01 agosto 2007

Véu reloaded.


Lê-se no DN que 'Márcia Rodrigues veste-se em Lisboa como a polícia obriga em Teerão'.

O vídeo pode ser visto online no site da RTP [a juicy part é a partir dos 17 minutos e 20 segundos...].

Já se vê no que isto vai dar: a 'discussão do véu'.

Neste caso, no lado mais gritante do tema: seremos nós obrigados, no nosso país, a usar trajes de outros países? Ou 'devemos fazê-lo? e será 'exigível' ou 'razoável'?

No entanto, como refere o DN, 'a jornalista da RTP não foi obrigada a usar tal indumentária para poder realizar a entrevista. Segundo fonte da embaixada do Irão em Lisboa, não foram dadas quaisquer indicações à jornalista sobre a forma como ela deveria vestir--se. A mesma fonte relembra que, "mesmo que alguma embaixada tivesse a pretensão de dizer a um cidadão português como ele deveria vestir-se dentro do seu próprio país, esse cidadão não era, de forma alguma, obrigado a obedecer às instruções dessa mesma embaixada"'.

O programa em causa é coordenado pela jornalista Márcia Rodrigues e chama-se, ainda por cima, Avenida Europa, de acordo com RTP um programa de informação especializada sobre as actividades e as políticas da União Europeia que como se sabe, não tem propriamente tradições árabes ou islâmicas e sobretudo uma tradição de pluralidade política, religiosa e de costumes.

Apeteceu pois ou à jornalista, ou à RTP, ou a ambas, entrevistar o embaixador do Irão em Lisboa com véu preto, de casacao preto, camisola preta, luvas pretas, tudo meio largo, como se vê no belo vídeo a partir dos 17 minutos e 20 segundos, sendo que à mesquita de Lisboa, embora tenha ido de véu, foi de vestido encarnado/vermelho/carmim, como se prefira dizer, e mangas de 3/4...

Isto não faz sentido nenhum, sobretudo num programa pago pelo contribuinte português e europeu.

Tal como não faz sentido alegar a ilegitimidade de proibição do véu enquanto não houver reciprocidade.

A reciprocidade é, creio, a palavra que resolve a discussão em volta do véu.

Isto porque, da mesma forma que um português em Teerão é obrigado a respeitar a cultura local, em Lisboa espera-se o respeito da cultura local.

Em Roma sê Romano.

Ora se há países onde se exige aos portugueses e europeus o respeito de certas regras que incluem até indumentária de certo tipo [que culminam, em alguns casos, coo se sabe, nas famosas burkas], mais das vezes véus, Portugal e a Europa têm a mesma legitimidade, num espírito de reciprocidade e igualdade entre Estados como existe em Direito Internacional, para exigirem o que quiserem.

E sobretudo [tratando-se aí não de igualdade entre Estados, mas do exercício de direitos de soberania nacional no seu estado puro], para não serem obrigados a respeitar tradições ou indumentárias estrangeiras no seu próprio país.

Basicamente, aquilo que Márcia Rodrigues não fez, ignorando esta soberania, transmitindo uma ideia de subserviência cultural e até de algum exagero patético, a fazer lembrar um baile de máscaras.

imagem: O Jogo de Polo, Miniatura do manuscrito do “Bustan” de Sa’di, Pérsia, Chiraz [1536-37], Colecção do Museu Calouste Gulbenkian

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