28 maio 2006

Procriação Assistida


é uma das questões da moda em Portugal.

No entanto, a questão de fundo, é que contrariamente ao que poderia pensar-se [como acto de suprema bondade e Entrega] a gravidez é, também, um acto de profundo Egoísmo.

E não estamos no domínio religioso, longe disso.

Do ponto de vista da pessoa em concreto -- e possivelmente da mulher -- há uma escolha, na maioria dos casos, de quando e como.

Ter um filho, para um laico, não religioso, nem um fervoroso amante da natureza que encara o sexo como forma de reprodução da espécie; é uma Escolha.

Uma escolha qualquer, como a de ir de modo prosaico a um supermercado.

Com a vantagem de ser à borla: em qualquer país, há uma legião de homens que engravidariam a primeira mulher que lhes pedisse ou desse, simplesmente, a oportunidade [desde que não a vissem depois disso...].

A ideia de ter uma criança fora do casamento ou mesmo de uma relação a dois;

a ideia de ser mãe [ou pai!] solteira/o não admira nada.

Tal como hoje há quem viva Só por opção, que tem a liberdade para ir onde quiser, com quem quiser e como quiser, que pode mandar e desmandar na sua casa e nos seus consumos e no seu emprego.

Ter um filho é pois cada vez mais como ter um barco ou um avião: um pequeno luxo, mas bem mais acessível.

Ter um filho, fora da noção religiosa ou National Geographic é, hoje, ter um 'objecto', um 'bibelot'.

Não se quer com isto dizer que acabou o amor maternal / paternal. Claro que não; nestes casos até é mais intenso, porque obsessivo.

Tal como se adora o barco favorito, pode adorar-se o filho único ou favorito. Pode mesmo ter-se uma pai~xão obsessiva [e claro, Egoísta].

Lorenzetti tem imensas amigas grávidas. Uma delas é o exemplo mais candente e extremo desta evidência: vai finalmente ter o filho [o bebé] pelo qual sonhou a vida toda.

Tinha de arranjar [e manter!] um homem, claro, e agora 'conseguiu' finalmente engravidar.

Se tudo correr bem, vai ver cumprido o seu sonho. Lorenzetti está feliz por ela.

Mas é Egoísmo na mesma: o simples facto de ela adorar a criança não só antes de nascer, como antes de ficar grávida, prova a tese. A criança não é amada por si mesma, é amada incidentalmente, porque era um sonho que a mãe tinha desde criança.

E tal o aborto é uma forma de impedir o nascimento sem o consentimento do visado, ter um filho é, também [!] um nascimento sem o consentimento do visado...

Daqui aos tais 9 meses lá nascerá a criancinha, que irá fazer a respectiva família muito feliz.

E lá estará Lorenzetti feliz com eles, claro. Não há como os nossos amigos.

Mas Lorenzetti dificilmente esquecerá -- sobretudo sempre que estiver com a referida criancinha e à medida que ela for crescendo -- que ela é produto de um desejo [capricho?] de sua mãe. Que a amará, certamente, de forma desmedida e quase [senão] obsessiva. Se porventura acontecer alguma desgraça à criancinha, lá virá outra...

É extraordinário como os afectos extremos ocultam os mais ávidos [e quase mesquinhos ou psico-patológicos?] interesses.

Ocultam-nos e não só: tornam-nos politicamente incorrectos. Ao ponto de os outros [que não a mãe, mas incluindo a criancinha!] não poderem falar neles. E muito menos os outros, e sobretudo os homens, como Lorenzetti , que optou por escrever...