O Buraco.
Diz-se que o português é o rei do desenrasca. O personagem que, sem qualquer preparação, se 'safa' da situação difícil. Sem qualquer organização ou planeamento, depara-se com um cenário de catástrofe e 'lá se arranja'.
E assim se vai 'andando'.
O resultado nunca é 'óptimo', mas a mediania, ou a mediocridade, é 'melhor que nada' e o povo, 'brando', não se importa. Porque... 'podia ser [bem] pior'.
Etc., etc.. Balelas.
Tendências podem inverter-se, mas a tendência do nosso país é -- e temos razão no nosso realismo [mas não no fatalismo] -- para o abismo.
É normal.
Só temos democracia desde 1975. Estamos em 2oo7.
Nestes 32 anos, a coisa foi simples.
Nos primeiros 5, de 1975 a 1980, vivemos em total incerteza política, social e económica.
De 1980 a 85 não deve ter sido muito diferente.
E da adesão à 'CEE' até hoje, tivemos 20 anos bem claros: recebemos dinheiro que gastámos e não investimos.
Ou, se quisermos, que alguns receberam e gastaram em Ferraris e afins, e não investiram devidamente nos meios de produção, seja indústria, serviços ou pesca, e sobretudo educação e inovação tecnológica: o 'milagre irlandês' não nasceu do nada.
Agora, com o alargamento a leste, o fim dos quadros comunitários de apoio como os conhecíamos: os novos países da 'Europa a 27' são o Portugalete dos anos 90, e Portugal devia agora viver dos resultados do investimento dos subsídios que recebeu.
Com o alargamento, Portugal deixa de receber, mas não deixa de dar [sobretudo para cumprir com o histerismo orçamental, designadamente os limites ao endividamento / défice público].
E agora nada sobra: o dinheiro deixou de cair e o investimento, inexistente, não pode dar frutos.
Por isso ninguém pode esperar o fim da crise: o fim do buraco não chega, até porque a queda a sério começa agora.
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