02 março 2007

Um país num saco de vácuo: a ditadura light


Vive-se hoje em Portugal uma certa ditadura light: corrupção incrustada, tráfico de influências permanente, um governo autoritário que embora não espanque pessoas por motivos políticos [pelo menos que se saiba], não liga nenhuma aos outros partidos [incluindo PSD e CDS, que raramente discordam do governo] e sobretudo com maioria parlamentar e um titular do cargo de Presidente da República que não mata, mas esfola.

De acordo com a imprensa de hoje, e cita-se por exemplo o jornal Público, 'em Lisboa, trabalhadores dos sectores público e privado contestaram hoje a política laboral do Governo de José Sócrates'. Uma 'manifestação reúne mais de 100 mil pessoas'.

E como se viu, incluiu o sector privado: não se pode pois dizer que são os 'suspeitos do costume', 'género' professores.

Em outros países a coisa vai mais ou menos igual. Em França ninguém sabe em quem votar, nos EUA Bush desiludiu mesmo os mais radicais dos republicanos e no Reino Unido Blair é hoje visto não só como right wing, como incompetente e, por alguns mentiroso [sobretudo quanto ao Iraque e à política 'social de esquerda']: chamam-lhe hoje 'Bliar'. E a Tate Gallery, por exemplo, exibe neste momento em que David Cameron se comporta como em campanha eleitoral e em que Blair sai, reconhecendo a sua incapacidade, protestos anti Blair [na maioria cartazes e outros elementos usados em manifestações de protesto] como se de arte se tratasse, em plena galeria central.

Em Portugal, aquilo que alguns viam como as reformas do século e o espírito empreendedor de Sócrates, é hoje tomado como birras do Primeiro-Ministro, que começa a Governar, peculiarmente, contra o país e contra as pessoas.

As mesmas pessoas que o elegeram e que vieram a perceber que não votaram num primeiro-ministro de esquerda, porque essa ficou na gaveta há muito tempo.

Sócrates, sabe-se, veio do PPD-PSD. O mesmo partido do actual Presidente da República, vindo de Boliqueime e da vivenda MariAni, curiosa junção dos nomes do casal.

Se a vivenda era MariAni, hoje Portugal é SóCravaco. Um mata, o outro esfola.

A morte tem sido lenta, mas pedagógica: o povo começa a perceber que a esquerda não existe, pelo menos no PS, tal como não existe no Labour. Sobram, em Portugal, e com representação parlamentar, o PCP e o Bloco de Esquerda, este último sem ideário, sem história, sem rumo.

Pior, a Direita que se diz Direita e que não se vê: um CDS com um líder socialmente paralítico, com um partido paralisado, e um PSD que na Constituinte não votou contra e que apoiou a reforma agrária, que vive à custa do defunto Sá Carneiro, cujo líder actual é a mesa de cabeceira de líderes anteriores, um dos quais é hoje Presidente de um país que foi.

Sem esquerda [tirando os comunistas] e sem direita [tirando alguns conservadores ou radicais sem expressão partidária], é o vazio.

Não sabemos para onde vamos nem como lá chegar, e dado o analfabetismo latente, muitos nem sabemos de onde vimos. Apenas sabemos onde estamos: na mesma.

E é assim que queremos ficar. Neste equilíbrio rotativista, onde rodam partidos, cervejas e jogos de futebol,, e onde a elite de chinelo [direi havaianas?] se mantém, impávida e serena.

Politicamente, é certo: no PS de hoje não há socialismo, no PSD de hoje, o partido 'dos empresários', não há democracia popular, no CDS [que ninguém percebe o que é, senão um clube de touradas] não existe centro democrático e social.

Portugal precisa de cérebros rapidamente.

De esquerda e de direita.

E sobretudo, que saibam pensar, motivar e agir.

Caso contrário mais vale pensar numa fusão por incorporação, ou talvez contratar um bom CEO que além de lucro contabilístico compreenda o conceito de 'lucro social' para por isto [isso] a andar.