25 março 2007

A moda das desculpas.


Pedir desculpas é uma coisa que fica bem socialmente. A velha história de reconhecer erros.

Ao mesmo tempo, confirma a prática do erro. E como seria tão genial tão tê-lo cometido. Isso sim, seria importante.

Porque na prática, as desculpas não servem para nada.

Apenas para uma de duas coisas: ou para conforto psicológico [não dando porém uma ideia feliz de quem as dá e de quem as aceita levemente] ou, de modo mais sofisticado, para simplesmente tapar uma agressão. Agride-se, sabendo-se que com umas desculpas tudo fica bem. É a despachar.

Pedir desculpas pela escravatura está na moda.

Perdão... não pela escravatura em geral.

Mas pela escravatura do século anterior aos séculos XX e XXI. E sobretudo anterior ao século XXI.

Tem havido movimentos nesse sentido nos EUA [onde existem inclusive lobbies que tentam obter, imagine-se, indemnizações para os descendentes -- logisticamente complicado, e eticamente duvidoso] e no Reino Unido o PM 'Tony' Blair fê-lo esta semana, depois do 'Mayor' de Londres, no contexto de um aniversário da abolição e de vários eventos relacionados com o facto.

Todos nos recordamos de o Papa ter feito algo similar [não o actual, mas o anterior, em relação à acção da Inquisição].

E como o 'passado' é desculpa para tantas coisas.

E o sempiterno argumento do 'contexto histórico'.

No caso da escravatura é ridículo. Sobretudo deveria ser para os milhões que vêm noticiários e lêm jornais e em particular aqueles que enchem as salas de exposição da World Press Photo. e em muito particular aqueles que conhecem a fotografia deliciosamente sépia-akin de Sebastião Salgado.

E pedir desculpas pelo passado é sempre simples. Sobretudo quando a acção foi tomada por outra pessoa.

Ainda não vimos desculpas pelas invasões do Iraque, Afeganistão e afins, ou pelos raptos, detenções ilegais e tortura praticados em Guantánamo. E por todas as restantes aventuras militares e ofensas aos direitos humanos por todo o mundo, em maior ou menor escala.

A história irá julgar-nos. Esperemos que a sentença não seja apenas pedir desculpas. Porque de desculpas...

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