11 novembro 2005

Aí está, de facto


Uma forma de não cansar a imaginação de Lorenzetti: citar wonders.

Faz hoje uma semana que não escrevo no SW. Por preguiça, falta de inspiração, ressaca. Talvez pura e simplesmente por tédio das coisas que me acontecem.
Ou então porque tudo à minha volta me decepciona, mais do que algo em particular que possa descrever aqui. Tarde de mais um pouco, o descobrir que toda a gente se limita a sobreviver, porque a vida é assim. Sem sonhos, sem descobertas, sem esforços, sem esperanças. Ao dezoito anos queremos o mundo e mais alguma coisa. Depois dos vinte, apenas um lugar ao sol, um ordenado, uma casa, uma pessoa.
Tão cansados que só não queremos não ter onde voltar, quando tudo na vida se desfez em realidades. Em dias e fins de dias. Que começam as oito da manha no metro, e acabam ao fim da tarde a ver os morangos com açúcar. Porque no fundo, somos muito felizes às oito da manha no metro, e depois a tarde. A ver os morangos com açúcar. Há pessoas que não podem fazer isso sequer, que vivem na rua. Nós podemos. Foi a nossa pequena conquista pessoal.
Aí está. É com isto que podes contar. Se não tens solução para a tua vida, eu apresento-te esta. É maravilhosa, e simples.
E se calhar eles têm razão. Ser feliz deve ser tão bom. Ser feliz é trabalhar para ter dinheiro para ter uma televisão para ver os Morangos com Açúcar.
Ser feliz é precisar de fugir a alguma coisa de vez em quando, não sabemos muito bem fugir do quê. Só sabemos que um fim de semana ou outro acordamos a vomitar álcool e branca, e cuspo, e neurónios. Mas não pensamos mais, e é tão bom.
Ser feliz é chorar quando os outros morrem, comprar um carro e depois troca-lo por outro carro. Ter alguém e viver desse alguém, para depois perceber que nada na vida se faz a dois e foi tudo uma ilusão (talvez nessa altura percebas que sempre estivemos sozinhos, todos, que isso de viver para alguém não resulta, porque a solução nao está nos outros mas sim em ti. Ou talvez não percebas nada e continues a ver a novela. Como eu te invejo). Ser feliz é aprender a fazer arroz. E panadinhos, às vezes. É dar graças a Deus porque não estamos doentes e temos todos os bracinhos e as mãozinhas no lugar. Ter quarenta anos e ficar muito contente, porque se finalmente se juntou dinheiro do aumento para levar a família à neve.
Os sonhos são para os outros.

Da 'nossa' Sem Wonderbra