11 agosto 2004

Voluntariado 'Cultural'

Falar de Voluntariado em Portugal é falar de assistência a grupos sociais, não a grupos culturais.

É falar de ajuda directa a pessoas, e não de ajuda a objectos como ajuda indirecta a pessoas.

É extremamente necessário criar em Portugal a possibilidade e o hábito do que chamarei de 'voluntariado cultural'. Desde logo junto a colecções de arte (sobretudo públicas), mas também noutras instâncias mais genéricas, como jardins...

Isto porque a necessidade deste voluntariado já existe. Existe por razões óbvias de falta de financiamento, mas também por razões talvez menos óbvias (pelo menos da maioria da população), como a deliberada fraca contribuição pública para a área da conservação do património histórico e artístico.




A criação do voluntariado passa pela abertura das instituições à colaboração de cidadãos interessados, sejam jovens, sejam adultos com tempo livre e interesse pessoal, sejam idosos com capacidades e por vezes talento para certas actividades. Existem saudáveis exemplos em grande parte das instituições britânicas e norte-americanas.

As actividades disponíveis vão desde a simples guarda/conservação de colecções até à participação, guiada, em actividades básicas de restauro, ou simplesmente no auxílio ao funcionamento das instituições, como o atendimento ao público.

As instituições culturais justificam-se por si, não podemos encará-las como locais de emprego remunerado, caso isso prejudique o seu objecto essencial: a conservação e crescimento de uma colecção, aberta tanto quanto possível ao público.

Atrair a população para o voluntariado não é fácil, mas não impossível. E Portugal tem tido bons índices em áreas como o voluntariado 'social'. Valorizar o voluntariado no âmbito da fiscalidade e sobretudo na apreciação de um curriculum é essencial. E no longo prazo, a valorização pessoal e o reconhecimento social revelam os seus frutos.



Numa época onde financiamento é a palavra chave, e em que a necessidade de solidariedade excede o âmbito social, nada melhor do que desenvolver o voluntariado cultural, demonstração máxima da democratização do ser civilizado. As instituições dependem de pessoas. Mas cabe às instituições o primeiro passo.

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