Segurança Social –, além de fazer girar o 'hub' que liga Portugal a 56 destinos, com voos directos'

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'a TAP tem capacidade para consolidar um 'hub' em Lisboa'



'Daqui a dez anos a TAP existirá como hoje ou há alguma possibilidade de ser envolvida num processo de consolidação? Pode ser comprada ou será a compradora?
Há exercícios de futurologia que acho sempre muito difíceis de fazer. Quando cheguei aqui, lembro-me de uma conversa com a comissária europeia Loyola del Palacio, durante a qual apresentámos um plano que defendia que a TAP, em três anos, tinha condições para recuperar da situação em que estava, saindo de um prejuízo de 120 milhões de euros que apresentara nos últimos anos. Nessa reunião, mostrámos que teoricamente era viável. A reacção não foi a esperada. Lembro-me de ela ter comentado que não acreditava naquilo. Não acreditava na viabilidade da empresa e achava que a companhia só recuperaria se fosse comprada por uma maior.



Como reagiu?
Eu disse que nós também considerávamos a consolidação, mas de forma diferente. Não pela venda da empresa, mas através de alianças internacionais. Nessa altura, como hoje, não víamos a necessidade de estar dentro de um grande grupo, mas sim dentro de um acordo comercial onde mantivéssemos a autonomia.


E assinou o acordo com a Star Alliance.
Sim. A verdade é que a viabilidade ficou demonstrada e, em três anos, a empresa já estava a dar resultados positivos. A consolidação destes resultados também está relacionada com o acordo com a Star Alliance. Aumentámos muito as nossas vendas.

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Faz sentido comercial manter hoje uma companhia de bandeira? Ou faz sentido para o país?
Eu acho que faz sentido haver uma companhia de bandeira. É importante que o país tenha uma empresa que se foque nele, exclusivamente, e isso é muito importante para o cliente português. Se não tivéssemos a nossa base principal aqui, dificilmente teríamos condições de fazer o volume de voos directos que fazemos a partir de Portugal. As condições seriam piores do que as que oferecemos agora, com mais escalas e menos oferta.


Se a TAP fosse comprada, Lisboa teria menos rotas e ligações, é isso?
Se a companhia fosse comprada, a primeira coisa que aconteceria seria a junção dos 'hubs', penalizando Lisboa. Ora, nesta junção acabar-se-ia por perder algumas das vantagens actuais, nomeadamente o passageiro teria de voar muitas vezes para outro 'hub' para depois prosseguir viagem. Hoje não é assim. Com base na aliança que fizemos e nos nichos de mercado que se descobriram – e ainda não atingimos o potencial máximo, há muito para desenvolver –, sabemos que esta empresa é financeiramente sustentável com uma aliança internacional, que traz apoio sem retirar autonomia ao país e aos passageiros portugueses.

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Onde foi buscar esse dinheiro?
Aumento de eficiência. A operação dos novos A330 foi muito grande, com menos custos e mais volume de passageiros. Gostaria de lembrar que, em sete anos de operação, a TAP duplicou os resultados e sempre com um número de pessoal inferior ao que tinha no passado. Conseguimos um aumento claro de eficiência. Esta é a única forma de sobreviver.


Mas este aumento de eficiência justifica uma subida tão grande nos lucros? Há quem desconfie destes números…
No fundo, é tudo uma questão de acréscimo de proveitos com um máximo de contenção nos custos. As diferenças são muito pequenas para valores muito grandes, é essa a explicação. A TAP tem proveitos de perto de dois mil milhões de euros para cerca de 1,9 mil milhões de custos totais. Qualquer pequena diferença nessa relação pode dar um resultado negativo, positivo, pequeno ou muito grande. São pequenas variações que pesam nos números finais.

Um dos objectivos é preparar a empresa para uma eventual privatização. Quando é que o Governo vai definir?
Não sei, há toda uma dependência do mercado. Da nossa parte estamos a cumprir o que está previsto.



Se o Governo quiser, a privatização é feita este ano?
É isso, mas acho difícil.

Aponta mais para 2009?
Bem aí já não sei, é uma decisão do Governo.

Vê vantagens na privatização da TAP?
A privatização é algo que vai acontecer naturalmente um dia, não tenho dúvida nenhuma, pelas necessidades de capital da empresa.


A entrevista de F. Pinto ao Diário Económico ia muito bem, até à privatização. Mas percebe-se: qualquer gestor público que seja contra uma privatização, num governo PS ou PSD, é provavelmente despedido.

Com tão bons resultados não faz sentido nenhum privatizar. Para obter capital basta reaver áreas lucrativas ligadas à própria gestão do aeroporto ou emitir obrigações, e não acções. Mas mesmo que se coloquem acções em bolsa, pode-se ter um float prudente e manter mais de 50% do capital no Estado. Isso sim, seria injectar capital garantindo a receita para o Estado. Recorde-se o que referiu F. Pinto:
'a TAP não custa nada ao Estado, contribui com impostos – 60 milhões em IRS e 80 milhões à Segurança Social –, além de fazer girar o 'hub' que liga Portugal a 56 destinos, com voos directos'.

E como dizia a própria TAP no seu press release de 3 de Abril, 'A TAP teve em 2007 o melhor ano da sua história, com os lucros a ascenderem a 32,8 milhões de euros, mais 350 por cento que os 7,3 milhões registados no exercício do ano anterior'.

Ora uma empresa destas não se privatiza.

Só políticos com graves problemas mentais -- adaptando os dizeres de Sousa Tavares para o tabaco -- ou, diremos nós, com lobbies / interesses e influências duvidosas.

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