12 julho 2007

Lisboa


Já falámos várias vezes de autárquicas e em especial de Lisboa, nos últimos 2 anos:

http://lorenzetti.blogspot.com/2007/02/estudars-em-lisboa-trabalhars-em.html#links

http://lorenzetti.blogspot.com/2007/05/lisboa.html#links

http://lorenzetti.blogspot.com/2006/07/autrquicas-2oo5.html#links

Especialmente na necessidade de conferir direito de voto em Lisboa para quem apesar de não residir na cidade, 'viva' nela, seja a trabalhar ou a estudar.

Desta vez falamos do debate a 12, debate que causou polémica desde logo na forma comos seria realizado [ver notícia no DN de 10.6.2007].

E depois do debate, como se lê no site da RTP, 'Entre "vivo" e "chato", não houve consenso entre os candidatos sobre o debate de segunda-feira à noite na RTP, mas a maioria classificou-o de incompleto, lamentando a falta de discussão sobre temas como Ambiente, Segurança ou Cultura.'

E não falar de Segurança e Cultura, ao lado do tema essencial da Reabilitação Urbana é não falar de Lisboa e dos problemas que é preciso resolver.

Felizmente não houve momentos destes, bem presentes nas últimas eleições:




Mas todos parecem concordar que numa cidade de 84km2, 53 freguesias e cerca de meio milhão de residentes [a descer desde 1960, altura em que eram mais de 800 mil], doze candidatos é demais.

Sendo essa uma realidade relativamente inalterável, é preciso analisar o que se tem.

O PS foi buscar um ministro, sem que se perceba como pode o maior partido português não ter alkguém disponível e preparado para o cargo, sem ter de tirar um ministro [e substituí-lo por Rui Pereira, que mal teve tempo de aquecer o lugar para o qual tinha sido nomeado no Tribunal Constitucional]. Não se percebe qual é o programa além de retirar o aeroporto da Portela e de colocar lá um jardim [jardim que alguns candidatos já disseram ser a maior mentira do século, e cuja verdade seriam os projectos imobiliários manhosos do costume]. E a vitória para o PS seria o expandir da famosa frase 'uma maioria, um governo, um presidente' para 'uma maioria, um governo, um presidente, uma capital'. O próximo passo é o Porto?



O PSD foi buscar um 'independente', ex-chefe da polícia, o juiz Negrão, que além da confusão EPUL/EPAL, IPPAR, etc., não tem qualquer carisma e pelo que se percebe, e a acompanhar COsta, a ausência de um programa coerente, e apenas o argumento de 'estabilidade' e de 'ordem' na Câmara. Porém, como se tem visto em casos como o de Oeiras e Isaltino Morais, os cidadãos querem resultados e não querem saber se isso é com ordem ou desordem. O que desde que não ultrapasse os limites, até pode ser razoável -- pode haver alguma desordem se o resultado for positivo [desde que a desordem não seja alguém fugido à justiça ou claramente corrupto] pois o facto de ter um ar arrumadinho [veja-se Marques Mendes] nada indica sobre a obtenção de bons resultados.

O PCP aposta em Ruben de Carvalho, cuja falta de carisma assombra os resultados, sobretudo quando tem ao lado Sá Fernandes e Roseta, que lhe 'roubarão' alguns votos [e muitos mais 'roubarão' ao PS]. Foi importante ter relembrado que o activo da CML é imensamente superior ao seu passivo e que portanto, em termos contabilísticos, a CML não está falida, como alguns querem fazer crer, no habitual discurso 'luso-fatalista', onde a mania dos défices parece justificar as medidas mais horrendas e o abafar de direitos constitucionais. É também sua a proposta -- velha mas muito útil -- de metro no aeroporto e de uma autoridade metropolitana de transportes que regule a estrutura e qualidade dos transportes públicos na cidade e no acesso a ela.



O PPM apresenta Câmara Pereira que apesar dos disparates que por vezes diz, e de um discurso pouco articulado [o que talvez o torne o candidato 'duh' AKA tecla3], tem dois pontos muito positivos -- reconhece [algo semelhante ao PCP] que o programa é o mesmo de sempre, e opõe-se [com todo o apoio de Lorenzetti e, pelo que vi das últimas sondagens, da maioria dos Lisboetas] a nova construção, até que seja recuperada a já existente. Esta devoção ao património é um grande trunfo do PPM. Negrão, por exemplo, já afirmou -- no debate da RTP -- que não iria parar a construção.

Roseta surge como um reavivar do espírito de uma 'campanha Alegre' vivida nas últimas presidenciais, e tem sido sem dúvida a candidata mais inteligente destas eleições, como se tornou claro no debate a 12 na RTP. A aplicação da 'acupunctura urbana' foi ar fresco e um método necessário em Lisboa, que tem de renovar o seu património já, sob o risco de perdê-lo.



Garcia Pereira candidata-se como sempre, com a já [in]famosa frase 'são sempre os mesmos que falam, estão-me a cortar o tempo' e é de louvar o seu plano estratégico para um porto a sério em Lisboa, e para a reestruturação dos acessos ferroviários à cidade e [em colaboração com o Governo evidentemente] ao país.

O MPT apresentou propostas muito simpáticas e parece ter-se preparado bem -- ou pelo menos reduziu o discurso àquilo que preparou, o que não deixa de ser mais feliz que a maioria dos candidatos]. A ideia de transferir parte das receitas das portagens de acesso a Lisboa para a CML são positivas [e uma 'congestion charge' mais justa, pois é cobrada 'como acesso' e não como 'assinatura']. Provou que não é necessário mais um aeroporto, pois os slots da Portela [disponíveis no site da ANA] estão quase todos disponíveis. Referiu ainda a igualmente verdadeira, inconveniente realidade da inexistência de inventariação do património camarário. Como é possível governar uma cidade sem saber o que tem a sua câmara? E como é possível avaliar a dívida e negociar empréstimos e afins sem saber a posição financeira real da cidade enquanto devedor?



O CDS esteve no seu pior e a ausência de ideias, associada a um caciquismo mal educado e desagradável, nada expectável de quem se afirma conservador, era dispensável. Continua sem se perceber se o candidato é Telmo Correia ou Paulo Portas Reloaded.

O Bloco de Esquerda mantém a política do 'não' e a contestação parece não estar sustentada por nada de substancial. Se é certo muito do reclamar, é também evidente, e como frisou a sofrível moderadora do debate na RTP, já ninguém quer diagnósticos, porque os fez enquanto cidadão, querem-se soluções. E não basta boa vontade.

O PNR teve piada pelo estilo, embora o conteúdo seja discutível [sobretudo o ódio aos gays e afins] e aquilo que todos sabem ser a ideologia por trás do partido em causa. È igualmente impressionante o ódio que parece sair dos olhos e do discurso do candidato [hate speech?]. É interessante o facto de ser antisistema, e subtis alguns dos seus argumentos, mas o problema é que a alternativa que apresenta não servir a todos e implicar a exclusão de parte da sociedade ['gays e afins']. É no entanto correcto que exiete um lobby gay e que a CML não deve apoiar manifestações gay. Mas não porque sejam antinatura ou outra das razões apresentadas pelo PNR. Tão simplesmente porque a sexualidade nada deve ter a ver com a câmara, e porque os gays não são, nem devem ser, uma causa pública, mas uma opção privada de quem quiser e com os seus fundos.



Manuel Monteiro continua no PND como one man show, e parece um mix PNR / MRPP. PNR pela ideologia, MRPP pelo estilo. Pelo que bastará ler o que se escreveu acima. É bom ter ideologia, e Monteiro têm-na, mas falta o resto. Mudar de óculos não foi suficiente.

Carmona Rodrigues - sem comentários.

Não sei quem vai 'ganhar' nestas eleições. Mas todos sabemos que a cidade vai perder tudo o que tem se não se recuperar o seu património histórico. Que é tudo aquilo que lhe resta.


Algumas ligações úteis:

Câmara de Lisboa
Plano de revitalização da Baixa Chiado
Comissão Nacional de Eleições

Lista de candidaturas a Lisboa:

Partido Socialista - PS
Partido Popular - CDS-PP
Partido Popular Monárquico - PPM
Partido da Nova Democracia - PND
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses - PCTP/MRPP
Lisboa com Carmona I
Cidadãos por Lisboa II
Bloco de Esquerda - B.E.
Partido Nacional Renovador - PNR
10º Partido Social Democrata - PPD/PSD
11º Coligação Democrática Unitária - CDU (PCP-PEV)
12º Partido da Terra - MPT




imagem: Noticia estadistica de Lisboa [Material cartográfico : ou breve notícia das cousas mais notaveis que Lisboa contem e planta da cidade de Lisboa.... - Lisboa : Oficina de Stª. Cathª., 1834. - Not. em 5 tábuas, metidas em caixa de cartão, na Biblioteca Nacional.

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