21 setembro 2006

Comprometidos Portugal


L. acaba de ver um noticiário num canal de televisão português.

Para não se confundir com uma crítica a uma ou favorecimento de qualquer outra estação, não especifica qual.

E seja qual for, deve ter uma duração de 30 minutos ou pouco mais. São as 'boas práticas'.

Parece picuinhice... É rigor.

Este noticiário dedicou 20 minutos a uma convenção do grupo 'Compromisso Portugal'.

Já o conhecemos: um grupo de empresários portugueses alegadamente independentes [ainda que vários ligados a grupos estrangeiros e também vários que venderam as suas empresas ao estrangeiro], mas em boa verdade ligado [99%?] a um partido político português, conhecido tradicionalmente como o 'partido dos empresários', ainda que [imagine-se!] tenham defendido a reforma agrária nos idos de 70.

Hoje, o Compromisso Portugal propõe a redução de 150 a 200 mil funcionários públicos e do IRC para metade, para sermos 'competitivos' e para seguir as 'melhores práticas' da Europa.

L. não faz a mínima ideia do que se entende como 'melhores práticas': quem define isso?

Por outro lado, despedir funcionários públicos vai garantir emprego no sector privado, diz-se. Para L. tanto faz: L. quer qualidade. Seja qual for o preço. Seja público ou privado. E se o resultado final é o mesmo [emprego] para quê despedir num sítio e admitir noutro? É tão disparatado como a ideia do Estado mandar alegados 'inúteis' esperando que o privado lhes dê guarida...

Por fim, ser 'competitivo' é a coisa mais vaga do mundo. Eu, Lorenzetti, me confesso: não quero ser competitivo com a China nem com a Estónia, se ser competitivo é saber que tenho no meu país gente com salários miseráveis e vidas inacreditáveis. Nem é só por pena. É também por segurança e estabilidade. Dispensamos ter no nosso país pedintes e assaltantes do género.

A competitividade não pode estar nos custos. Tem de estar na qualidade.

Ser 'diferenciado' não é, como dizia um membro do referido grupo, ter impostos baixos ou pagar menos ou poder despedir mais.

Ser diferenciado é produzir melhor.

Ser mais criativo.

Não é despedir nem cortar custos.

É investir e aumentar as receitas.

É, essencialmente, agir pela Positiva, afirmando-se. Seja uma pessoa, uma empresa, um Estado, ou outra coisa qualquer.

É assim tão difícil? Então, caro gestor, dedique-se à praia ou à caça de moscas.

Logo de seguida, a UGT [PS?] aparece a dizer mal do Compromisso Portugal.

O Governo não teve a coragem de dizer que o Compromisso Portugal é o PSD [agora na 'oposição ma non troppo'], mas recusou entendimentos [e serão assim tão diferentes].

Dos outros partidos, não se viram [ou não foram divulgadas] reacções, pelo menos para já.

Em meia hora de suposto noticiário, este 'Compromisso' teve vinte minutos. Peculiar.

É certo que em Portugal os noticiários demoram uma hora: é normal. Entre fait-divers típicos do Reader's Digest, da Caras ou dos jornais gratuitos, há muita palha para encher.

L. confessa que não tem paciência para hipocrisias.

E muita pena dos ignorantes [eleitores, telespectadores, etc.] que acreditam nelas, como algumas das referidas.

É extraordinário que o sector privado tente dar lições ao sector público [ou vice-versa].

Porque nenhum deles tem perseguido a qualidade.

E nenhum deles tem sabido gerir.

Entre o político ignorante [para não falar do corrupto] e o gestor incompetente [para não falar do pato-bravo e do mafioso], venha o diabo e escolha.

Pobres geridos.