11 novembro 2007

Pluma Caprichosa reloaded.


Já tinha saudades de Clara Ferreira Alves.

A sério.

Não pela literatura -- e os clássicos, os clássicos!!!! -- mas pela ironia.

Aquilo que Clara Ferreira Alves faz melhor [não faço ideia da sua profissão] é ironizar, embora mais com o PSD no governo e menos com o PS [mas com Sócrates, tudo mudou, e CFA ligou novamente o 'modo irónico' mesmo antes de o PSD voltar!].


Crítica social contemporânea
, como outrora fizeram actuais gigantes da cultura portuguesa, como o nosso querido Eça ou o vetusto Vieira, os mais ilustres.

Mesmo que isso implique ser odiada por alguns: não que não critique todos, mas num país de analfabetos, há muitos que não a conhecem. E muito menos lêem, sequer, o Expresso [provavelmente Balsemão tê-los-á igualmente como clientes, mas mais na faixa revista Caras, ou pior].

É claro, CFA não escreve livros. Pelo menos que eu saiba, além da sua colectânea de crónicas do Expresso.

Mas também não tem importância.

CFA é mesmo a única razão pela qual pego na revista do Expresso. E qualquer dia, dada a perda de qualidade de conteúdos do 'jornal de referência' dos portugueses, deixo até de ler o caderno principal e o de Economia. Enfim, deixaria de ler o Expresso. Só a última página da revista, a crónica da CFA.

Melhor do que Pulido Valente ou Sousa Tavaes [e como todos três se odeiam...], CFA é uma das poucas que me põe a ler uma revista ou jornal português [o expresso só leio porque todos lêem, e para não perder o contacto com o Portugal 'da rua' como diria Alfredo Pimenta].

Pode soar a arrogante. Mas acho que já tenho idade para me estar nas tintas para isso. Não preciso de provar nada, embora o anonimato de um blog nos possibilite ser mais 'straightforward' sem isso equivaler à morte social... E enfim, mesmo fechados em casa, temos de dar-nos bem com os nossos antiquários, galeristas, merceeiros, cabeleireiros e afins.

CFA fez um artigo delicioso sobre os resorts. Sobre um fraco resort, é certo [mas não tão mau como outros que refere no mesmo texto...]. E dele é especialmente suculenta a parte sobre spa's:

'[...] A spa é, a seguir ao resort, uma das grandes invenções da Humanidade. A spa é um lugar cheio de sugestões tailandesas e brasileiras e caribenhas com um cheirinho de Bali e de Goa. Velas ardem em cantos escuros e tem ofertas para executivos, uma subespécie do turista de resort. Tem a executive massage, a executive pedicure e a executive manicure. E a novidade da manicure com pedras quentes, muito relaxante. A spa tem a reflexologia, o reiki, o shiatsu, e injecções de botox para damas e cavalheiros. Botox? Really? Really.

Um executive entra numa salinha e paga uma consulta com um executante qualificado e sai da spa com a cara toda injectada de botulina tóxica e uma expressão igualzinha à dos guerreiros chineses de terracota que têm milhares de anos e estão muito bem para a idade. Muito bem mesmo. O preço da consulta é descontado no preço do botox. Não se pode pedir mais da vida nem da spa. A spa dá para uma nesga de Mediterrâneo encapelado e uma colina com um cheirinho de Odivelas onde avultam mais resorts mais baratos e sem botox. Na parede, u poster em inglês anuncia o paraíso na terra. English is always spoken
[...]'.

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