11 abril 2007

O Cabalista Independente



Todos nos recordamos da figura de Jorge Coelhone no programa da RTP Contra Informação. Um político de sotaque beirão, de cara bolachuda e mãos sapudas, com ar de quem domina os aparelhos partidários, a roçar o mafioso, célebre pela frase ‘quem se mete com o PS leva’. Era ainda conhecido pelo seu ódio aos ‘in-de-pen-den-tes’, palavra que smpre soletrava, vagarosamente, no seu empastado sotaque beirão, e cheio de trejeitos descontrolados, numa ânsia negocial de basfond ou, como se diz agora (talvez impulsionados pelos ‘debates’ sobre o aborto), de ‘vão de escada’...

Mas acredito que Coelhone até esfregue as mãos de contente: dizer-se que se é Independente e, sobretudo Deputado Independente e, ainda mais, Deputado Independente da bancada do PS, assume agora todo um novo sentido...

Hoje, para variar, fala-se de uma nova cabala na política portuguesa.

Tanto cabalismo faz-me pensar se haverá uma certa pulsão governativa para o místico.

De facto só mesmo os astros devem saber qual o verdadeiro CV do actual titular do cargo de Primeiro Ministro no meu país.

No meu país, o do governo do ‘choque tecnológico’. há membros do gabinete do Conselho de Ministros que nem sabem fazer copy and paste, como lemos no DN de 7.4.2007: ‘a trapalhada é atribuída a um erro técnico – ao fazer copy and paste do currículo original do primeiro-ministro, quem inseriu os dados no site oficial confundiu a pós-graduação do ISCTE com o curso de engenharia Sanitária, tendo, ao mesmo tempo, apagado o MBA do ISCTE. O currículo será agora novamente corrigido’.

Isso sim, deixa-nos em estado de ‘choque’. E faz-nos pensar se não fará falta um VERDADEIRO Engenheiro Sanitário para desenhar uma ETAR governativa [o actual titular deve preferir um sistema de co-incineração] para limpar toda esta porcaria.

Se no caso, por exemplo, da ‘cabala’ da Casa Pia se percebeu que Paulo Pedroso seria possível inocente e que, sobretudo, a sua prisão preventiva foi ditada por critérios tudo menos jurídicos [no qual o reconhecimento presencial é algo de desconhecido e trocado por fotos de políticos em jornais], no caso do ‘CV’ o não-engenheiro José Sócrates ainda nada esclareceu. Ora quem não deve não teme. E, sobretudo, não altera incessantemente o CV na webpage da Presidência do Conselho.

É que não me preocupa minimamente se é engenheiro ou não: apenas lhe peço que não seja mentiroso ou secretista em relação ao seu CV. Sobretudo porque, como na célebre história e Pedro e o Lobo, qualquer dia ninguém acredita em si. E, mais, porque quando se é apanhado numa mentira tudo o resto é posto em causa. E o senhor, esperar-se-á, será posto em casa.

Finalmente, o que parece preocupar o actual Governo de Portugal e o PS nem é haver CV’s falsificados nem titulares mentirosos. Mas apenas todo o gato escondido, cujo rabo de fora é um CV mal amanhado.

Por exemplo – e apenas como exemplo – o Professor António José Morais, que segundo o mesmo jornal [que José Sócrates não processou nem desmentiu], terá dado ao nosso actual primeiro-ministro 4 das suas 5 cadeiras [one man show!!!]. E mais: esteve na celebérrima Fundação para a Prevenção e Segurança [que coisa boa não seria, para ter sido demitido o então Ministro Armando Vara, que acabou bem mais confortável, na administração da CGD, apesar do seu CV ser igualmente uma nulidade absoluta]. Melhor: no ACTUAL executivo, o referido Professor António José Morais foi demitido pelo Ministro da Justiça, uma vez que – imagine-se – nomeou para o importantíssimo Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça uma imigrante brasileira cujo CV era um restaurante no Centro Comercial Colombo... [e também já tinha nomeado semelhante espécime em anterior governo]. Só falta culparem a pobre brasileira dos desaires da Justiça portuguesa.

Todos estes troca-tintas ultrapassam o pior do gozado através da personagem Toneca Guterres, no já referido Contra Informação. E fazem até Santana Lopes e as suas amigas parecerem competentes. Pelo menos ainda havia risota. Neste momento, já não há graça nenhuma.

Contrariamente ao afirmado pelo PGR, tudo isto tresanda a corrupção, fraude e tráfico de influências.

Mas não há problema: nas eleições [sejam as próximas ou as seguintes] ninguém se vai lembrar.

Na história do(s) CV(s), em particular, há algo de chocante: é que se no sector privado e em alguns cargos do sector público o CV é uma exigência, nos órgão de soberania é uma eventualidade: a incompetência sobre rápido e mesmo quem nunca geriu uma casa ou uma PME vai gerir um país, ou assumir cargos de relevância no governo ou na dependência deste. Faz-me lembrar a frase ‘pior que um inimigo inteligente é um amigo estúpido’. Peculiar.


Imagem: Alegoria da cabala, do Cabala, Spiegel der Kunst und Natur, 1615

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