01 julho 2007

Portugal, 1853-1861



'O duque de Saldanha, que se julgava com razão o pai do regimen constitucional [...] pedia 60 contos emprestados ao Rei, e êste recusava o empréstimo, e depois dizia: 'Não lhos emprestei porque não os tinha'. E o duque achava-lhe graça, e talvez razão, mas lá no fundo lembrava-se de que era o vencedor de Almoster e de que o Rei não tinha vencido coisa nenhuma. Em todo o caso, amava-o sinceramente e não o queria desgostar'

vol. I, pp.87-88

'Em 26 de Abril morreu o duque da Terceira, presidente do conselho. Êste acontecimento veiu exercer uma grande influência na situação do govêrno. O Rei era, ou parecia ser, amigo do duque. [...] As cartas do Rei não deixam dúvidas sôbre a situação, resultante da morte do presidente do conselho. Fontes julgava que lhe pertencia a presidência do ministério por ser ministro do reino. O Rei não queria que fontes chegasse a êsse lugar. A sua antipatia pessoal pelo grande estadista é traduzida em palavras de suma injustiça*. O seu procedimento é deslealíssimo. Desce a fazer uma intriga miserável contra o seu ministro! A carta, que em outro lugar encontraremos, é um dos mais tristes documentos saídos da pena de D. Pedro'.

'*D. Pedro nunca teve grande simpatia por Fontes. Ainda não era Rei e já mostrava o seu desacôrdo com a conversão da dívida, que foi uma das mais notáveis providências para modificar o regimen financeiro do país'.

vol. II, pp.80-82

'Agora o casamento do governador civil de Castelo Branco. Eis o caso: uma menina de 12 anos, debil, no dizer do Conde de Tomar, mas, no parecer de Silva Ferrão, uma senhora muito alta e muito desenvolvida, tendo já 15 anos, agradou ao governador civil de CAstelo Branco, homem entrado já nos quarenta e dois ou quarenta e quatro anos. Como o enamorado bacharel julgasse, com ou sem razão, que os pais da menina, ou senhora, se oporiam ao casamento, tirou-a por justiça e foi depositá-la em casa particular. Ora o que havia de discutir-se na câmara dos pares, aquela câmara que, pela idade dos dignos membros, tinha o dever de dar o exemplo da seriedade e do decôro? Tudo o que podia relacionar-se com o assunto! [...] O que pretendia o pai da menina? Simplesmente que o homem, que aspirava a ser seu genro, fosse exonerado do lugar de governador civil do distrito. O conde de Tomar tambêm assim o entendia. Era preciso tirar o homem, transferindo-o para outro distrito, do lugar em que podia influir nas decisões da justiça [...] O conde de Tomar continuou a insistir pelo castigo do governador civil, mas quem pôs tudo em pratos limpos foi o digno par Silva Ferrão. O governador civil era seu parente e êle conhecia muito bem toda esta história [...] O conde de Tomar não se contentou com a resposta [...] Quanto à altura e desenvolvimento da menina, [...] pergunta se uma menina muito desenvolvida vai todos os dias à escola? Isto não se pode negar. [...] Referimos o caso simplesmente como um episódio curioso da sessão parlamentar de 1856, e de quanto era, por vezes, divertida a câmara dos pares'.

vol. I, pp.125-130


'O período, em que vivei D. Pedro V, é triste e não mereceria, certamente, o tempo que gastámos em o descrever, se não fôsse a figura do Rei. A história não se inventa e não pode, sómente para recreio do autor, converter-se em facto épico de pomposa narração o que de si é mesquinho, e por vezes, demasiadamente ridículo. A máquina constitucional, durante esta época, funcionou desastradamente. Nenhum dos poderes do Estado cumpria os seus deveres'.
p.VI

'Era o costume, o Rei não aprovava nada sem fazer objecções'

vol. I, p.24





Júlio DE VILHENA [1921-1923] D. Pedro V e o seu Reinado, Academia das Sciencias de Lisboa, 2 vols. e um anexo.

link: chefes do governo desde 1821

imagem: D. Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Vítor Francisco de Assis Júlio Amélio, Rei de Portugal, 1853-1861