24 fevereiro 2007

Os disparates do referendo


Agora que 'os indígenas' [thanks VPV] estão mais calmos sobre o referendo do/ao aborto, deixaram de mostram imagens de fetos em frascos e criancinhas mortas, ou de pintar nos abs a barriga é minha', e se preocupam com as férias de Verão, o futebol e as compras de domingo, é interessante pensar nos disparates feitos recentemente neste referendo e tentar não repeti-los.

O Referendo é o primeiro disparate. Para quê um referendo? Sobretudo quando já se tinha feito outro há poucos anos. E sobretudo tendo o Governo actual uma posição curiosa de fazer valer o referendo mesmo que não vinculativo. Se tinha essa posição, não se percebe que não tenha coragem política para tomar essa decisão. Cobardia política? É curioso que assim seja, dada a casmurrice noutras áreas, como a escandaleira com a função pública, sobretudo os professores e uma ministra que brada ter 'perdido os professores, mas ganho a opinião pública'. Só falta queimá-los e aos livros. Curiosa 'esquerda', esta.

A posição da Igreja nestes referendos é igualmente disparatada. A Igreja, se defende a vida, deve entender que o crime de aborto não faz sentido: o homicídio já está previsto em todas as legislações, e se o aborto é um atentado à vida, a Igreja deverá persuadir o poder judicial [e não o poder político] que o aborto é um tipo de homicídio.

A posição das mulheres [ou dos homens que as repetem] segundo a qual o aborto é um direito da mulher, e que dele depende o controlo da mulher sobre o seu próprio corpo, é também um disparate. É disparate achar que não é da mulher que nascem outras mulheres e homens, é evidente que os bebés não são trazidos pela cegonha, e que ao abortar, se não após a fecundação e provavelmente até à nidação, se mata um ser humano.

É evidente que o Governo deveria ter despenalizado sem nos incomodar.

E é evidente que a Igreja deve defender a inclusão do conceito de aborto no tipo penal de homicídio.

E é evidente que quem não é católico, ou de qualquer outra religião ou quadro moral que tenha a vida como valor essencial, pode ter a opinião que entender.

Mas é sobretudo evidente que se está tudo nas tintas para o aborto e o referendo. Até porque não foi vinculativo.

É que desta vez, nem a praia era uma alternativa.

E se fosse assim com todas as eleições, não tínhamos 'Governo'. Pelo menos não eram 'vinculativas'...

O aborto não é de todo uma questão central. A questão central, e que pelos vistos passa à margem, é a razão pela qual existe sexo inconsequente.
A história da cegonha já não pega. A filosofia da 'coitadinha' que teve de abortar também não. esses casos devem ser analisados: porque quem não quer um filho que concebeu ou é negligente, ou ignorante, ou vítima de violação. E para isso há duas coisas: tribunais, escolas e prisões.

Discutir o aborto é perder de vista a realidade social subjacente e não resolver problema nenhum.