14 março 2007

The Doors


Paulo Portas está de volta.

O regresso do filho pródigo do CDS, não que seja filho, ainda que tenha idade para isso.

Depois da célebre 'caminhada no deserto', típica dos ciclos políticos e a fazer lembrar a operação 'Raposa do Deserto' [cujo protagonista acaba enforcado pelo Ocidente Civilizado], o Paulinho das Feiras está de volta.

Na memória, além da imagem que se vê, o debate em que zurziu o então secretário geral do PCP Carlos Carvalhas. Portas partiu a loiça, ao citar os preços de um cabaz de compras, após Carvalhas lhe perguntar se sabia o preço de um quilo de cebolas ou algo do género. Nos seus périplos pelas feiras, e certamente com a esperteza de quem sabe ao que vai, o que vale e o que não sabe, preparou-se.

Carvalhas e Portas são exemplos opostos: Carvalhas no PCP, simpático, mas péssimo gestor de imagem. Portas no CDS, antipático, mas óptimo gestor de imagem.

Ainda me recordo de umas eleições em que, aguardando-se os resultados, uma jornalista estava na sede do CDS e entrava na sala onde estava Paulo Portas. Na sala, Portas escrevia e fumava, com ar de poucos amigos, e ao seu lado, claro, o padrinho Nobre Guedes. Apercebendo-se da entrada da jornalista [e sobretudo, da câmara], salta da cadeira, abre o sorriso rasgado, e grita por vitória... Surreal.

De facto, nada sobra. Além do Independente, um simples jornal de escândalos políticos entretanto falido, o CV de Portas é zero.

Ou era, antes do CDS. A sua rampa para a fama, que levou um célebre e mordaz cronista a chamar-lhe, se não me engano [e creio que não, como o 'Professor' Cavaco Silva], 'prostituta política'.

Aparece já com todos os dentes, e com roupa a abrir o século XXI. A contrastar, abraça nos mercados quem nunca terá dentes novos, e muito menos roupa no século XXI.

Com promessas para os reformados, pensionistas e ex-combatentes [que hoje lhe chamam traidor], passeia nos mercados e chega a Ministro da Defesa, em aliança com Santana, rodeado pelas chamadas Santanettes. Mas recorde-se: Santana tem CV político. Deixemo-lo para outro momento.

Portas está de volta. Finalmente. Parafraseando Durão Barroso, 'só não se sabia quando'.

Depois de deixar o histórico e bem intencionado -- aparentemente ingénuo? -- Ribeiro e Castro definhar por si, Portas regressa, seguro das suas hostes. Já não as populares, mas a malta do CDS que o viu como a única solução possível.

Portas tem no entanto novos desafios. Carvalhas saiu, e Jerónimo fez pelo PCP o que Portas fez pelo CDS.

Sócrates tem maioria parlamentar e provavelmente puxou eleitorado gay que hesitava entre o PS e o Bloco de Esquerda.

E a ideia de Direita de Portas está fora de moda e, digamos, de afectos. Para quando uma Direita inteligente ou um partido conservador com miolos? O Iraque já não vende, nem o Afeganistão, nem o 11 de Setembro. Não se sabe de armas, Saddam foi enforcado como não se via na Europa há séculos e a própria BBC avançou uma reportagem em que coloca a hipótese [imagine-se!] de o 11 de Setembro ele mesmo ter sido uma operação interna americana [no dizer da BBC, a 'self-inflicted wound'].

Porém, o actual Governo começa a definhar e já teve a maior manifestação de sempre, que aqui referimos há semanas. Será uma abertura para uma coligação de 'Direita'? Qual a opinao de Marques Mendes [ou melhor, dos chefes de Marques Mendes]?

Não se sabe, mas sabe-se que é o próximo passo, pois sozinho Portas não chega lá, sobretudo já tendo passado de moda. Portas vais pois ser uma espécie de Ray Ban remade, que regressa, mas não fica.

No entanto, não deixa de nos fazer rir. Como praticamente todos os restantes.

Só as estatísticas é que não.

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