02 janeiro 2006

Portugal e Funcionalidade



Encontra-se na colecção permanente do Museu do Louvre uma peça feita para D. José de Portugal que, inadvertidamente, simboliza a falta de pragmatismo nacional. Trata-se de um centro de mesa executado pelo grande mestre François-Thomas Germain (bem representado em Lisboa no Museu de Arte Antiga e também na Colecção Gulbenkian, para os interessados...).

A característica da peça que aqui refiro é esta: ao contrário da função originária (Luís XIV) dos centros de mesa – que contêm elementos para iluminação, sal, azeite, ... – o ‘surtout de Joseph 1er est, au contraire, purement décoratif’, como refere o próprio Louvre.

Este desprezo pela funcionalidade do objecto é pois como que um mal nacional: não interessa para que serve, interessa quem serve: é a lógica da ostentação, do gasto supérfluo, para o qual a máxima ‘à mulher de César não basta ser...’ de nada serve. Pelo contrário, o ideal será unir à funcionalidade ao belo (evito pois a posição extrema da identificação belo/funcional...).

O problema não é infelizmente apenas estético... O chamado ‘imobilismo nacional’ exige uma reprovação e, mais, uma alternativa: uma demonstração de acção, de rigor, de eficiência.

Refiro-me de forma vaga a algo muito abrangente: esta lógica aplica-se à Educação, à Ciência, à Economia, à Arte... Será que ainda alguém pode contestar a separação entre estas áreas?