11 setembro 2006

A história da pintura europeia passa por Lisboa


Este quadro, que aqui de vê muito mal [uma fotografia perdida pela internet] é da colecção do 'Dr. Rau', o economista alemão herdeiro de uma boa fortuna nascida na indústria, que foi membro das tropas nazis [como cabo tradutor] e que entretanto se tornou médico, desertor [entregou-se comno prisioneiro de guerra às tropas inglesas] e filantropo [vendeu o seu património e utilizou o dinheiro para a construção de hospitais em África, deslocando-se mesmo ao Rwanda, já idoso -- morreu em 2002, cremos -- aquando dos conflitos e migrações que aí tiveram lugar, alimentando cerca de 4.000 pessoas por dia.

A colecção Rau foi doada à UNICEF[*] com a condição de venda, que terá lugar em breve, após uma série de exposições, neste momento em Lisboa e -- espera-se -- prolongada até meio do mês de Outubro de 2006.

A parte da colecção exposta em Lisboa, no MNAA, reúne cerca de 95 obras de pintura, desde o século XIV ao século XX, incluindo só, no século XX, quatro Monets bem representativos da sua evolução.

Todos os quadros foram adquiridos por Rau sem recurso a intermediários e exprimem um gosto verdadeiramente pessoal sendo uma verdadeira história da pintura europeia, estando todas as telas em óptimo estado, e sendo todas de grande calibre, a agradar mesmo aos maus cépticos quando a dado estilo [pelo que Lorenzetti 'até' gostou dos impressionistas].

Este quadro, parte da colecção e temporariamente exposto no MNAA, é de um anónimo e foi encomendado por um anónimo. Ironia das ironias, pois deixou para a posteridade a figura que retrata: 'Maddalena Del Grande', ume empregada doméstica nascida em 12 de Dezembro de 1634 que tão bem serviu os seus amos até 1713 que estes encomendaram o seu retrato; caro, em todo o caso, e muito imaginativo, para além de contrariar hábitos da época, como o retrato para a posteridade apenas dos senhores da casa.

É um acto raríssimo, de humanidade e de arte, ao qual L. presta homenagem. Nas quatro visitas que já fez a esta exposição [sempre com 'visitantes' diferentes] não deixa este quadro ignorado. Fica a dica.


[*] Na versão inicial deste post tínhamos escrito UNESCO e não UNICEF. Depressa e bem... Chamou-nos a atenção o Tiago Cristóvão [foi da maneira que L. ficou a saber que tem um leitor] autor de um blog que L. acaba de descobrir que renasceu, de forma belíssima: A Força das Circunstâncias. Temos pensado na UNESCO por outras razões [que poderão basear um post em breve]. De facto no caso de Rau era a UNICEF [que não tinha inclusive capacidade de gestão da colecção, algo que a UNESCO eventualmente teria] e que está relacionada com o ponto nevrálgico da filantropia de Rau: as crianças. Obrigado Tiago.