Manuel de Oliveira
is back, com o Belle Toujours, inspirado em Belle du Jour, de Buñuel.
Desta vez o filme tem uns 60 minutos, pelo que não é -- pelo menos a fita -- tão longo quanto se diz.
Não creio que os seus filmes sejam lentos. O mundo é que mudou, cada vez mais rápido, apressado, caótico.
No entanto, isso pode ser uma vantagem.
É certo que vejo com todo o gosto o Hannibal ou um filme do John Woo.
Mas Oliveira, como alguns da sua geração que ainda não desapareceram, mantém o seu ritmo pausado e a sua estética subtil e elegante.
E o seu ritmo, em certos momentos, é uma paz de alma, com um toque nostálgico de objectos e afectos que parecem cada vez mais longe.
Não são filmes para vender, é certo. Mas não porque o mundo esteja certo. Pode haver mais pessoas a saber ler, mas a qualidade do que lêem [ou do que vestem , ou do que constroem, ou do que bebem] é hoje bem menor e menos inteligente.
O bom gosto nunca foi -- e as experiências nesse sentido nunca duraram -- democrático.
Por isso o chamam de elitista.
E é por isso também que, não achando especial piada à figura de Manuel de Oliveira ou à famosa subsidiodependência, não posso nem quero deixar de reconhecer -- porque não espero que morram para o fazer [espero que acabe os seus próximos projectos, que incluem a adaptação ao cinema do pequeno e genial conto de Eça Singularidades de uma rapariga loira em 2oo8, ano em que Oliveira completa 100 anos]-- o seu bom gosto estético e a inteligência dos seus filmes, num mundo onde se admira o que é sujo, porco e mau.
Portugal irá reconciliar-se com Oliveira, e como em muitos casos, depois da sua morte. Se não fosse pela qualidade dos seus filmes, seria desde logo pela sua singularidade: em terra de cegos quem tem olho é rei, e Oliveira é e provavelmente continuará a ser, por muito tempo, o mais importante realizador português, no país onde o director da Cinemateca intitulou uma sua obra O Cinema Português nunca existiu [Bénard da Costa, CTT, 1996]. Oliveira sim.
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