12 fevereiro 2007

Ser sério é parecer sério?


Sendo que sério se confunde com honesto e sisudo.

Altamente português. Altamente ineficiente e inútil, esta associação.

Os portugueses continuam a insistir em associar expressões de alegria a palermice e incompetência e expressões sisudas e graves a seriedade e sabedoria.

Faz lembrar a frase de uma personagem do Nome da Rosa: não podeis rir-vos, porque aos rir-se, os homens aproximam-se dos macacos.

Mais do que proibir ou não proibir o riso [muito riso pouco siso], a ideia de que um profissional vestido de forma informal, descontraída e de expressão alegre e trato informal é um mau profissional é típica dos portugueses.

Isto relaciona-se tudo com outras duas tendências muito portuguesas: o preconceito, associado à 'primeira impressão', e a hipocondria permanente. Sendo que neste último caso há uma excepção: os artigos [de natureza hipocondríaca!] que afirmam 'rir faz bem à saúde'. No entanto isso é rapidamente esquecido e absorvido pela hipocondria que, como se sabe, não acredita em curas, apenas em estados permanentes de mal-estar.

E quem confia num advogado que prefere trabalhar com o laptop deitado no spa?

Ou num médico de t-shirt por oposição a um médico de fato escuro [ainda que com a famosa bata branca].

O advogado tem de ter um ar sisudo, de preferência óculos; tem, necessariamente, de ter um ar marrão e chato. Só assim pode ser, aos olhos do português, um advogado competente.

Com o médico também [mas dá-se um desconto: afinal um advogado é um advogado!].

Já o polícia não vem muito ao caso: pode ser uma barriga enorme, que inspira a mesma confiança: é um polícia. E ponto final. Porém, se for uma mulher-polícia, o português já desconfia...

E ser informal tem outra desvantagem em Portugal: abusa-se dos informais. Ou não se confia neles [porque falta o ar sisudo de 'bom profissional'] ou então abusa-se deles [se nos tratam informalmente, é como se fossem da família!!! é abusar...].

Por isso, caro concidadão, se quer ser tomado como competente, tem de ser sisudo.

Se não é sisudo e é competente, é melhor emigrar e esperar poder voltar.

É a Fuga dos Cérebros. Ficam as galinhas...

Como dizia um ex-primeiro ministro, é esperar que morram.