Getting old.
A Teresa, again [depois de corrigidos os erros ortográficos e acrescentados 'bolds' e uns vídeos...].
'Sexta-feira, Setembro 24, 2004
As Rugas, tal como as conhecemos (ou devíamos conhecer) [baï Teresa]
Acho que nos podemos deparar com um fenómeno sociológico interessante quando pensamos na faixa etária que, em geral, predomina na noite nos tempos que correm.
[...]
Sim, é verdade, é só crianças... Homenzinhos aos quais temos vontade de apertar as bochechas e de espetar um pacote de leite com chocolate na boca, ao mesmo tempo que admiramos a sua delicada pele tão branca e tão suave, ainda não corrompida pelas violências deste mundo cão.
E o que fazer quando a discoteca mais conhecida de Lisboa esta superpopulação desses seres irritantes e vivazes, que fervilham os sítios públicos como uma praga de gafanhotos com o cio? Gritar? Protestar? Insurgir-se? Não, meus amigos, não... a resposta é muito mais simples e esta, infelizmente, a frente dos nossos delicados narizes. A resposta é: Nada.
[...]
Ao longe se vão os dias em que íamos para as discotecas repletas de “mais velhos”. E que éramos umas “pitas” que mentiam sobre a própria idade para serem levadas para um canto escuro sem muitos remorsos.
Tudo era brilhante e fascinante, e nem por isso era eticamente reprovável andar a frente de toda a gente aos beijinhos com um rapazinho que tínhamos acabado de conhecer,e na noite seguinte outro, e na noite seguinte outro (não sei se alguma vez repararam: mas a adolescência foi uma autentico paraíso sexual de plurigamia e liberalismo). Those days are gone my friends.
Este é, realmente, o eterno drama feminino: o tempo passa e uma mulher começa a ver que está velha, gorda, e que já ninguém a quer. E, enquanto um homem de quarenta anos tem todas as possibilidades de ser um “Dr charmoso” (com o seu Jaguar e os seus cabelos brancos tão sexys), uma mulher a partir dessa mesma idade é uma amálgama confusa de pedaços de carne decompostos e de peles estranhíssimas por toda a parte.
Ninguém a quer, e o homem troca-a por uma rapariga de vinte anos. O homem, esse, continua a viver feliz e contente na boa vida até ao final dos seus dias.
É assim que a sociedade esta construída. Um Homem velho é um “Senhor”, uma mulher velha é uma “Velha”. Posto isto, as mulheres a partir dos seus vinte anos, têm que começar a tratar do seu lugar na sociedade que as rodeia. Há que casar o mais cedo possível , não andar ai a saltar de um para outro; pois, consciente ou inconscientemente, sabem que, quando chegarem aos 40 anos, encontrar um homem tratar-se-á de uma missão quase impossível.
Eu não... eu não consigo, eu sou o que se chama a atrasada mental que continua a remar contra a corrente, asnamente, porque ainda não percebeu que o sistema é maior do que ela. E como tal, enquanto que as minhas amigas estão em casa ,demasiado ocupadas a tratar do seu futuro conjugal (com os seus Jões) esquematicamente perfeito e da sua futura família concorrente a anúncios em pacotes de cereais Corn Flakes, eu continuo obstinadamente a frequentar os sítios que claramente já não são para a minha idade; deparando-me, a cada dia, com a realidade que finjo não ver.
Finalmente, hoje dou por mim a partilhar a minha crise existencial com a senhora que me faz a depilação (a Graça); o que, algo me diz, não pode ser bom sinal.
Acho que deviam avisar as pessoas, sinceramente... falam tanto da “crise da meia idade” da “crise da adolescência” da “menopausa” da “andropausa” e do caneco e do camandro... também deviam falar da “fase pela qual as pessoas passam quando percebem que estão a ficar adultas mas que querem ficar adolescentes para sempre”'.
imagem: Quinten MASSYS [1525-30] A Grotesque Old Woman, National Gallery, Londres.
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