21 maio 2007

Deslocalização


Outsourcing e deslocalização são palavras suaves da gestão empresarial e da economia global nos últimos anos ou década.

Aplicou-se a tudo e por tudo. O exemplo mais famoso é o da deslocalização de empresas para baixar a carga fiscal ou para diminuir os custos de mão de obra [sobretudo se o país de destino não tem legislação que proteja os direitos humanos ou em específico os laborais].

A coisa vem-se sofisticando.

Deslocalizar callcenters passou a ser comum e hoje já se deslocalizam prisões. Mesmo que sejam casos 'peculiares' como o de Guantanamo, onde se prendem pessoas sem prazo ou sem acusação. em boa verdade não foram presas [porque não existe propriamente um enquadramento jurídico claro de guerra ou de polícia], mas sim raptadas.

Em 2005 a revista Fortune fez uma reportagem sobre a deslocalização de testes de fármacos: já na altura, 40% dos testes eram efectuados em países do terceiro mundo.

África tem muitas pessoas, muitas delas doentes e qualquer moeda vale tudo.

No dizer de George W. Bush 'Africa is a nation that suffers from incredible disease, and it suffers from poverty, as well' [Press Conference by President Bush, Prime Minister Goran Persson of Sweden, Massan Convention Center, Goteborg, Sweden, 4:27 P.M. (Local), June 14th 2001].

E é em África [um continente e não um Estado, para quem foi zeloso -- ou distraído -- na leitura da frase do Presidente dos EUA] , mais precisamente na Nigéria, que surgiu um processo judicial contra a Pfizer. O processo é de 2001, mas a história já se arrasta há 11 anos. Com a epidemia de meningite na altura, que matou mais de 15 mil pessoas, a Pfizer viu a oportunidade: fretou um DC-9 e enviou para a Nigéria investigadores e um laboratório. Administrou doses de uma droga experimental chamada Trojan, Trovafloxacina, proibida em 1999 pela FDA por causar problemas hepáticos. E alegadamente as doses terão sido administradas sem o consentimento dos pais. E sem ser o único tratamento disponível, uma vez que havia voluntários a oferecer um outro tratamento já testado e aprovado internacionalmente.

Pior: terão sido administradas doses muito acima do aconselhável -- overdoses, portanto... -- da qual terão resultado mortes de 5 crianças e deficiência em 200.

Mas enfim, o povo continua a preocupar-se apenas com uma criança, que nem se sabe se ainda existe, de seu nome Madeleine.

Marcadores: , , ,