31 outubro 2007

Putin [ou: 'a polícia portuguesa']


Dizia um dos gatos fedorentos qualquer coisa como 'com tantos polícias à volta de Putin, não há nenhum que o prenda'.

Tal como os portugueses discutiram a actuação das polícias [GNR e PSP] durante a visita do Presidente russo a Lisboa, a imprensa atirou-se agora ao assunto, enquanto ninguém a silenciar, algo que deve ser tratado esta tarde.

As polícias portuguesas têm um enorme complexo: Lisboa [para não falar no resto de Portugal] não é Paris nem Londres, ou Bruxelas ou Nova York, e portanto aquelas séries todas de televisão não se aplicam.

Não há eventos diplomáticos de grande porte, e a sua actuação fica reduzida a umas multas de trânsito, ou à advertência de maus estacionamentos de carros e carroças [até porque as polícias municipais assumiram a parte mais regulamentar]...



Este ano, tal como no ano histórico do CCB e da anterior presidência portuguesa, ou em menor escala da Expo98 e Euro2004, as polícias estão ao rubro: há chance de usar trajes de gala, parar o trânsito, enfim, exercer o seu poder: os polícias, nos seus escassos meios [que agora incluem novas pistolas, e espera-se os novos tasers, quase armas de tortura como já se percebeu nos EUA] brilham.

As sirenes, tão comuns nas grandes metrópoles mundiais, 24h sobre 24h, ouvem-se agora em Lisboa e Cascais. Usa-se e abusa-se do poder: políticos e seus boys, passeiam-se nas calmas, com grande aparato. É o júbilo policial, tipicamente terceiro-mundista, sobretudo quando as decisões políticas em nada compensam tal aparato.

O júbilo acaba quando a presidência chegar ao fim, e vamos ver como será gerido o complexo policial...



Entretanto, e estilo FBI versus polícias locais, numa típica equivalência de filme ou série americana, a GNR e a PSP discutem competências, que em regra acabam na percepção de que a GNR é uma polícia militar dispensável [até porque existe uma polícia militar em sentido próprio] e que nos basta a PSP, onde a actual GNR podia perfeitamente ser integrada. Mas enfim, o Governo PS e PSD tem preferido 'poupar' noutras áreas, fechando centros de saúde e escolas.

O último caso do confronto GNR e PSP foi precisamente com Putin: a GNR, diz o DN de hoje, terá fechado o viaduto Duarte Pacheco, leia-se, o acesso à A5, autoestrada Lisboa, Cascais. Conclusão: os lisboetas, em plena hora de ponta, ficaram horas parados na autoestrada, sem chegar aos seus empregos. E alguns, em pleno 'Túnel do Marquês'. Deve ter sido arejado, ficar parado no túnel. E a PSP terá discordado.

Isto com uma hora de antecedência relativamente à saída de Putin do putativo hotel D.Pedro. E isto com a consequência de Durão Barroso e Javier Solana chegarem mais tarde à reunião prevista, aliás Solana depois de Putin e já com os jornalistas a ir embora, o que foi tudo menos cortês...



No fundo isto não tem nada a ver com a GNR e a PSP, que têm, no entanto, os problemas referidos no início deste post: um enorme complexo de inferioridade, ego e inactividade/produtividade.

Tem a ver com o simples facto de não se concentrar os Putins deste mundo no Parque das Nações, Queluz, Mafra, Belém, Ajuda, Sintra, ou outra zona fora do centro, onde estes pernoitariam e sem deslocações, reuniriam com quem quer que fosse.



Os jornalistas garantiriam a cobertura e a informação à população.

E nós habitaríamos a cidade, em paz, sem cortes de trânsito nem outras estupidezes que tal.

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