Os mercados.
'Estas são as divisões da sociedade realmente fundamentais na Era da Informação: primeiro, o fragmentar interno da força de trabalho entre produtores informacionais e mão-de-obra-genérica substituível. Segundo, a exclusão social de um segmento significativo da sociedade formado por indivíduos descartados cujo valor como trabalhadores/consumidores já foi usado e cuja importância como pessoa é ignorada. E terceiro a separação entre a lógica de mercado das redes globais de fluxos de capital e a experiência humana dos trabalhadores'
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'O terceiro nível do processo de apropriação de lucros pelo capital é história antiga, tanto quanto é característica fundamental do novo capitalismo informacional. Diz respeito à natureza dos mercados financeiros globais. Nestes mercados, os lucros de todas as fontes acabam por convergir na procura de maiores ganhos. Na verdade, as margens de lucro no mercado accionista, monetário, de títulos, futuros, opções e derivados, isto é, nos mercados financeiros em geral, são, em média, muito maiores que na maior parte dos investimentos directos, exceptuando de alguns casos de especulação.
Esta vantagem não decorre da natureza do capital financeiro, a forma mais antiga de capital na história, mas das condições tecnológicas em que o capital opera no informacionalismo, nomeadamente, este último invalida o conceito de espaço e tempo mediante meios electrónicos.
A sua capacidade tecnológica e informacional de procurar em todo o planeta oportunidades de investimento e de mudar de uma escolha para outra em questão de segundos, faz com que o capital esteja em movimento constante, fundindo capital de todas as origens, como em investimentos em fundos mútuos.
Os recursos de programação e precisão dos modelos de gestão financeira possibilitam inúmeros cenários alternativos, vendendo 'património irreal' como direitos de propriedade imaterial. Jogando-se segundo as regras, não existe nada de diabólico neste casino global.
Afinal, se uma gestão cuidadosa e a tecnologia apropriada evitam crises de mercado, as perdas de algumas fracções de capital representam os ganhos de outras, de forma que, a longo prazo, o mercado faz um balanço e mantém um equilíbio dinâmico.
Contudo, em virtude do diferencial entre o montante de lucros obtidos com a produção de bens e serviços e o valor que se pode conseguir com investimentos financeiros, os capitais individuais de todos esses tipos dependem, sem dúvida, do destino dos seus investimentos nos mercados financeiros globais, visto que o capital nunca pode ficar parado.
Deste modo, os mercados financeiros globais e as suas redes de gestão são o verdadeiro capitalista colectivo, a mãe de todas as acumulações [...] mas estes movimentos não seguem uma lógica de mercado. Este é torcido, manipulado e transformado por uma combinação de de manobras estratégicas accionadas por computadores, psicologia de multidões multiculturais e turbulências inesperadas devido a graus cada vez maiores de complexidade na interacção entre os fluxos de capital a uma escala global.
CASTELLS, Manuel [2oo3] A Era da Informção: Economia, Sociedade e Cultura, vol. III [O Fim do Milénio], Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp.466-467
Marcadores: mercados, sociedade, Tecnologia
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