A 'boiada', ou o descrédito dos políticos.
Já ninguém parece acreditar nos políticos.
E o programa 'eixo do mal', na SIC, é um reflexo disso, sempre com a amosa expressão 'boiada', entre 'boys' e 'manadas'...
'Acreditar'. A crença -- porque Portugal nunca se alfabetizou; funcionalmente, sequer -- nunca deu lugar à consciência.
O caciquismo já é velho, e o voto ou já nem se 'dá' [60% nas últimas eleições, ainda que intercalares e em autárquicas, mas em algo tão representativo como Lisboa, capital] ou é 'dado' ao que é visto mal menor, àquilo que 'é au mas já se conhece'.
É uma espécie de voto numa ilha de mafiosos. Dá-se ao boss, que pode ser mau, mas é o 'nosso' boss, que já conhecemos.
Ou, se se quiser, a relação dos Portugueses com os seus políticos é um casamento que não acaba, mesmo sendo o país o membro do casal vítima de violência doméstica.
O político, esse agressor, não se rala. A sua vida, em regra, não é mais do que isso: na sua maioria -- e se Filomena Mónica continuar o Dicionário parlamentar, comprovar-se-á -- são arrivistas. Arrivistas geográficos e sociais. Sem grande formação, sem CV / carreira profissional relevante, cuja ausência se explica pelo 'carreirismo político', em que entrar numa 'jota' acaba por ser uma rampa para toda a vida em cargos partidários ou públicos [ou semi-públicos, no caso das empresas públicas / municipais].
Isto para enquadrar devidamente a questão dos PAs para deputados.
Os nossos deputados vão ter PAs, diz-se. Assistentes Pessoais.
Há quem diga que isso é um luxo. Creio que depende da função.
Sei como dá jeito numa profissão exigente. A de deputado sê-lo-á em teoria, mas há dois impedimentos: a prática e a contenção orçamental que tudo parece justificar, e onde os políticos terão então de dar o exemplo.
Na prática, não sabemos o que fazem as de deputados no Parlamento. A abstenção é conhecida. E poucos [algum?] trabalham em exclusividade. Muitos são advogados, e o Parlamento é como que um café onde se passa para ler um jornal ou -- já o presenciei -- uma revista social com as festas da noite [ou do dia] anterior.
Vale a pena ler a lista de deputados no website da AR, ainda com círculos eleitorais [como se ele viessem mesmo das áreas que representam, como se as conhecessem e transportassem para o hemiciclo a sua legitimidade - será que os 18 deputados de Braga são mesmo de Braga? ou mesmo que os 48 de Lisboa são mesmo de Lisboa? e os 2 do círculo 'Fora da Europa'? etc etc...].
O que fazem nas actuais 12 comissões especializadas permanentes? E as subcomissões? E os grupos de trabalho?
O que se passa nas duas eventuais [Comissão Eventual Para o Acompanhamento das Questões Energéticas e Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios?].
Isso até poderia estar tudo num website.
Mas num país onde a taxa de analfabetismo, em 2001, era de 11,5% para as mulheres e de 6,3% para os homens, onde o analfabetismo funcional é gritante, e onde o descrédito dos políticos provoca desinteresse, era importante que a própria 'classe' política divulgasse o que faz, como faz, quando faz, a quanto faz e porque faz.
Enquanto não se fizer isso ninguém vai perceber a necessidade de assistentes pessoais. Ou de muitas outras coisas que custam dinheiro a um país ao qual o Governo insiste em dizer que está pobre e cuja resposta ao que quer que seja é a desculpa de sempre: o défice.
Mas o grande problema não é o défice financeiro. É o défice cultural e democrático de uma sociedade pequena e analfabeta. Que os políticos, em geral, bem reflectem.
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