08 fevereiro 2007

A Arte de Furtar: e 'valorizou' !


'... Um falecido estanceiro, bibliófilo amador, que mercê de muitos contos de réis conseguiu reunir uma preciosa livraria, esse esperava nos leilões que o volume desejado excedesse o lanço de cinquenta mil réis para o arrematar. Até esta altura, o livro não era digno dele - era entulho sem valor. Mas logo que o desejado calhamaço excedesse a bitola dos cinquenta, tínhamos homem. Já não o largava.
Eu ainda conheci um patusco que comprava todas as Artes de Furtar, da hipotética autoria do Padre António Vieira, que topasse à venda em alfarrabistas ou de que tivesse notícia por catálogos ou informações pessoais. Assim alcançou uma duas ou três dezenas. Um dia, tendo os encharcados previamente de petróleo, deitou-lhes o fogo num pátio interior da casa onde morava, no meio dos protestos da vizinhança, escamada com a fumaceira que invadia os prédios circundantes até às águas furtadas.
Queria o bom homem - vejam lá esta ratice! tornar rara aquela obra. Tempo perdido, porque a Arte de Furtar ainda hoje não figura no elenco das raridades ...
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Cardoso Martha, in Almanaque do Jornal O Século, 1931

[o genial Almocreve das Petas]