04 julho 2004

Portugal de Relance I

Não há nada, porém, que iguale outro tic das raças primitivas. Em presença de um facto qualquer que suscite a vossa admiração, se pedirdes explicações responder-vos-ão: «É costume». Cumprimentais uma senhora na rua, e surpreende-vos o facto de receberdes apenas n troca uma quase imperceptível inclinação de cabeça: É costume. Um sujeito sai-vos ao encontro na rua, obrigando-vos a parar e, com a maior sem cerimónia, sem pedir licença, tira o charuto ou cigarro das vossas mãos, acende o seu e continua o caminho soltando um «obrigado», que uma mosca não seria capaz de ouvir. Admirai-vos: É costume.

Os portugueses são geralmente bem feitos; mas prejudicam muito estas qualidades pelo excesso de vaidade; alguns deles dão-se ares de vencedores quando passam junto das mulheres.
O amor tem um lugar tão importante e absorvente em Lisboa, na vida da maior parte da gente, que se pode dizer que não lhe resta tempo para mais nada. A mocidade elegante da capital é, em geral, ignorantíssima. Aprendeu pouco; por consequência, não sabe quase nada. Não respiramos a atmosfera das gerações espontâneas.


Maria RATAZZI
Portugal de Relance, 1881

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