O povo na televisão ?
A democratização da TV portuguesa começou com programas como o 'Praça Pública', da SIC, em que se discutiam problemas tão prosaicos como importantes para os portugueses, como o buraco da rua XPTO.
Hoje temos programas onde todos telefonam e berram à vontade. Género catarse.
Podia ser melhor; podia ser uma verdadeira [idílica? utópica?] maresia de opiniões, argumentos, discussão produtiva e inteligente com troca de experiências e aumento de resultados.
Mas não.
É, essencialmente, um saco de boxe, onde um jornalista desgraçado apanha com telefonemas de boys [ou forever-wannabe boys] de partidos, e/ou de maluquinhos, e/ou de pessoas que ainda não perceberam que Portugal é uma democracia constitucional, onde a polícia não pode espancar pessoas, onde os professores até são pessoas, onde os funcionários públicos não são todos ineficientes e malandros, onde os sindicatos não são oportunistas, onde nem todos os empresários são honestos, onde nem todos os políticos são tachistas e corruptos.
O espectador-tipo que telefona para esses programas é, no mínimo, um português reaccionário ou uma dona de casa ressabiada. Um pseudoempresário que acha que o recibo verde é bom e igual para todos, sejam trabalhadores independentes ou não. Onde os esquerdistas comem todos criancinhas ao pequeno almoço e onde o PNR é bom porque diz aquilo que 'os portugueses pensam mas não dizem'. Um reformado que acha que a pena perpétua é coisa fraca e que a pena de morte é que é boa.
Preocupa-me o ódio e o tom básico e simplista com que falam os telespectadores, que parece resultar de um qualquer trauma que ultrapassa a questão do analfabrutismo nacional e ser sintomático no submundo deste país, que é o meu.
Ódio à função pública, aos políticos, aos sindicatos, aos emigrantes. Ódio à vida em geral.
Será que isto nunca mais acaba?
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