05 dezembro 2006

Em fase terminal.


Diz o Publico de hoje que 'O combate à corrupção e à criminalidade económico-financeira depara-se com alguns entraves, como a falta de peritos e técnicos especializados ou as "descoordenações" entre a base de dados da Polícia Judiciária e a do Ministério Público (MP)'.

Estes dois problemas nao sao exclusivos da policia enquanto instituicao, nem do Estado em geral. E muito menos da justica.

Sao problemas culturais.

O primeiro e a falta de especializacao.

O segundo e a falta de governo.

Sabe-se de tudo e nao se sabe de nada.

Manda-se em tudo e nao se manda em nada.

Falta 'focus', uma certa concentracao, seja naquilo que se estuda e se faz, seja na forma como se faz.

Portugal tem tido, inclusive, uma optima pontuacao no indice de compliance do FATF/GAFI, o que faz com que seja um dos Estados mais protegidos (juridicamente falando, e claro) contra o branqueamento de capitais.

O problema da educacao e um problema nacional. Nao existeuma aproximacao das faculdades ao mercado de trabalho, como se sabe, e no caso de profissionais no activo, sejam policias ou outros, ha pouca actualizacao e sobretudo especializacao.

Expressivo e o curriculum das universidades portuguesas, que so agora contempla pos-graduacoes a serio (num boom dos ultimos anos que incluira, e certo, algumas bem duvidosas), e apenas um LL.M. (da UCP). Como e evidente, a triparticao licenciatura / mestrado / doutoramento nao tem nada a ver com a realidade economica e social de hoje.

Por outro lado, o problema do desgoverno e cronico, e recorda-se sempre nestas ocasioes a frase do alegado lider militar romano segundo o qual Portugal seria uma terra onde nao se governam nem se deixam governar.

Se e certo que esta ideia e redutora (desde logo pelo factor 'problema nacional'), e certo que e tambem um problema nacional e que nao existe em Portugal respeito pelas regras e pelas hierarquias, talvez por complexos democraticos.

E verdade que a democracia portuguesa tem 30 anos, mas e de esperar que dessa democracia resulte uma solucao equilibrada que possibilite a estabilidade politica, social e economica.

A falta de coordenacao referida na noticia acima e o resultado desta falta de equilibrio e demonstra uma desorganizacao mental bastante sul-europeia. Somos felizes na mesa e na cama, mas muito maus no escritorio e no Governo.

O problema esta precisamente no facto que a cama e a mesa desaparecerem rapidamente se nao passamos a trabalhar melhor.

Parece que os visados pela noticia do Publico -- e por muitas outras do mesmo calibre -- nao notam isso. Ou que se preocupam apenas com a sua mesa e a sua cama.

O que nos reduz a um ponto essencial e algo desaparecido: a ideia de servico publico e o espirito de missao que deve presidir a quem lidera um exercito, um Estado, uma empresa, um museu ou uma casa. Vai tudo dar ao mesmo: resultados.