31 março 2006

Os Novos Pobres


Porque é que ninguém fala deles?

Só se fala de novos ricos. Das suas vantag€n$ e saloíces. A malta do Jaguar, tão celebrizado entre as classes médias após Portasgate, o famoso acidente junto às Amoreiras.

Nada sobre os Novos Pobres. Para os quais, quando saem de casa, é chocante ver a forma como a maioria das pessoas vive no dia a dia.

A população em geral, classes baixas e médias.

A violência de movimentos, olhares e palavras; a brutalidade do cuspir na rua e dos erros ortográficos; do perfume de mau gosto à sua ausência; a forma selvática como fazem compras; como casam, quase autómatos que, pelo 'establishment' namoraram e casam 'com tudo a que dizem ter direito', com os mesmos vestidos, as mesmas festas, as mesmas músicas, as mesmas bebidas, as mesmas comidas e as mesmas cadeiras douradas ou com lacinhos e claro, as mesmas viagens; a forma como (não) educam os filhos e como acham que a tudo têm direito sem nada fazer e como ignoram os direitos que têm e não os fazem valer.

Aqueles que não votam porque está Sol, para quem a monarquia faria sentido porque é 'bonita' ou para quem não faz sentido nenhum porque não é 'moderna'.

Os mesmos que se pelam por apelidos 'bonitos' acrescentando 'des' e 'és' e arrastam o seu ego para todos os processos de decisão, sem usar a razão.

Aqueles para quem Figo é o verdadeiro embaixador do país, e para quem o futebol é 'o' desporto e o resto meras modalidades e que adoram usar e oferecer equipamentos desportivos 'oficiais' com o nome dos 'verdadeiros' jogadores

E que adoram a sua 'mini', a sua 'jola' e bricolage. E surfar não por surfar, mas pelo estilo (pelo ego?) e pelo sonho de miúdas. O mesmo para o skate, o rugby e muitas outras coisas.

Que ouvem as músicas da moda, sem qualquer sentido crítico. O mesmo quanto aos filmes. O mesmo quanto aos bares e discos. Não quanto aos livros, porque não lêem.

E presos às marcas, até porque não sabem distinguir qualidade de engodo: champagne tem de ser Moët, malas têm de ser Vuitton (mas falsas, claro), telemóveis Nokia, carros BMW e Mercedes, a casa tem de ser moderna, pseudo-minimal, às vezes com um toque 'rústico'. São as suas 'garantias de segurança'. As marcas... como se alguém verdadeiramente 'conhecedor' estivesse a preocupar-se com a sua satisfação pela qualidade e não apenas com o seu pouco dinheiro.

É assim que se julgam felizes, comprando coisas e arranjando um marido ou mulher, um namorado ou namorada. É esse o seu objectivo, o seu dia a dia. Comprar, consumir, e ter a ilusão de que são amados e, quem sabe, admirados.

Os Novos Pobres continuam ignorados, só os chamam quando precisam do tal 'nome bonito'. Mas como não têm dinheiro, não interessam. São uns Elitistas, diz-se. Mesmo que sejam eles os tais 'conhecedores' e que, respeitando os seus princípios de nobreza, não alinhassem em todo o manancial de indiscrição, histeria, ignorância e depressão mitigada que caracteriza a realidade presente. Um homem com 'princípios' deixou de merecer o epíteto de 'pessoa séria' para ser, nos dias de hoje, um 'pato'.

Como é perigosa, a mediania. Que afunila e cega, dando a ilusão da felicidade e do esclarecimento, enchendo o ego, como se houvera verdades únicas, simples e acessíveis. E como é banal.


Mas será finita?