29 julho 2006

Corporativismo e 'Interesses'


De forma crónica, discute-se em Portugal corporativismos de classe, etc etc etc.

Agora, com os professores.

Que são 70 mil sindicalizados [estilo praga] em 140 mil [estilo exército] e que há mais de 11 sindicatos.

Lorenzetti acha um piadão.

Até porque há grupos profissionais -- sobretudo onde há ordens - onde o 'sindicato' é um só.

No caso dos advogados, o caso é exemplar. Os pobres desgraçados têm uma ordem, sem sindicatos [porque para todos os efeitos são trabalhadores independentes, mesmo que estejam numa firma de 200, como já existe em Portugal -- ou 1000, no próximo caso espanhol -- com uma cadeira de comando / hierárquica bem definida e oleada].

Ao mesmo tempo que age como sindicato, a ordem age como regulador. E sem estar na ordem, não se pode ser advogado.

E mais: é a mesma ordem que redige todas as regras de profissão. E as aplica, com recurso a sanções e tribunal próprio.

Quem defende os advogados da sua própria ordem? Lorenzetti não faz ideia. E depois há casos curiosos, mais falados, como o de José Miguel Júdice, a quem foram concedidos uns minutos para se defender [contra o tempo ilimitado da acusação] e que foi deixado só na sala porque o conselho o deixou a falar sozinho, uma vez que tinha 'ultrapassado o tempo permitido'.

Lorenzetti tem alguns antepassados inquisidores 'bem alinhados' e provavelmente aos métodos só se acrescentavam umas ferramentas, água e fogo. Mas enfim, só passaram uns 300 anos. A lógica é que acaba por ser a mesma: eu mando, você sujeita-se. Porque eu sou a estrutura, você é um só.

Isto para dizer que uma ordem profissional não é necessariamente o 'máximo' para quem dela faz parte. Até porque mais das vezes está lá obrigado. No caso dos advogados, tenho uma amiga advogada, numa das 'maiores sociedades' espanholas, mas a trabalhar cá em Portugal, que diz algo curioso: 'por mim não havia Ordem. Aquilo é uma empresa que nos explora. Devia existir autoregulação. Se o mercado é livre, que o seja para todos'. Assim reza a opinião dela, que é aliás uma profissional de excelência numa das áreas mais delicadas do direito.

Por último e voltando aos professores, vítimas da sociedade portuguesa [da qual supostamente fazem parte], Lorenzetti não tem dúvidas que os sindicatos são corporativos. Só fazem o seu papel. Para defender o Ministério, há o Governo, para defender os alunos há as associações de estudantes, para defender os pais há as associações de pais.

E claro, para defender os médicos haverá a Ordem e o seu sindicato independente.Para os advogados, a one and only Ordem. Para os engenheiros a Ordem. Para quem trabalha na aviação os sindicatos da aviação. E por aí em diante.

Se não fossem corporativos não serviam para nada. Ou alguém espera que os sindicatos sirvam para apoiar o Governo ou a cultura da batata doce nos Pirinéus?

O corporativismo e o lobbying , em si, não são maus. São pluralistas e democráticos.

Já a corrupção é outra coisa.

E a incompetência, caros 'anónimos' do departamento de exames do Ministério da Educação, também. Mas não se preocupem, que não vos acontece nada. Afinal, ninguém sabe quem vocês são.

E com a praia, os Portugueses esquecem. Em Setembro / Outubro cá estará tudo com outro assunto qualquer.