31 julho 2006

A Ministra? 'Isso' é o menos...


É verdade. Na história de Portugal, a 'Ministra', ou 'Milu', como muitos professores chamam, carinhosamente, à Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues [a actual, para quem, como Lorenzetti, já não se preocupa em decorar nomes de Ministros que não conhece, que vêm e vão] não é nada.

Até porque os exames deste ano não são assim tão diferentes de outros.

Melhor: os actuais têm uma estrutura diferente, o que faz com que os alunos tenham sido cobaias, porque não lhes foi dada uma prova modelo, como acontece em todo o lado.

Sem uma prova modelo [que por ser modelo não diz o que vai sair, mas diz como vai sair], conforto psicológico para quem as faz e tem de as fazer, e guia indelével de estudo para a verdadeira prova, os alunos foram marionetas. Cobaiazitas de um grupo de políticos [ou de professores armados em políticos] que 'queriam ver como é que os alunos reagiam', esquecendoi que os alunos deste ano não são os mesmos deste ano nem do próximo [a menos que fiquem pendurados por causa desta 'experiência'].

Os alunos deste ano são pessoas por si, e tiveram o 'azar' de fazer exame este ano.

Mas mesmo assim, o mais invulgar não foi a mudança de estrutura [e, claro, o fazer-se exame repetido em duas cadeiras numa míriade de outras que também o justificariam].

O mais invulgar [mas que se percebe] é a Ministra nunca ter respondido [na famosa sessão no Parlamento... coitadinha, isto de responder pelo cargo devia ser só para quem está 'preparado'; sim MESMO em democracia!] à questão da prova modelo. Não dizem porque não a fizeram e tudo o resto perde sentido com tal falha.

Mas o cúmulo das invulgaridades é mesmo o facto de haver erros científicos e afins em todas as provas, em todos os anos, que levam vários professores a berrar junto de um Ministério surdo, fechado numa torre que não é de marfim, mas de simples papelão, e que em última instância [mas uma instância muito vulgar...] obriga os professores, contra toda a autonomia técnica de que beneficia, por exemplo, um advogado, a 'corrigir' um exame de acordo com critérios que entende errados, e que são errados pela ciência das coisas [o que torna os critérios 'políticos' e não científicos?!].

Há pois professores, neste país, que riscam, contra a sua própria vontade, respostas que consideram certas, pelo facto de os critérios do Ministério estarem errados.

Pode haver dissensos de opinião, o que é saudável [e que em todo o caso justificam sempre a validade de uma resposta]. Mas quando se sabe que há erros científicos em provas emitidas por um Ministério, para um país inteiro, com professores por todo esse país a assinalar os mesmos erros, e sendo estes obrigados a considerar erradas respostas que estariam certas ou vice-versa, anda tudo louco.

É que não há explicação possível que não a incompetência científica e humana e problemas de ego dentro de um Ministério.

E o grande problema é que a demissão da Ministra não serve para nada. O problema continua lá dentro. Do Ministério.

29 julho 2006

Corporativismo e 'Interesses'


De forma crónica, discute-se em Portugal corporativismos de classe, etc etc etc.

Agora, com os professores.

Que são 70 mil sindicalizados [estilo praga] em 140 mil [estilo exército] e que há mais de 11 sindicatos.

Lorenzetti acha um piadão.

Até porque há grupos profissionais -- sobretudo onde há ordens - onde o 'sindicato' é um só.

No caso dos advogados, o caso é exemplar. Os pobres desgraçados têm uma ordem, sem sindicatos [porque para todos os efeitos são trabalhadores independentes, mesmo que estejam numa firma de 200, como já existe em Portugal -- ou 1000, no próximo caso espanhol -- com uma cadeira de comando / hierárquica bem definida e oleada].

Ao mesmo tempo que age como sindicato, a ordem age como regulador. E sem estar na ordem, não se pode ser advogado.

E mais: é a mesma ordem que redige todas as regras de profissão. E as aplica, com recurso a sanções e tribunal próprio.

Quem defende os advogados da sua própria ordem? Lorenzetti não faz ideia. E depois há casos curiosos, mais falados, como o de José Miguel Júdice, a quem foram concedidos uns minutos para se defender [contra o tempo ilimitado da acusação] e que foi deixado só na sala porque o conselho o deixou a falar sozinho, uma vez que tinha 'ultrapassado o tempo permitido'.

Lorenzetti tem alguns antepassados inquisidores 'bem alinhados' e provavelmente aos métodos só se acrescentavam umas ferramentas, água e fogo. Mas enfim, só passaram uns 300 anos. A lógica é que acaba por ser a mesma: eu mando, você sujeita-se. Porque eu sou a estrutura, você é um só.

Isto para dizer que uma ordem profissional não é necessariamente o 'máximo' para quem dela faz parte. Até porque mais das vezes está lá obrigado. No caso dos advogados, tenho uma amiga advogada, numa das 'maiores sociedades' espanholas, mas a trabalhar cá em Portugal, que diz algo curioso: 'por mim não havia Ordem. Aquilo é uma empresa que nos explora. Devia existir autoregulação. Se o mercado é livre, que o seja para todos'. Assim reza a opinião dela, que é aliás uma profissional de excelência numa das áreas mais delicadas do direito.

Por último e voltando aos professores, vítimas da sociedade portuguesa [da qual supostamente fazem parte], Lorenzetti não tem dúvidas que os sindicatos são corporativos. Só fazem o seu papel. Para defender o Ministério, há o Governo, para defender os alunos há as associações de estudantes, para defender os pais há as associações de pais.

E claro, para defender os médicos haverá a Ordem e o seu sindicato independente.Para os advogados, a one and only Ordem. Para os engenheiros a Ordem. Para quem trabalha na aviação os sindicatos da aviação. E por aí em diante.

Se não fossem corporativos não serviam para nada. Ou alguém espera que os sindicatos sirvam para apoiar o Governo ou a cultura da batata doce nos Pirinéus?

O corporativismo e o lobbying , em si, não são maus. São pluralistas e democráticos.

Já a corrupção é outra coisa.

E a incompetência, caros 'anónimos' do departamento de exames do Ministério da Educação, também. Mas não se preocupem, que não vos acontece nada. Afinal, ninguém sabe quem vocês são.

E com a praia, os Portugueses esquecem. Em Setembro / Outubro cá estará tudo com outro assunto qualquer.

A Velha


Podia ser o título de um qualquer quadro ou escultura de época mais ou menos remota, ou simplesmente um título de crónica em revista ou jornal.

É sobre uma velha, que circula entre um restaurante e um bar / disco: a Bica do Sapato e o Lux.

E pede, esticando a mão e balbuciando gementemente.

O parque de estacionamento do Cais de Santa Apolónia é a estrada desta mulher, que umas vezes está junto ao restaurante (início da noite) outras junto ao Lux (noite cerrada). É onde estiverem as pessoas às quais, curvada e caída, enrolada nos seus lenços e rendas e sacos, Verão ou Inverno.

A Velha parece não estar mais velha. É velha, continua velha. Um dia não estará lá, provavelmente por ter morrido. O seu destino final, tal como a sua origem, é desconhecido.

A Velha é uma ponte para a realidade de um país pobre de de um mundo pobre. Miserável, sem higiene, sem oportunidades e [nunca se sabe] sem cultura, pelo menos clássica.

É o contraponto da alegria de quem entra no Lux, do apetice saciável de quem entra na Bica, da bebedeira de quem sai do Lux, da satisfação de quem sai da Bica. Da utilidade da loja de decoração e de ténis e do DeliDelux. E sobretudo, da possibilidade de sair e do destino que tem quem sai do parque.

A Velha é tudo aquilo que nós não somos.

Será sorte? Será azar? Será tabu?

Lorenzetti escreveu sobre ela. Alguma coisa há de ser.

27 julho 2006

Aborto e meios de prova

Sobre exames ginecológicos e processos judiciais inunda a imprensa portuguesa.

Parece que um casal que circulava numa mota foi parado pela polícia e terá justificado um qualquer ilícito ao Código da Estrada dizendo que vinha de uma 'clínica de abortos'.

Parece que a polícia terá ido a essa 'clínica' onde entrou e apreendeu exames e/ou material médico.

Parece que isso foi tudo a Tribunal e o material apreendido pela polícia não foi tido em conta, dado tal apreensão ter sido tomada como ilegal.

O Ministério Público lá recorreu [teve esse 'requinte', comentavam alguns entrevistados pela mesma imprensa] e terá ganho, ou seja os materiais apreendidos na corrida da polícia ao dito 'consultório' foram admitidas e o alegado médico condenado pela prática do crime de aborto.

Isto faz lembrar um jornal do século XIX. Só faltam fenómenos paranormais. Ou Para Anormais, como dizia 'o outro'.

Claro que podemos fazer resvalar isto para a discussão aborto sim aborto / não.

No entanto a discussão tem sido de maior precisão: podiam ou não ser admitidos como meios de prova os materiais apreendidos [e agora em geral, porque L. não conhece -- nem sequer comentaria -- o caso concreto]?

Lorenzetti pergunta-se se é sequer legal a entrada da polícia num estabelecimento médico [ou o médico não era 'médico' e a clínica não era 'clínica'?] sem ordem judicial; e inclusive, se a Ordem dos Médicos não teria uma palavra a dizer ANTES da dita entrada da polícia no 'estabelecimento'. Afinal, era ou não uma clínica? E só depois disso vem a possibilidade [ou não...] de apreensão seja do que for e, certamente em certos casos de dúvida, devidamente selado.

Mesmo que a busca e a apreensão fossem legais [o que é duvidoso] só depois surgiria a questão de saber [e é a questão que se discute mais na imprensa] se exames ginecológicos [mesmo obtidos contra a vontade da examinada] podem ser admitidos.

Não se vê porque não, dada a natureza escatológica do próprio crime de 'aborto' e a examinada ser ela própria 'suspeita'.

Mesmo que no caso do aborto não haja para tais exames e/ou admissão de resultados de exames como prova num julgamento o consentimento da examinada, tratando-se da mãe da criança em causa no crime de aborto sob investigação, tais exames justificam-se pela protecção da 'criança', dadao poder ser impossível provar de outra forma a prática do crime.

Podemos discordar, dizer que isto é uma violência, e que não há criança nenhuma.

E aí concluímos que a discussão é uma terceira. Que não é nem a da entrada em estabelecimento médico nem a de obrigar a ou apresentar exames ginecológicos num processo judicial.

É a vexata questio do aborto em si.

Mas as leis são assim: ou as mudamos porque não fazem sentido, ou cumprimos. Ficar a resmungar é uma ridícula e pueril perda de tempo, com custos a todos os níveis.

26 julho 2006

Drogas


L. acaba de ler numa revista 'da especialidade' que Kate Moss vai voltar a ser 'a cara Burberry', nove meses [nove...] depois da resolução do seu contrato.

Como se recordará o leitor [e sobretudo a leitora?] atento, o fim desse contrato teve lugar devido ao 'escândalo' das fotos publicadas no Daily Mirror, que relacionavam Kate Moss ao consumo de cocaína.

Pela paciência da Santa, já não se aguenta tanta hipocrisia.

Afinal não era pela cocaína [que veio a perceber-se existir], mas pelo escândalo [que entretanto passou].

Na perspectiva da própria modelo e da Burberry até se percebe: a imagem conta, é esse o negócio. Sobretudo tratando-se de um contrato de publicidade.

Mas, do ponto de vista social, não se percebe: ou o público é amnésico, ou é parvo.

Ou as duas coisas. Porque nem liga à cocaína. Liga é ao escândalo.

Moss é um exemplo interessante quanto à cocaína. Porque não é um caso [nem é expectável que venha a sê-lo] drug-driven criminal.

Não existe, nem se espera que venha a existir, a prática de actos criminosos por parte de Moss para poder adquirir a dita cocaína. Nem a prática de actos criminosos em virtude do seu consumo [que não é necessariamente recente, nem isolado].

É que não sendo esse o problema, não vemos qual possa ser.

Os efeitos são curtíssimos, de meia hora, no máximo uma.

Os bêbados que se arrastam por horas [e que por aí conduzem] e o fumo dos cigarros do vulgar cidadão [sobretudo português] causam bastante mais mossa...

16 julho 2006

Last call for Timor

L. já escreveu mais de uma vez sobre Timor. É impressionante como um Estado, um elemento tão sério, importante e necessariamente responsável das nossas vidas e do nosso país (dizer Pátria caiu em ‘desuso’, está fora de ‘moda’) age de modo tão pueril. Ou, pelo menos, os seus agentes. A decisão de enviar polícia militarizada (GNR) para Timor foi das mais disparatadas (para não dizer circenses) dos últimos anos da política portuguesa, a ficar no livro de pérolas da política internacional de um Estado Membro da UE.

Isto porque se em 1998 a questão de Timor foi emocional, com o povo português num berreiro incentivado e depois galvanizado, ampliado e mostrado pela comunicação social, o envio de ‘tropas’ em 2006 não tem esse benefício: é simplesmente disparatado.

Em 1998 podia dizer-se que os líderes políticos não sabiam ao que iam. Que se calhar até havia petróleo. Que de facto havia chacinas. E que havia uma certa responsabilidade como ex-colonizador. Podia, mesmo, dizer o líder político que tinha medo da opinião pública. Que como o povo e a comunicação social apoiavam a ida para Timor, tinha de ir-se para Timor. Mesmo que isso contrariasse qualquer técnica diplomática, económica e militar. Ia-se porque convinha. Ia-se porque era popular. Ia-se porque tinha de ir-se.

Hoje não é assim.

Hoje não há imagens do cemitério de Dilí, de catanas, de chacinas. Hoje não há povo português aos brados. Hoje não há um PR de esquerda com belos discursos na ONU.

Hoje há (ou devia haver) saber de experiência feito, calma, prudência, noção de que a crise económica chegou.

Hoje sabemos que desde 1998 não recebemos nada de Timor, nem sequer resultou nada de substancial daquilo que demos em 1998.

Apenas a ideia que a Austrália, país vizinho, aumentou nesses anos a sua margem de influência.

Ao ponto de – L. elogia neste ponto os australianos, em detrimento dos políticos portugueses e seu poder de acção – substituir um governo maioritário por outro, com o apoio do Presidente, que era ele próprio um revolucionário até 1998.

Esta é a ideia que passa a L..

A ideia de que a Austrália fez o homework nestes anos entre 1998 e 2006. E que Timor esteve do lado da Austrália, não do lado de Portugal. Pelo menos no que interessa.

E não é pois por acaso que a famosa GNR em Timor é liderada pelas forças australianas, em solo ‘timorense’.

Parece incompreensível? Não é.

Até se percebe: é estúpido. Pobres GNR, lançados aos mosquitos sem razão. E pobre Orçamento de Estado, delapidado sem qualquer perspectiva de retorno. Nem económico, nem humanitário.

15 julho 2006

Estudarás em Lisboa, Trabalharás em Lisboa, Viverás em Lisboa, mas NÃO VOTARÁS.



Continua o incompreensível direito de voto exclusivo em Lisboa dos residentes em Lisboa.

Sendo que residir em Lisboa é cada vez mais raro, como se sabe, relativamente ao número de pessoas que aí vivem todo o dia, porque aí trabalham, estudam, ou porque passam aí quase todo o seu tempo.

Todos aqueles que penam no IC19 ou na autoestrada Cascais-Lisboa ou na Ponte 25 de Abril, Vasco da Gama e afins passam o seu dia em Lisboa.

Muitas vezes mal conhecem o sítio onde vivem, desde os vizinhos a quem é o presidente da Câmara, para não falar no -- nunca soube quem é, nem de que partido é -- presidente da 'junta'.

No entanto, não votam em Lisboa.

A mesma Lisboa onde fazem tudo, onde gastam e ganham dinheiro, que conhecem melhor que o concelho onde vão dormir.

O que leva L. a pensar se os resultados eleitorais em Lisboa não serão injustos, errados e inúteis.

Pelo menos enquanto os universitários e restantes estudantes, e todos os que 'dormem' fora de Lisboa, que trabalham em Lisboa, aqueles cujo BI não diz Lisboa em 'residência', não votarem em Lisboa.

Porque vendo bem, são eles que vivem -- e que são -- a Capital.

14 julho 2006

As aparências em Portugal

Ser sério é parecer sério?


Sendo que sério se confunde com honesto e sisudo.

Altamente português. Altamente ineficiente e inútil, esta associação.

Os portugueses continuam a insistir em associar expressões de alegria a palermice e incompetência e expressões sisudas e graves a seriedade e sabedoria.

Faz lembrar a frase de uma personagem do Nome da Rosa: não podeis rir-vos, porque aos rir-se, os homens aproximam-se dos macacos.

Mais do que proibir ou não proibir o riso [muito riso pouco siso], a ideia de que um profissional vestido de forma informal, descontraída e de expressão alegre e trato informal é um mau profissional é típica dos portugueses.

Isto relaciona-se tudo com outras duas tendências muito portuguesas: o preconceito, associado à 'primeira impressão', e a hipocondria permanente. Sendo que neste último caso há uma excepção: os artigos [de natureza hipocondríaca!] que afirmam 'rir faz bem à saúde'. No entanto isso é rapidamente esquecido e absorvido pela hipocondria que, como se sabe, não acredita em curas, apenas em estados permanentes de mal-estar.

E quem confia num advogado que prefere trabalhar com o laptop deitado no spa?

Ou num médico de t-shirt por oposição a um médico de fato escuro [ainda que com a famosa bata branca].

O advogado tem de ter um ar sisudo, de preferência óculos; tem, necessariamente, de ter um ar marrão e chato. Só assim pode ser, aos olhos do português, um advogado competente.

Com o médico também [mas dá-se um desconto: afinal um advogado é um advogado!].

Já o polícia não vem muito ao caso: pode ser uma barriga enorme, que inspira a mesma confiança: é um polícia. E ponto final. Porém, se for uma mulher-polícia, o português já desconfia...

E ser informal tem outra desvantagem em Portugal: abusa-se dos informais. Ou não se confia neles [porque falta o ar sisudo de 'bom profissional'] ou então abusa-se deles [se nos tratam informalmente, é como se fossem da família!!! é abusar...].

Por isso, caro concidadão, se quer ser tomado como competente, tem de ser sisudo.

Se não é sisudo e é competente, é melhor emigrar e esperar poder voltar.

É a Fuga dos Cérebros. Ficam as galinhas...

Como dizia um ex-primeiro ministro, é esperar que morram.

Rosas en feu


Lorenzetti não ficou abismado com a frase [já lhe ouviu piores].

No Diário Económico de 21.4.2006 dizia-se que Vieira da Silva 'está disponível para esclarecer o método de cálculo do desemprego'.

Não a pintora, evidentemente, que se finou e fica na história do país por boas razões.

Mas um ministro do actual Governo Português.

Lorenzetti supõe que seja o do Trabalho, supondo que ainda há Ministério do Trabalho [com ou sem Segurança Social?].

É que como dizia Cadilhe ao Expresso da mesma semana, 'não se reforma sem fechar serviços e dispensar pessoal'.O que não resulta num sistema político como o actual, uma vez que a seguir a 'um' vem 'outro' e muda tudo [ou nada] outra vez, sem grande lógica, sequência ou resultados [esperamos que a palavra Simplex não seja um sound-bit].

Questões de fundo à parte, vamos ao superficial: Lorenzetti sentiu-se tentado a confirmar a origem aristocrática do dito Ministro, não tendo chegado a qualquer conclusão sobre a sua origem social.

Não que isso interessasse em abstracto.

Mas em concreto, com uma frase tão monárquica -- diríamos majestática -- era de achar que sim: aristocrata e pouco sensível na escolha das expressões, sobretudo em público.

Em todo o caso, o ministro 'disponibilizou-se'.

É bonito quando um ministro diz isto.

Ele não serve em permanência, nem Trabalha.

Ele está 'disponível'.

Como me disse uma vez a Teresa, numa sinceridade que não esqueço, sobretudo de alguém que conhecia menos bem, 'são rosas, senhor, são rosas'.

Apanhe-as quem quiser.

Ou como dizia o Gonçalo 'tu falas, quem apanhar que apanhe'.

Mesmo que se trate de simples estatísticas. Mas Lorenzetti não é ministro, nem o ministro que se 'disponibilizou'.

Para 'esclarecer' como um ministério, entidade paga por todos os contribuintes, faz as contas sobre o desemprego.

Que por acaso são sobre a matéria que mais interessa aos cidadãos, seja qual for o país.

A Humanidade tem coisas curiosas [o famoso Ego??!]

Imagem: Maria Helena VIEIRA DA SILVA [1974] Bibliothèque en Feu (1974) CAM-FCG

Javardolas II


Pois é.

Lorenzetti
lá recebeu os mails típicos de quem foi lido por alguém que se sentiu tocado.

O mais interessante é a 'javardice' [poderei dizê-lo?] dos erros ortográficos nesses e.mails. É que não há um que se safe.

E portanto Lorenzetti tomará isso como um dado que dispensa mais comentários.

Lorenzetti aproveita porém a oportunidade para recordar um fantástico texto de 'RAP', um dos Gatos, na revista Visão.

Nesse artigo, RAP -- que admito ter causado fúrias bem mais javardolas que as dos e.mails recebidos por Lorenzetti -- discorre quanto à incontestável [mas nada falada] questão de os mais 'anti-gays' serem, eles próprios, os maiores suspeitos.

E fala das actividades mais típicas dos homens 'ocidentais', como jogar à bola com outros 10 tipos [fora os da outra equipa] todos suados, abraçá-los de forma pouco ortodoxa quando marcam golo, e ir para o balneário e tomar duche com eles.

E por aí em diante.

Admito que aí os risos dos leitores não tenham sido tantos como ao ver as séries. Mas, há que dizê-lo 'com frontalidade': o artigo despertou consciências [ou desinteresse].

A lógica é a mesma do Javardolas menos quando fala Francês. A diferença está na forma de passar a ideia: no artigo, RAP coloca-a de forma crua. No sketch do Javardola, aplica-se o tal princípio dos espectadores: gozo com o Javardola, porque [valha-me nossa Senhora] não sou eu.

Não?

Greves

Greve Anual dos Museus em Portugal


'Em declarações à Lusa, o sindicalista Artur Sequeira disse que a greve, convocada para hoje, amanhã e domingo, é um protesto contra a obrigatoriedade dos trabalhadores dos museus e monumentos trabalharem na Sexta-feira Santa'.

Mas parece que este ano, a greve anual [falámos aqui sobre isto] foi um fracasso.

Estará a acabar a famosa 'Greve Anual'?

PS - Portugal é um Estado laico. Porque é que haveriam de ter a sexta feira Santa?
PPS - E mesmo que assim não fosse, ele há uma coisa chamada turnos... continuamos com o hábito terceiro-mundista de 'fechar'. Não se fecha. Organizam-se turnos. Nos museus e em todo o lado. Ainda falam em eficiência e qualidade de serviço...

Praxes III


Já falámos aqui do delicioso julgamento de algumas pessoas que julgam que a praxe é uma coisa maravilhosa, que não humilha ninguém, é inteligente e divertida, e na qual todos gostam de participar. Uma espécie de mocidade Portuguesa onde, desta vez, todos se podem sujar e fazer ordinarices.

Desta vez -- e bem, até porque o assunto parece ter morrido -- é o jornal Expresso, na sua revista, a abordar o tema.

Conta a história da famosa estudante que 'foi barrada com bosta de porco, mergulhada de cabeça e com os pés amarrados num balde de excrementos de vaca até sufocar e desmaiar. Durante uma semana esteve às ordens de uns veteranos [...] Andou sempre com um penico carregado de bosta de vaca na mão - o seu cartão de identidade obrigatório como caloira da Escola Agrária de Santarém' [Única, Expresso, 4.2.2006, p.21].

Ficámos a saber da existência de um website que divulgamos: Antípodas, de uma associação anti-praxe. Desde logo pelas fotografias publicadas, da qual esta é particularmente expressiva...

Preferíamos ter aqui uma das nossas habituais imagens de um quadro de Vermeer ou até uma foto de Cindy Sherman, ou ainda um belo exemplar da arquitectura contemporânea.

Desta vez é uma foto do nosso país contemporâneo. Não podemos esquecê-lo, até porque vivemos nele. REsta-nos mudá-lo...

Cartoons, Maomé e Liberdades


Espera-se que quando este post for publicado já tenha acalmado a histeria dos cartoons dinamarqueses que ilustram Maomé.

Este caso parece insólito, mas não é.

Num jornal de clara orientação política num país que não é conhecido pelos extremismos [e que na sociedade internacional é, mesmo, digamos, um Estado discreto], foi publicado um cartoon que viola as regras religiosas -- e de Estado, no caso -- da cultura muçulmana.

Percebe-se que haja uma reacção muçulmana. Afinal um católico também não acharia muita piada a um cartoon islâmico retratando os apóstolos numa orgia, por exemplo.

O que é discutível é:

1. Tomar como agressor não o criador e o editor do cartoon, mas o país onde tal sucedeu;

2. Violar as regras de direito internacional [e de 'boa educação'...] incendiando uma missão diplomática, entre outros eventos menos simpáticos por todo o mundo.

No primeiro caso, isto apenas revela o fosso cultural, político e religioso entre o mundo muçulmano e o mundo dito Ocidental. Que vai ao ponto de considerar que todo um Estado [lei-se a Dinamarca] é responsável por um cartoon de um jornal que nem sequer tem distribuição mundial.

No segundo caso, o recurso à violência, causando danos materiais e humanos, e criando instabilidade e uma crise diplomática.

Isto porque o cartoon não criou uma crise diplomática.

Tal apenas sucederia se o cartoon tivesse sido publicado num jornal oficial, ou de alguma forma com um intento político internacional, o que não parece que tenha sido o caso.

Percebe-se bem a revolta dos crentes em Maomé. E nem se entende que deva contra alegar-se com a liberdade de imprensa. Antes dessa estão os direitos humanos e a religião é um deles.

O que não se percebe são os meios para canalizar essa revolta.

Entendam-se, meus Senhores.


DELACROIX [1849-50], óleo s/tela, Art Institute of Chicago

Museus em Portugal


'Animar' um museu não é coisa muito comum em Portugal.

É excepcional, são aqueles 'dias abertos' e o pequeno charme do de-vez-em-quando-vou-a-um-museu-e-é-cultural-e-nós-museus-de-vez-em-quando-recebemos-pessoas-e-organizamos-coisas'.

Nunca ligámos nenhuma ao 'Dia de S. Valentim' nem ao de Sto. António e afins.

Mas a ideia da Tate é de estalo.

No tal dia do Valentim [!], por 15 libras [uns 4 contos / 20 euros], pode ir-se à Tate, beber um copito de Champagne [uma flûte, para quem prefere o termo], ver o Brief Encounter de David LEan, bem como outros filmes escolhidos pelo museu, um espectáculo de cabaret, ver a exposição temporária Martin Kippenberger, das 190 às 23h [que isto em Londres, quando é 'oficial', acaba cedo].

Além disto, 9 libras de desconto no cartão de membro do museu e 5 libras de desconto em qualquer curso ou workshop da Tate.

Isto pode não ser fantástico. O programa, sem si, nem é muito interessante.

Mas é uma ideia, e uma ideia que, certamente, vai vender.

E certamente levar à Tate pessoas que nunca lá foram e/ou manter lá pessoas que a conhecem.

Em Portugal não se faz nada disto.

Primeiro não há aberturas de museus fora de horas. Aquilo tem um expediente, caramba!

Abrir um museu depois das 17h? Mas está tudo maluco? Nem pensar.

A ideia da actual directora do Museu de Arte Antiga [a famosa rave, apoiada por Manuel Reis, do Lux-Frágil, não caiu bem nos ouvidos de muita gente que não gosta de trabalhar] é uma excepção feliz no conceito e triste na solidão.

E champagne? Servir bebidas num museu? Oh meu deus... nem numa sala apropriada, quanto mais no resto.

Depois acha-se estranho que as pessoas não vão a museus.

Nós também não vamos a tascas. Não calha, não temos esse hábito. Mas se as tascas fizerem coisas originais e as publicitarem se calhar vamos lá. E se calhar até gostamos. E se calhar até voltamos.

E os museus?

Qualquer dia fecham, porque a população não vê utilidade neles, se é que os conhece.

E aí os seus directores e restantes amigos vão ter de 'abraçar novos projectos', desde logo o fundo de desemprego [caso também não desapareça...].

Mas ninguém se mexe neste país? É que então façam museus confortáveis com entradas bem pagas.

Porque assim não servem a ninguém. Nem aos pobres, que não os conhecem, nem aos ricos, que agradeceriam mais conforto. E nem sequer às obras expostas, muitas vezes mal conservadas.

Cavaco Silva


Houve quem tomasse como 'fortes' as observações de Lorenzetti a Cavaco Silva.

Como sempre, nada daquilo que aqui se diz é pessoal, tal como não é intransmissível...

Cavaco Silva pode ser óptima pessoa, pode até não ser arrogante, mas sim gentil e encantador, óptimo pai de família. Esse é um facto privado que em nada nos interessa.

O problema não está no personagem; está no eleitorado.

O eleitorado ignorante [mais de 50% dos maiores de 65 anos em Portugal é analfabeto absoluto, não apenas funcional] comprou o sabonete que o marketing PSD-PP vendeu, com um sucesso que merece felicitações.

Não se entenda com isto que há aqui qualquer complexo quanto ao sufrágio universal: ele é a pedra de toque da democracia.

Porém, não podemos ignorar a ignorância.

Ela existe. Desde logo nos eleitores. E agora na Presidência.

Não temos nada contra Cavaco Silva. Temos pena que não tenha tido uma formação cultural e humanística adequada, da qual dependeria o seu perfil para Presidente e, porventura, a sua completude enquanto ser humano.

E lamentamos a ignorância que grassa em Portugal, sem que com isto nos coloquemos num palácio de marfim.

E é tudo.

Presidenciais 2oo6


A antecipar as discussões de Domingo, há três questões práticas a colocar quanto ao futuro Presidente da República:

I. Irá residir para Belém?

II. Irá desempenhar o cargo com dignidade, designadamente em matéria de política externa?

III. O que irá mudar na política interna?


Há duas correntes de 'opinião' quanto à residência em casas oficiais:

1. É chique, é aproveitar!
2. É saloio, que disparate!

Por aqui não achamos chique nem saloio, achamos que faz parte do cargo que, caso contrário, não incluiria uma residência oficial.

Não residir na residência oficial é pois incumprir os deveres do cargo.

Está tudo dito.


E em termos de política externa? Será que o próximo Chefe de Estado desempenhará com dignidade o cargo, representando de forma sóbria uma Nação com quase mil anos de história? Conhecemos várias histórias de vários candidatos e isso ajuda ao nosso sentido de voto quanto a este aspecto. Podemos usar aquele critério simples e eficaz quando se trata de um cargo de forte componente diplomática e social: não votemos em alguém que nos embaraçasse caso o convidássemos para jantar em nossa casa. E perguntemo-nos, caros co-eleitores: convidaríamos qualquer um dos cinco candidatos a jantar nas nossas casas? Claro que não. Da mesma forma, não nos sentiríamos bem em ser representados por tal indivíduo no exterior. É a nossa imagem que está em jogo. E à mulher de César não basta sê-lo... E ao Chefe de Estado, passe a expressão, a nossa 'mulher' e a 'mulher' da nossa Pátria, não basta ser mulher de Portugal (César)... Tem de parecê-lo e comportar-se com dignidade. Pois uma Nação fundamental na civilização ocidental, como é a nossa, tem de dar o exemplo, ser exemplar. E não motivo de chacota e desilusão. Cuidemos pois de eleger um representante digno. E para isso, bem sabemos, de nada serve um doutoramento. A verdadeira educação social está em casa, na academia está a formação profissional.

E o que irá mudar na política interna? Provavelmente nada, dada a ausência de poderes do Presidente neste aspecto, salvo a famosa bomba atómica, as mensagens ao Parlamento e o poder de influência em termos de opinião pública e através da comunicação social. Como 'provedor' dos Portugueses, e porque estamos em democracia, o Presidente não vai, pois, alterar o expectro político.

O critério de voto, por estes lados, é pois simples: um homem capaz de gerar consensos, não belicoso, com uam educação que lhe permita representar Portugal de forma digna.

No seu íntimo, os Portugueses sabem quem [não] tem estas características.

A responsabilidade pelo que suceder é vossa, não é dele.

Património


Durante a campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa recordo-me de ter dito – meio a sério meio a brincar – que as ‘minhas’ duas grandes prioridades para Lisboa seriam o estacionamento e o património. Recordo-me, também, de ter escrito algo sobre golden shares e privatizações, em que comentava a erosão do Estado. O património é o que nos resta, ou, para alguns, é o último reduto da soberania.

Ao lado da filosofia política, e numa perspectiva mais pragmática, creio que é essencial uma política rigorosa e persistente na área do património. Quanto mais viajo mais admiro o património histórico que Portugal possui, e mais me entristece ver o seu estado de degradação progressiva.

O problema parece ser duplo: por um lado, uma falta de investimento financeiro; por outro lado, uma falta de vontade, de brio, de rigor, de eficácia (para não falar de eficiência).

São conhecidos os argumentos financeiros: a conjuntura, a dependência de economias externas, as fracas receitas fiscais, a privatização de várias empresas: parece que não há capital que possa ser alocado no que alguns chama de ‘cultura’. Porém, não compreendo que se faça obra nova sem manter a antiga: é inaceitável que o Estado – e também particulares – invistam em novas construções ser assegurar a manutenção do património imobiliário e histórico existente que o justifique. Haverá, naturalmente, excepções, como hospitais e outras infraestruturas básicas (regimes excepcionais que de resto não são utilizados...).

Porém, pela falta de vontade e rigor não há argumentos. Assume aqui especial relevância a gestão corrente das instituições do Estado e de supervisão, particularmente aquelas relacionadas com o ordenamento do território; com a preservação do património e, naturalmente, as administrações central (Governo) e local (autarquias). É impossível referir todas as situações a corrigir, pelo que recorro a exemplos soltos.

Só recentemente, por exemplo, se vem a verificar o recurso ao mecenato cultural. O Palácio de Versailles há mais de um século que recorre a estes expedientes (pelo menos duas famílias portuguesas participaram: a família Real – reinado de D. Carlos –e a família Espírito Santo). É incompreensível que só agora o mecenato surja em Portugal e ainda de forma tão restrita. A abertura ao Finibanco, ao BES, ao Finantia, etc. como mecenas do Palácio da Ajuda não é suficiente. É preciso fazer mais pelo património nacional (mesmo ao nível micro, na própria Ajuda, ainda há salas onde chove!). Não se compreende que se organizem grupos de voluntários (e.g. via escolas e outras associações) para reabilitar os degradados jardins de Queluz (aproveitem para encerar o óptimo mobiliário hoje decadente); é absurdo que não se construa uma cúpula de protecção nas Capelas Imperfeitas (Batalha), ainda que com recurso a financiadores externos; é inqualificável que jorre água da talha dourada (e voem pombos) na imponente catedral de Amarante; é algo ‘inadequado’ que não se dê uma pintura nos exteriores do Palácio de Belém...

Há vários campos de acção a nível político. Destaco dois: a geração de receitas próprias pelas ‘entidades culturais’; a formação técnica de gestores culturais e de funcionários. Mesmo que possa chocar alguns, é importante obter receitas mesmo que recorrendo a expedientes como o merchandising: utilizar os locais a preservar como leit motif de bens de consumo a adquirir por utilizadores desses locais, especialmente quando a realidade local portuguesa se caracteriza por uma evidente predominância de turistas não portugueses (e) com maior poder aquisitivo. Vídeos; fotografias; slides; roupas; acessórios; gravuras; livros; canetas; tudo é possível no merchandising, desde que se obtenha receita. A formação técnica (especialmente de gestores culturais) assume lugar especial, conjugando a vantagem das qualificações do gestor com o evitar da ‘empresarialização negativa’ do património nacional.

Introduzir certos princípios e métodos de gestão na cultura é essencial para corrigir falhas seculares e potenciar upgrades futuros nas instalações e restauro qualificado.

Não aceito que se atribua a estas medidas um carácter negativo de ‘comercialização’ da cultura. Pelo contrário: visam a manutenção da soberania do Estado sobre o património (senão teria de ser privatizado) bem como a sua existência (ou acabaria destruído...).

Ao pensar nestas questões recordo-me da discussão sobre a pena de morte. Isto ganha sentido pelo elemento que têm em comum e que nos leva a negá-las: são irreversíveis. O carácter de irreversibilidade deve fazer-nos defender, a todo o custo, o património natural, e /ou histórico, arquitectónico: é que tenha sido ou não feito por nós, uma vez destruído, não pode ser recriado. E no final da história (ou da destruição, ainda que por omissão) podemos sempre mudar de ideias...

Sexo, essa obsessão


Já lá vai o tempo em que 'O Meu Pipi' era visto como 'aquele' blog ofensivo, disgusting, verdadeiramente repulsivo, para quem via ali um antro de sexo e mau gosto gratuitos. Não sei quem é o autor, e se o fazia por ser doido, inteligentemente provocador, ou tudo junto [ou por outra razão qualquer... e nós RALADOS!].

In any case, há hoje IMENSOS blogs com fotos e textos com sexo explícito, com + ou - sentido.

É certo que o sexo não é novidade nenhuma; já existiam imensos sites e imensas outras formas, mais tradicionais, de divulgação de sexo, e aqui falamos de sexo explícito, de pornografia.

Estamo-nos nas tintas para isso como acto objectivo. Quem quiser, força [passe a expressão; neste contexto é difícil encontrar expressões sem sentidos duplos].

Já não nos estamos nas tintas quando isso revela problemas sociais graves.

Não seja isto visto como a defesa da tese típica da sociologia, e dos coitadinhos e dos escândalos, e do vamos ajudar o outro porque ele tem um problema.

O que está em causa são grandes pancas.

E os blogs têm a vantagem suprema de reunir [sobretudo os que têm Comments], imensas opiniões de imensas pessoas diferentes sobre um mesmo produto, no caso fotos, vídeos, textos porno.

E ao ler alguns posts [é gastar nisto algum tempo, porque perceber a sociedade em que vivemos às vezes vale a pena] e ver do que estamos a falar.

Ele há grandes pancas. E regra geral comentários masculinos. E muitas vezes de pessoas que -- chemem-lhe pressentimento -- têm mais de 30 anos.

Há aí, não sei se já o dissémos, muitas pancas.

Muita perversão.

Não é a pornografia e a ordinarice que estão em jogo.

Não somos assim tão impressionáveis: estamo-nos nas mais absolutas tintas para a pornografia.

Mas ficamos algo preocupados quando sabemos que pessoas 'aparentemente comuns' em vidas 'banais' ou até -- e muitas muitas vezes -- pessoas com relevantíssimos cargos no Estado e em grandes grupos empresariais alinham nisto.

Será uma personalidade dupla? Diríamos que não.

Será uma personalidade oprimida? Diríamos talvez.

Será um fenómeno que irá 'rebentar' mais cedo ou mais tarde e dar origem a outra coisa? Estamos certos.

Então e o que se segue? Pois.

Estamos muito preocupados. E o cliché 'sociedade doente' parece gasto. Mas é o único que nos ocorre.

Praxes II

É nestes momentos que sentimos esperança...

num país mais civilizado.


Leio no Expresso que "seis alunos da Escola Superior Agrária de Santarém vão ser julgados por terem submetido uma colega caloira a praxes violentas (...) Os factos remontam a 2003. A aluna apresentou queixa na PSP de Santarém, alegando ter sido vítima de praxes violentas por parte de sete alunos mais velhos do estabelecimento, nomeadamente por ter sofrido pressões psicológicas várias sob coacção (...) a aluna foi forçada a andar descalça, suja com bosta de vaca e sujeita a vários «abusos insuportáveis», incluindo a proibição de contacto telefónico com a família'.

Já falámos aqui sobre isso. É reler. A posição mantém-se. Agora com mais optimismo.

13 julho 2006

Instabilidade na Banca: o caso BES

Escrevemos um post intitulado 'BES na RTP'.

Tendo em conta o frisson mediático, empresarial, policial e judicial, tem de haver um frisson 'Lorenzetti'.

Afinal, estamos à beira de um frisson social, como se não estivéssemos já em pleno frisson económico.

O BES é um dos grandes grupos empresariais Portugueses, não só na área financeira [sem falar ainda em participações de relevo, como no grupo PT, com todo o peso associado a esse grupo], e não só em Portugal. É muito mais do que isso.

E o preocupante não é o BES em si, nem sequer os vários [5?] grupos que controlam 85%?] o sector financeiro em Portugal.

O preocupante é o desdobrar do chamado 'risco sistémico', é o 'efeito de contágio' que pode -- e certamente existe -- ter lugar na economia Portuguesa.

Não se interprete isto como um argumento subtil para safar seja quem for.

Interprete-se isto como aquilo que é: o receio, digamos assim, de uma certa [digamos assim.......] Revolução social.

Os grupos já estão nervosos, e quedas poderão abalar toda a economia e todos os Portugueses, mesmo que tal abalo não seja imediatamente financeiro, mas imeditamente social: um certo pânico.

Juntar a isto questões orçamentais e políticas internas e gripe asiática não pode dar bom resultado.

Sejamos claros [como tentamos sempre...]:Lorenzetti está MESMO muito preocupado.

Como equilibrar justiça e cumprimento da lei com estabilidade social e económica [e política!] num pequeno país do Sul da Europa?

Eis a questão. Eis a questão.

Autárquicas 2oo5

Aquilo que nunca escrevemos...



... sobre as últimas eleições em Portugal:

'Estas eleições demonstraram que os portugueses são os maiores. Nem sob a ameaça de um furacão, a malta deixou de votar no Isaltino, na Fatinha e no Major'.

Ainda bem que alguém o fez. [leia-se... escreveu].

De seu nome Esdrúxulos.

12 julho 2006

Patriotismo de Domingo


L. acaba de assistir a uma revoada de buzinadelas, gritos histéricos e afins. A palavra de [des]ordem era 'PORTUGAL'.

Infelizmente não existe nenhum mandamento 'Não invocarás o nome do teu país em vão'.

L. questiona-se onde andará esta patriotismo fora das semanas do Mundial de Futebol, i.e. o resto do ano.

Isso inclui não só o dia-a-dia como todos os outros campeonatos em que Portugal participa, incluindo o rugby, onde Portugal tem sido, nos últimos anos, um grande vencedor. Tomaz Morais não fica atrás do afamado Mourinho. Ou fica. Porque está no rugby e não no futebol.

Entretanto continua o patriotismo ocasional. Acaba o Mundial de 2006 e desaparecem as buzinadelas e os gritos do nome de uma país que pára até ao próximo. Ficam as bandeiras oferecidas por revistas e jornais, a desfiar-se ao vento de um país que já foi.

06 julho 2006

Paixão de Infância


Todas as pessoas que são pessoas e que foram crianças têm uma paixão de infância. Pelo menos uma. Ou entre muitas, certamente uma que se destaca, mesmo que dela não se apercebam num primeiro relance.

L. teve uma que se concretizou, e que não conta. Outras que foram menosres, que não contam.

E uma que não se concretizou porque 'não se podia concretizar'.

De modo nenhum. Desde logo pela idade. Esse clássico gap.

Como iria ela olhar para um puto?

Sobretudo quando era uma certa goddess, a miúda mais radical de aquém e além mar, giríssima, premiadíssima no seu desporto favorito, sem tempo para nada nem ninguém que não os que não a largavam e aqueles que a tinham acompanhado desde sempre?

Alguns de nós entretanto tornaram-se assim. E hoje sentimo-nos ao lado ou mesmo noutro plano, e já nem lhe ligamos.

Há algum tempo L. encontrou-a.

E quis ter a ousadia de a contactar, sobretudo para dizer de alguma forma o impensável, desde logo porque seria inconveniente e sobretudo inconsequente e só a deixaria numa situação desconfortável.

Mas o melhor da vida é quando esta nos surpreende pela positiva.

L. teve lata para a 'interpelar'.

E ela paciência [ou necessidade? estará diferente? creio que para ainda melhor] para responder.

L. gostou do que ouviu. Desde logo porque ela parece ter gostado do que ouviu, 15 anos depois de não saber que L. existia.

E quem lê isto não fica a saber o que se disse [ou se leu, ou se ouviu entre L. e a sua paixão de infância].

Mas L. quer que se saiba que correu bem. A dúvida de L., perante a boa reacção da sua 'paixão de infância', é saber se continua o contacto. Porque tem, obviamente, receio mais que humano [logo falível!] de destruir um 'monumento psicológico de perfeição'. Mas lança o desafio:

se a vossa paixão de infância passar hoje à porta das vossas vidas, o que farão? No caso de L. os melhores resultados vieram do improviso.

Foto: Lagoa Azul, Islândia. [Remember?]

01 julho 2006

Nacionalismo esporádico

Um era sueco o outro português.

O sueco pergunta ao português se um certo bar estaria aberto nessa noite. O português dizia que sim, claro, com um ar de gozo.

O sueco explica a sua dúvida 'I'm aware that you're having a national holiday today'.
O português percebeu: national holiday é feriado. E nesse dia, dia 15 de Junho, era feriado, como em muitos dias desse mês. A 'época dos feriados'. Os 'feriados de Junho'.

E acrescenta o sueco, perante um português ainda com um esgar de gozo e abanando a cabeça afirmativamente:

'why are you having this holiday, anyway?'.

O português estaca. Claramente não sabe. Balbucia e acaba por perder o sorriso por completo. Ou melhor, o seu sorriso de gozo e não cortesia transforma-se num sorriso amarelo de ignorante.

Não fazia a mínima ideia do que estava a falar, ou seja, que feriado estava a gozar.

O sueco responde com um misto de reconforto e de contra-gozo: 'I see, you have a lot of national holidays...'.

E é verdade. Sobretudo religiosos, sendo o país 'laico'.

Mas continuamos com eles, e gostamos. Com eles os feriados, não os santos.

Neste caso era o feriado da festa do Corpo de Deus.

O português clássico continua a ser um religioso de pacotilha.

L. percebe quem o é verdadeiramente e quem verdadeiramente o não é.

Mas não percebe [ou recusa-se a aceitar] que se seja católico só aos domingos, ou quando há festas estilo baptizado ou casamento.

Dizem alguns padres, com razão, ninguém é obrigado a nada. Se não são devotos, não incomodem quem é.

Por estranho que pareça, esta cena fez L. pensar no caso do nacionalismo, além do da religião.

Os portugueses têm outra insistência: o nacionalismo esporádico, tipicamente diagnosticável por bandeiras emaranhadas em decrépitas antenas de carros e janelas de residências ou mesmo escritórios. Neste momento a razão qeue despoletou esta verdadeira herpes, este nacionalismo esporádico, é claro o Mundial de Futebol. Onde não se marcam golos. Esquecendo-se, por exemplo, 'modalidades' como rugby, onde somos assumidamente campeões mundiais.

L. é patriota e gosta de Portugal. Mas não deste Portugal. O Portugal falsamente religioso, o Portugal de nacionalismo de fim-de-semana.

O Portugal hipócrita e ignorante, que exacerba o vácuo e ignora ou pisa o que tem de verdadeiramente bom.

Foto: Porto Underground