Histerismo [nada]socrático
A 'semana política' em Portugal ficou marcada pelo 'incidente' causado pelo actual Primeiro-ministro, que naquilo que é referido como ataque de histerismo no Parlamento acusou um deputado da bancada comunista de ser comunista.
No caso concreto, trata-se de um economista. E em Portugal poucos economistas haverá que não tenham ligações a um partido político [tradicionalmente o PPD-PSD]. Claro que alguns são mais óbvios que outros.
É curioso como alguns políticos portugueses conseguem conjugar na mesma frase e acção o verbo 'acusar' e classificar alguém como aquilo que é.
É como 'acusar' Mourinho de ser treinador de futebol, acusar Mário Soares de ser ex-Presidente da República, acusar Amália Rodrigues de ter sido [durante longos anos, imagine-se!] fadista, ou de acusar-se Adriana Lima de ser gira.
Ou, é evidente, acusar-se o actual Primeiro-ministro, de seu nome José Sócrates Pinto de Sousa, de ser... Primeiro-ministro!
Se é certo que o Primeiro-ministro não foi acusado de ser Primeiro-ministro, o deputado comunista visado saiu em glória:
Após a sessão parlamentar o Primeiro-ministro pediu-lhe desculpas e chegou a telefonar-lhe, segundo diz o deputado em entrevista, acrescentando que respondeu ao Primeiro-ministro salientando a sua falta de educação e frisando que não descia ao seu nível.
Isto porque logo no fim de semana teve honras de entrevista [pela mesma jornalista que normalmente 'confronta' Marcelo Rebelo de Sousa.
E nessa entrevista o deputado comunista [e economista, como se afirma em primeiro lugar] pode expôr-se em grande, 'acusando' [agora em sentido próprio] o Primeiro-ministro de não ser educado, de descer a um nível inqualificável e de não ter sequer [talvez por isso acusar o comunista de ser comunista] respondido às questões com as quais foi confrontado.
O 'comunista que é comunista' chama-se Eugénio Rosa e é um caso interessante da sociedade portuguesa, oscilando entre a economia e política.
Há alguns anos os seus e.mails com comentários e análises económicas circularam por aí [e ainda circulam] com assuntos [de e.mail] tão misteriosos como E4 ou F4.
As pessoas perceberam a qualidade da coisa [ou simplesmente acharam 'graça'] e passaram.
A certa altura a coisa ficou séria: os e.mails circulavam vorazmente e vários líderes políticos e económicos deste pequeno país à beira mar plantado o recebiam.
Poderia tratar-se de um exótico economista em busca de protagonismo [academica e profissionalmente merecido ou simplesmente narcisisticamente desejado], mas em boa verdade -- como me apercebi pela entrevista a Flor Pedroso -- o senhor já tinha um historial anti-fascista e militância no PCP.
Era portanto alguém dos fundos [pelo menos para o comum dos portugueses] que veio surgindo.
Neste momento está temporariamente na bancada parlamentar do PCP e é pois um caso interessante pelo modo como aí chegou e pelo modo como intervém.
Isto porque não se reduz -- como a maioria dos desputados, seja qual for o partido -- ao puro cacique.
Mas porque se baseia em dados económicos objectivos.
Coisa que não é comum na política portuguesa, sobretudo aquela que é reflectida nos jornais e nas televisões.
O mesmo que [aparentemente] chegou a fazer Paulo Portas no início da sua vida política, quando na oposição 'ousava' aparecer com estudos ou projecções ou propostas políticas com fundamentação económica alternativa e mais positiva que a do Governo de então.
Os portugueses reconhecem isto.
E assim subiu Paulo Portas [só mais tarde a cosmética veio a ser o plus, até que foi o tudo, e desapareceu a fundamentação económica do que fosse].
E assim está a subir o outrora anónimo [e provavelmente futuro anónimo] Eugénio Rosa.
E assim desceram os governos do PS, na altura 'Guterres' e hoje 'Sócrates'.
E é 'assim' curioso como este anónimo causou histerismo no Presidente do Conselho...
Mas suspeito que a culpa não é anónima.
E que as vítimas são uns bons milhões de cidadãos.
E se a incompetência e autoritarismo não bastassem, acresce agora a histeria. O enquadramento é 'peculiar' e faz-me lembrar filmes como 'Ninho de Cucos' ou o mais prosaico 'Casa de Doidas'.
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