Goa em 'Transe' por 30 badamecos.
Já falámos aqui várias vezes do actual Presidente da República Portuguesa.
E raramente no sentido de apoiá-lo. Nem tanto por motivações partidárias, porque não tenhos, mas por razões sociais e de competência objectiva para o cargo.
Desta feita, o PR vê-se envolvido num cenário que escapa, espero, ao seu controlo e que é um momento triste nas relações internacionais e para os direitos humanos.
No dia 14.1.2oo7, o PR português recebeu da Universidade de Goa a distinção de doutoramento honoris causa, algo perfeitamente simbólico e banal nas relações entre Estados.
Pela imprensa, soube que cerca de 30 manifestantes, que foram detidos pela polícia, empunharam cartazes com inscrições em inglês e hindi como 'abaixo o imperialismo' e '14 de Janeiro - Dia negro para a Universidade de Goa'.
Parece que esta é a primeira vez que a Universidade de Goa entrega o doutoramento honoris causa, tendo escolhido um cidadão estrangeiro para o efeito.
Segundo os manifestantes [aparentemente uma organização estudantil de direita] essa distinção devia ser dada a goeses ou indianos.
Este é um acto de profunda xenofobia.
Não irei argumentar com as típicas fórmulas 'se não fosse o império português Goa não estava no mapa, ou nem teria Universidade'.
O argumento é mais simples, ainda mais universal, e irrefutável: recusar uma distinção a uma pessoa pelo facto dela ser estrangeira é um acto de estupidez imensa.
É claro, poderia ser uma distinção reservada a nacionais, como sucede com várias ordens honoríficas de Estado.
Não é o caso. Como se sabe, os doutoramentos honoris causa são realizados pelo mundo fora e, em regra, em homenagem a cidadãos estrangeiros ou nacionais que se destacaram internacionalmente.
Assim, até podia compreender-se não dever ser atribuído o dito doutoramento a Cavaco Silva, por se entender que não teria craveira cultural ou social para tal, ou porque a sua carreira nada demonstraria de relevante para as relações Portugal-Índia ou as relações internacionais. Nem mesmo como PR, dado estar há tão pouco tempo no cargo e conhecendo-se tão pouco da sua actividade como titular.
Ou podia argumentar-se [embora tal exigisse muita inteligência e subtileza q.b.]que Potugal era um ex-colonizador e algo banido.
Mas não pode, em caso algum, compreender-se a defesa da não atribuição do grau honoris causa só porque é estrangeiro.
Objectivamente isso é xenofobia. Subjectivamente, é pura estupidez.
Foto: pormenor de contador indo-português da coleccção do V&A, restaurado recentemente.
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