07 março 2007

PCP e a tese da cassete


Todos sabemos que o PCP reúne históricos que levaram com o cassetete policial e mais jovens que levam com o cassetete do 'political prejudice', acusados de viver em torno de cassetes.

Não sei se a teoria da cassete é verdadeira ou não [ainda tal teoria seja algo favorável ao chamado relativismo dominante, combatido precisamente pelos neo-liberais], mas parece-me especialmente importante que se seja honesto e rigoroso naquilo que se diz.

Sobretudo quando se é jornalista, ao que acresce então -- a menos que se escreva a título de comentário ou pessoal -- o dever de imparcialidade.

No DN de hoje li uma 'notícia' com o título 'PCP diz que teses de Cunhal com 60 anos estão actuais'.

Fiquei curioso. Dada a 'teoria da cassete', quis perceber qual o conteúdo da cassete.

No entanto, refere o autor do artigo, citando Jerónimo de Sousa, actual líder do PCP, que 'Nos textos do camarada Álvaro Cunhal agora publicados, todos escritos há mais de seis décadas relevam questões que continuam a ter uma actualidade incontornavel e são uma referência para os comunistas do nosso tempo'.

Li a notícia mais do que uma vez, mas o erro persistia.

O que o jornalista não percebeu, ou não quis perceber [e o mesmo se aplica ao revisor e ao editor que admitiu a publicação], é que não havia ali ideias nenhumas, mas factos.

Ao dizer 'relevam questões que continuam a ter uma actualidade incontornavel ' é evidente que a referência é aos problemas, e não às soluções.

E se as soluções são políticas -- à esquerda, direita, centro ou outra coisa qualquer -- os problemas são de facto.

Portanto não se falava certamente das 'teses de Cunhal', mas apenas de 'questões que continuam a ter uma actualidade incontornavel '.

Uma amiga minha, que não é, de todo, do PCP, e nem sequer de esquerda ou de direita suave, dizia-me ao almoço que Jerónimo era uma espécie de Lula português. Lula era torneiro mecânico e Jerónimo de Sousa, creio, era operário fabril.

É curioso que um ex-operário fabril seja mais rigoroso que um jornalista no activo.

Às vezes, até que prefiro quando os jornalistas cometem erros ortográficos. Esses ao menos beneficiam da desculpa do mistype e não de raciocínio obtuso ou parcial.

Que no caso, nem ajuda os anticomunistas.

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