29 agosto 2007

O Buraco.



Diz-se que o português é o rei do desenrasca. O personagem que, sem qualquer preparação, se 'safa' da situação difícil. Sem qualquer organização ou planeamento, depara-se com um cenário de catástrofe e 'lá se arranja'.

E assim se vai 'andando'.

O resultado nunca é 'óptimo', mas a mediania, ou a mediocridade, é 'melhor que nada' e o povo, 'brando', não se importa. Porque... 'podia ser [bem] pior'.

Etc., etc.. Balelas.

Tendências podem inverter-se, mas a tendência do nosso país é -- e temos razão no nosso realismo [mas não no fatalismo] -- para o abismo.

É normal.

Só temos democracia desde 1975. Estamos em 2oo7.

Nestes 32 anos, a coisa foi simples.

Nos primeiros 5, de 1975 a 1980, vivemos em total incerteza política, social e económica.

De 1980 a 85 não deve ter sido muito diferente.

E da adesão à 'CEE' até hoje, tivemos 20 anos bem claros: recebemos dinheiro que gastámos e não investimos.

Ou, se quisermos, que alguns receberam e gastaram em Ferraris e afins, e não investiram devidamente nos meios de produção, seja indústria, serviços ou pesca, e sobretudo educação e inovação tecnológica: o 'milagre irlandês' não nasceu do nada.

Agora, com o alargamento a leste, o fim dos quadros comunitários de apoio como os conhecíamos: os novos países da 'Europa a 27' são o Portugalete dos anos 90, e Portugal devia agora viver dos resultados do investimento dos subsídios que recebeu.

Com o alargamento, Portugal deixa de receber, mas não deixa de dar [sobretudo para cumprir com o histerismo orçamental, designadamente os limites ao endividamento / défice público].

E agora nada sobra: o dinheiro deixou de cair e o investimento, inexistente, não pode dar frutos.

Por isso ninguém pode esperar o fim da crise: o fim do buraco não chega, até porque a queda a sério começa agora.

Marcadores: ,