27 novembro 2005

Défice e Multas de Trânsito


Na fantástica cruzada psicológica contra o défice das contas públicas [que, dizem alguns, irá determinar o resultado das próximas eleições presidenciais em Portugal] parecem estar esquecidos pequenos grandes fenómenos que potenciariam, de forma gigantesca, a receita pública de forma totalmente legal e com 'externalidades' extremamente positivas.

Dois destes fenómenos são as regras de estacionamento e as regras de trânsito.

Do incumprimento de qualquer uma delas podem resultar muitas e relativamente elevadas multas.

Estas multas, é evidente, constituem receita pública.

Estas multas, é evidente, não têm sido aplicadas.

Basicamente, e tentando evitar zonas verdes [vulgo EMEL, no caso de Lisboa]a malta estaciona onde quiser, por menos ou mais tempo, em cima do passeio ou simplesmente a fazer desviar o trânsito. É à grande.

É claro, faltam lugares de estacionamento.

Porém, a aplicação de multas não só seria o cumprimento estrito da lei, como tornaria as cidades bem mais limpas e confortáveis.

Traria dinheiro bem vindo ao Estado.

E, SOBRETUDO, teria uma externalidade deliciosa: tornaria os cidadãos bem mais exigentes quanto à existência de lugares de estacionamento.

Porque é que posso construir um prédio e não sou obrigado a ter estacionamento subterrâneo em número correspondente aos utilizadores do prédio?

É uma festa.

O estacionamento à bruta não resulta de mero estrabismo policial. Resulta, na maioria dos casos, de falta de lugares e de transportes públicos e de coragem política para assumir que não existe uma resposta adequada a problemas de estacionamento e de transporte público.

Problemas de estacionamento que, ao lado da recuperação do património, são os dois grandes desafios dos autarcas portugueses.

Coragem política procura-se.

21 novembro 2005

Pés no Ar, cabeças na Terra


No passado dia 9.11.2005 teve lugar a cerimónia de Bênção do avião Airbus 320 da TAP com a matrícula CS-TNB, ao qual foi atribuído o nome de Sophia de Mello Breyner

A Bênção do Airbus 320 foi celebrada pelo Reverendo Padre Morais Sarmento, Capelão da TAP, numa cerimónia que contou com a presença de familiares de Sophia de Mello Breyner.

Este evento não teria mal nenhum, não fora a TAP uma empresa de capitais públicos e o Estado Português um estado laico.

Sinceramente Lorenzetti está-se nas tintas para o estado ser laico ou não. Mas Lorenzetti não se está nas tintas para a hipocrisia.

Sejamos objectivos:

a Constituição diz, como sabemos, que:

'As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado' [art. 41/4]

e os dicionários dizem, como sabemos, que hipocrisia é:

'fingimento, falsidade, dissimulação'

E se formos a fingimento, lemos: 'acto ou efeito de fingir, enganar ou aparentar, impostura, disfarce, hipocrisia'.

Enfim, percebe-se a ideia.

Qual o sentido de uma benção a um avião? Porquê católica e não outra?

Enfim. Não vale a pena criticar os factos quando eles são tão evidentes. É só voltar ao início deste post.

19 novembro 2005

O País dos Tolos


Só pode ser de tolos, demagogos e ineficientes [e portanto muito pouco felizes] o país descrito pelo DN de 17.11.2005, que refere as grandes mudanças na educação pública em Portugal.

Delicioso é o 'prolongamento do horário do 1.º ciclo' e as 'actividades não lectivas dentro da escola'.

Confirma-se a ideia que por aqui tínhamos: as escolas não são para ensinar; as escolas são como depósitos de corpos [porque as mentes de nada servem e em nada são estimuladas] produzidos por pais que os têm e nada lhes ligam.

Porque nenhum pai tem um filho com amor e dedicação e o atira para uma escola cheia de anormais onde fica fechado o dia todo sem fazer nada de útil.

No caso do prolongamento, refere o DN, 'as escolas devem estar abertas até às 17.30 com actividades extra-curriculares, que vão desde o estudo acompanhado aos trabalhos manuais. Os sindicatos contestam esta medida, dizendo que, na maioria dos casos, as actividades desenvolvidas são de animação e apoio às famílias , sendo de atribuir das funções não docentes aos professores. Alegam também que as escolas não produzem as infra-estruturas'.

Isto é uma anedota. Depois de anos de estudo nas universidades, vamos por professores formados em matemática, em literatura, em biologia, em educação física, a fazer de amas secas.

Se queremos amas secas, contratamo-las. Como utilizar o dinheiro público, retirado aos contribuintes, para pagar a licenciados em diversas áreas para fazer o trabalho de educadores de infância, que saíam bem mais barato e seriam mais eficientes?

Uma medida legislativa destas só sai de uma mente incompetente, idiota ou profundamente distraída da realidade.

No próximo post falaremos das 'actividades não lectivas dentro da escola' que, porém, são feitas por aqueles que dão as 'actividades lectivas': os professores, essa mão de obra tão cara e qualificada para funções tão pobres. Um desperdício para os cofres públicos e uma degradação para um grupo profissional que devia receber o nosso maior respeito. Porque são eles que têm os nossos filhos o dia todo; e são eles que supostamente os preparam. Também queremos pô-los a fazer de guardas? E queremos ver os nossos filhos fechados numa escola horrível, em vez de estarem livres e em contacto com o mundo real? Que cretinos somos em ter tal ideia, em executá-la, ou simplesmente em ser passivos perante a sua concretização. Isto é demagogia. É o lado mais ditatorial e perigoso da democracia: os votos dos pais são mais que os votos dos professores. Os pais tiveram filhos porque lhes apeteceu, e alguém que os aguente o dia todo. E os políticos caçam o voto. Quem se lixa não são só os professores. São os nosos filhos. Depois queixem-se que são uns javardos. Têm a quem sair.

15 novembro 2005

Ainda sobre a Imagem de N.S. de Fátima em Lisboa e Fé


As reacções ao post sobre a imagem de N.ª Senhora de Fátima em Lisboa eram de esperar.

As observações que aí se fizeram mantêm-se na íntegra e não têm nada a ver com a Igreja, mas exclusivamente com o evento: a imagem, a sua duvidosa qualidade artística, o facto de ir amarrada a um jipe, e a forma como foi vista por centenas de pessoas.

A questão da Fé, que para nós é muito importante [seja que tipo de fé for], é diversa e apenas surgiu aí porque a única explicação para tanta movimentação popular é ou curiosidade ou fé. No caso das pessoas que vieram fora de Lisboa e não em turismo, foi certamente de Fé.

Mas o que é a Fé e a Igreja para nós?

Algumas pistas.

Não acreditamos na fé grupal, em procissões e missas campais.

Acreditamos na fé como fenómeno individual, de relação com algo superior de que fazemos parte, numa relação de cumplicidade e orientação individual.

Temos pois o espírito 'oratório e capela', mais do que o espírito 'santuário e procissão'.

A fé só existe, cremos, com rectidão, reserva e espiritualidade. Não com confusão.

Respeitamos pois sem reservas as freiras contemplativas e todos aqueles que vivem a sua fé em paz e sossego. Mesmo que não seja uma fé católica.

O que não vemos como boa e natural é a manifestação em massa, com fenómenos de mau gosto e de, até, profusão de vendilhões do templo (os únicos que terão ocasionado a raiva aberta de Jesus), veja-se todo o 'merchandising' à volta da Igreja, sendo nosso caso mais conhecido, precisamente, o de Fátima.

Uma coisa é Fé; outra, bem diferente, é fanatismo religioso ou oportunismo barato.








'A Primeira Tentação de Cristo' [c.1222], psalterium iluminado, Det Kongelige Bibliotek, Copenhaga

14 novembro 2005

A Imagem de N.S. de Fátima em Lisboa

Os Insondáveis Mistérios da Fé


Tarde de Sábado em Lisboa.

Praça de Espanha, Avenida de Berna, Avenida da República, Praça do Saldanha, Avenida Fontes Pereira de Melo, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Restauradores.

Centros nervosos da capital e a provocar muitos nervos hoje; não por greves, nem mau tempo, nem desacatos de marginais.

Tudo cortado para passar a imagem de N.ª Senhora de Fátima, amarrada a um carro de bombeiros (sim, amarrada...).

Mesmo sem a corda, continua a ser uma escultura sem qualquer categoria artística, apesar da famosa coroa.

Centenas de pessoas observaram a 'passagem' do carro, imagem e respectivas amarras pelas principais avenidas da capital.

E com um tempo bem desagradável. E num sábado.

Isto demonstra uma fé indescritível. Ou simples voyeurismo.

Só uma fé indescritível (ou simples voyeurismo) leva centenas de pessoas a ver uma estatueta de qualidade artística e gosto duvidosos, amarrada a um jipe, a passar na rua, com frio e chuva, num dia livre.

Ficamos absortos com tal fé; é um mistério extraordinário: as pessoas não vêm ali cordas, nem uma estatueta, senão nem apareciam e até se queixavam dos gastos públicos em polícias e cortes de estradas.

As pessoas viram muito mais. Funny world.

11 novembro 2005

Aí está, de facto


Uma forma de não cansar a imaginação de Lorenzetti: citar wonders.

Faz hoje uma semana que não escrevo no SW. Por preguiça, falta de inspiração, ressaca. Talvez pura e simplesmente por tédio das coisas que me acontecem.
Ou então porque tudo à minha volta me decepciona, mais do que algo em particular que possa descrever aqui. Tarde de mais um pouco, o descobrir que toda a gente se limita a sobreviver, porque a vida é assim. Sem sonhos, sem descobertas, sem esforços, sem esperanças. Ao dezoito anos queremos o mundo e mais alguma coisa. Depois dos vinte, apenas um lugar ao sol, um ordenado, uma casa, uma pessoa.
Tão cansados que só não queremos não ter onde voltar, quando tudo na vida se desfez em realidades. Em dias e fins de dias. Que começam as oito da manha no metro, e acabam ao fim da tarde a ver os morangos com açúcar. Porque no fundo, somos muito felizes às oito da manha no metro, e depois a tarde. A ver os morangos com açúcar. Há pessoas que não podem fazer isso sequer, que vivem na rua. Nós podemos. Foi a nossa pequena conquista pessoal.
Aí está. É com isto que podes contar. Se não tens solução para a tua vida, eu apresento-te esta. É maravilhosa, e simples.
E se calhar eles têm razão. Ser feliz deve ser tão bom. Ser feliz é trabalhar para ter dinheiro para ter uma televisão para ver os Morangos com Açúcar.
Ser feliz é precisar de fugir a alguma coisa de vez em quando, não sabemos muito bem fugir do quê. Só sabemos que um fim de semana ou outro acordamos a vomitar álcool e branca, e cuspo, e neurónios. Mas não pensamos mais, e é tão bom.
Ser feliz é chorar quando os outros morrem, comprar um carro e depois troca-lo por outro carro. Ter alguém e viver desse alguém, para depois perceber que nada na vida se faz a dois e foi tudo uma ilusão (talvez nessa altura percebas que sempre estivemos sozinhos, todos, que isso de viver para alguém não resulta, porque a solução nao está nos outros mas sim em ti. Ou talvez não percebas nada e continues a ver a novela. Como eu te invejo). Ser feliz é aprender a fazer arroz. E panadinhos, às vezes. É dar graças a Deus porque não estamos doentes e temos todos os bracinhos e as mãozinhas no lugar. Ter quarenta anos e ficar muito contente, porque se finalmente se juntou dinheiro do aumento para levar a família à neve.
Os sonhos são para os outros.

Da 'nossa' Sem Wonderbra

10 novembro 2005

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Quando uma empresa ou uma pessoa qualquer [o 'particular'...] tem problemas financeiros, a primeira coisa que faz é, em regra, cortar nos custos.

O tema que tem alimentado o discurso político, eco´nómico e social em Portugal nos últimos anos [transbordanado para tudo o resto] tem sido o défice das contas públicas e o endividamento dos particulares.

Essencialmente, a ideia segundo a qual 'estamos todos', Portugueses, de corda à garganta.

Tanto se insiste no discurso das contas públicas que o Presidente da reública referiu [com reacções negativas de muitos economistas] que 'há vida para além do défice'.

E tanto se insiste neste discurso que andamos todos deprimidos: a depressão colectiva de uma país é, evidentemente, uma razão para o aprofundamento de uma crise económica: é o factor psicológico.

Mas a crise não é, de todo, e no essencial, psicológica. É real.

Interessa pois ver o que tem sido feito pelo cidadão comum para dar a volta.

E o cidadão comum não é o milionário que não sente a crise directamente na sua vida e contas bancárias [apenas através dos seus negócios], nem o miserável que sempre foi miserável ou que está um pouco mais miserável.

É a chamada classe média. A misteriosa classe média, à qual todas as pessoas dizem pertencer, mesmo que algumas aleguem dela fugir.

A classe média que tem TV Cabo, ADSL, que não bebe simples água [sobretudo da torneira, que horror!], mas sumos, 'colas', 'jolas' e afins; que tem um ou mais telemóveis [muitas vezes carotes, ai os 3G!] com contas mais ou menos altas, a que compra perfumes de marcas de Milão, Paris e Nova York, marcas das quais não tem [MESMO] dinheiro para comprar roupa [e que não sabendo, marcas que acabam por sustentar], a classe média que vai ao cinema e vê uma porcaria qualquer por mais de cinco euros, essa classe que tem carros, muitas vezes kitadíssimos, que também muitas vezes não anda de transportes públicos, a mesma que vai comprar imensos presentes no Natal e que invade a FNAC todo o ano para comprar CD's e DVD's e neo-romances 'da tanga'. A mesma que pede belos empréstimos não só para casa e carro mas para bens de consumo corrente, que vai passar a passagem de ano não sei aonde, que bebe imensos cafés e fuma imensos cigarros por dia, essa classe média que redecora a casa, mesmo que devagar, depois de ver revistas que comprou por 2, 3, 7 euros, e que acabarão ou não num consultório qualquer, gente cujos filhos gastam dezenas de euros por noite em copos e eventualmente uma ganzita. Essa classe média que gasta dinheiro com a Maria, a Máxima, jornais da treta e revistas com resumos de novelas, a mesma que compra doces, tremoços, cervejinhas, chocolates, coca cola, e tudo o que não vem na roda dos alimentos e que não é mais do que puro desperdício [ou prazer, mas ainda assim adicional].

Desperdício.

De dinheiro e de vidas.

Compramos o que quisermos, mas não podemos dizer que o dinheiro não existia. Chegou e foi.

E a crise? Será que chegou? MESMO ?



Foto: Cindy SHERMAN [1990] Untitled (Mrs. Claus)

08 novembro 2005

Valores no Mercado da Arte: um caso



Hoje irá 'à praça' uma composição de fotografias de Gilbert & George, a dupla que nos diverte com uma interessante perspectiva sobre a vida urbana e sobretudo do takeover dos nossos horários pelos nossos escritórios.

A diversão é ainda maior ao ver a estimativa da Christie's para a composição que refiro, de 1977: mais de cem mil contos. E não estamos a falar de um quadro, mas de uma composição de 2 por 2 metros em papel gelatina.

Dados abaixo...

... e é só um caso.

Creator: Gilbert & George (B. 1943 & B. 1942)

Lot Title: Red Morning (Hate)

Estimate 400,000 - 600,000 U.S. dollars
PROPERTY FROM A PRIVATE EUROPEAN COLLECTION
signed and titled 'Gilbert George Hate' (on the lower right panel)
16 hand colored gelatin silver prints in artists' frames
overall: 95 x 79 in. (241.3 x 200.7 cm.)
Executed in 1977.




Post-War and Contemporary Art Evening Sale, Sale 1573
November 08, 2005, New York, Rockefeller Plaza

05 novembro 2005

197 votos a favor de la admisión del proyecto de reforma del Estatuto, 146 en contra y una abstención


É o resultado da votação no Congresso de Deputados em Espanha quanto à Proposta do Governo PSOE / Zapatero de um novo Estatuto de Autonomia da Catalunha.

Por aqui gostamos muito da Catalunha. Ao lado do País Basco [CURIOSAMENTE] as regiões económica e culturalmente mais vibrantes do Reino de Espanha.

Não se leia aqui um apoio [ou reprovação] à independência da coisa. Sinceramente não estamos TÃO informados. 'Informação' que apenas se adquire pelo conhecimento directo, i.e. através de uma vida em Espanha e um profundo conhecimento do 'ser espanhol' [e ser 'Espanhol na Catalunha' e ser 'Catalão em Espanha'] o que não é o caso.

Assistimos ao debate [a parte do debate, bem foram mais de nove horas] via TVE.

Ficámos admirados com a qualidade das intervenções [nada do belo insulto e questiúncula quase infantil, mas apenas malcriada, da nossa AR], sobretudo da CiU. Temos duas palavras para vós: Artur Mas. Discurso segue abaixo!

Discursos fortes na forma e no conteúdo, straight to the point e em integral respeito com o tempo atribuído.

É claro: trata-se também de uma discussão especial.

No essencial,o confronto quase pessoal entre Mariano Rajoy, líder do PP, agora na oposição, e absolutamente contra o 'desmembramento do Reino de Espanha' e todos os restantes [o PSOE, no Governo, os partidos que representaram a Generalitat e tudo o que sobra...

É claro: Rajoy respondeu a roçar o insulto [Mariano Rajoy a Zapatero: “Usted se ha convertido en un problema para la sociedad española”] e foi criticado pelo ruído durante a sessão, que levou o presidente da mesa a pedir silêncio.

Note-se, porém, que isto não se confunde com a chalaça e a falta de conteúdo político que citámos acima: os discursos foram claramente plenos de conteúdo e força.

Foi, como referimos, um dia especial.

Especial porque foram abordadas questões fundantes, relacionadas com os aspectos mais essenciais de um Povo, de um Estado, de uma Nação, de uma Constituição, de um Direito: tudo isto tem a ver com o centro de tudo. No caso, com o centro de tudo em Espanha e entre os Espanhóis, sejam Catalães ou não.

Discutiu-se a Constituição, a Autonomia, a Soberania, o Estado, o Povo. Discutiu-se aquilo que é o âmago do viver colectivo e individual de um grupo tão grande de pessoas como é o dos espanhóis. Ainda que o leit motif fosse a Catalunha e os Catalães [representados nesta sessão pelos líderes dos grupos parlamentares do Parlamento da Catalunha, a Generalitat].

Foi um momento mágico em Política.





O prémio Lorenzetti do dia: discurso de Artur Mas, da CiU:



Si el Presidente me lo permite, desearía poder dirigirles unas breves palabras en catalán.

Un idioma que aspiramos a poder utilizar con mayor normalidad en esta casa común, que son las Cortes Generales.

Un idioma que a lo largo de sus más de ocho siglos de existencia ha ido moldeando la personalidad propia de nuestro pueblo.

Una lengua de concordia, y no de discordia como a veces se la presenta.

Una lengua que hablamos no para diferenciarnos, como a menudo se dice, sino simplemente porque es la nuestra; en la que muchos catalanes pensamos; y en la que expresamos nuestros sentimientos.

Es, ni más ni menos, lo que hace todo el mundo con su lengua propia.

Así de sencillo, así de natural debería ser. Les hablo en nombre de la Catalunya de sus siete millones de habitantes.

La Catalunya real, la de carne y hueso, tan alejada de los estereotipos que sobre ella se propagan con tanta irresponsabilidad como aprovechamiento partidista.

Una Catalunya que se sabe y se siente nación, porque lo es; tierra de oportunidades para quienes las quieren aprovechar; sociedad que aspira a ser más justa, más cívica,
más abierta, más convivencial; tierra de aluvión y de sedimento, de mezcla de gentes de procedencia diversa, protagonistas todos de un proyecto común.

Un país solidario como los que más. Esta, Señorías, y no otra, es la Catalunya que anhela y reclama más autogobierno.

El Estatut no responde a un capricho ni a la voluntad de incomodar a nadie. Responde a nuestra firme y muy mayoritaria voluntad de mayor autogobierno. Es decir, de progreso y de libertad. Es algo a lo que no queremos ni debemos renunciar. Si lo hiciéramos, equivaldría a renunciar a ser nosotros mismos. Y esto, Señorías, no se le puede pedir a nadie. Tampoco a nosotros.

Han transcurrido más de 25 años des de la aprobación del vigente Estatut. Toda una generación. Muchas cosas han cambiado, y casi todas para bien. Nuestra pertenencia a la Unión Europea; la globalización económica y cultural; la estructura demográfica; el concepto mismo del trabajo; la inmigración extracomunitaria; la velocidad de los cambios; la sociedad del bienestar. Nunca en tan corto lapso de tiempo la transformación había sido tan profunda.

Y por si esto fuera poco, acumulamos un cuarto de siglo de experiencia en democracia, en convivencia y en autonomía. ¿No creen que todo este cambio en profundidad merece y exige una puesta a punto también a fondo de nuestro autogobierno? Catalunya cree que sí. Y nuestra respuesta es el Estatut que pedimos que se tome en consideración.

El Estatut que proponemos se ha hecho democráticamente, pacíficamente, con escrupuloso respeto al marco legal, con voluntad de encaje constitucional y con un amplio consenso de casi el 90% de los representantes legítimos del pueblo de Catalunya. ¿Conocen ustedes una forma mejor de hacerlo? Si la conocen, les
pido que la expongan durante el debate de hoy. En cualquier caso, les pido respeto por cómo ha procedido el Parlament de Catalunya.

Y una buena forma de demostrar este respeto, con hechos y no con palabras, es votar afirmativamente la toma en consideración del Estatut. Porque si haciéndolo democráticamente, en ausencia de violencia, respetando las leyes y la Constitución, y casi por unanimidad, ustedes se negaran a aceptarlo, ¿cómo sugieren ustedes
que actuemos en el futuro? El Estatut que hoy defendemos lo votaron afirmativamente nueve de cada diez diputados en Catalunya. No es, en consecuencia, sólo el Estatut de los nacionalistas catalanes aunque algunos se empeñen en presentarlo así. Si le quieren poner una etiqueta, pongan la que corresponde de verdad; es el Estatut que propone y que quiere Catalunya.

Si se aprueba el Estatut, ustedes no estarán diciendo que sí sólo a los nacionalistas catalanes, si no a toda Catalunya. Si dijeran que no, el destinatario del no también sería Catalunya, y no este o aquel partido político en particular. No olviden que será Catalunya quien juzgará la labor que hagan las Cortes, a través del preceptivo referéndum.

Quisiera dirigirles unas palabras como Convergència i Unió. Creo que nuestra condición de primera fuerza política en el Parlamento catalán y por ende decisivos en la aprobación del Estatut, nuestra densa experiencia de gobierno en Catalunya y nuestra permanente implicación en la gobernabilidad del Estado casi me obligan a ello.

Dos cosas les quiero decir y otra les quiero pedir.

La primera. Somos coautores de la Constitución. Padres y defensores de la misma. Lo queremos seguir siendo en el futuro. Ahora bien, lo que no resulta admisible es que se utilice la Constitución para esconder criterios de pura oportunidad política. Dicho con más claridad: si algo del Estatut no gusta, o no se quiere asumir, tengan el coraje de discutirlo con argumentos políticos pero sin usar la Constitución como excusa o como escudo. Y menos todavía como arma arrojadiza.

La segunda. Desde CiU podemos mirar a ambos lados del hemiciclo, a derecha e izquierda, y afirmar que siempre que se nos ha pedido hemos apoyado la estabilidad y la gobernabilidad; en definitiva, el interés general. Nunca hemos regateado esfuerzos. No hay ni un solo ámbito de interés general español en el que CiU no haya colaborado a fondo, casi tanto como el que más. Sin excepción. Hemos estado a
las verdes y a las maduras. O mejor dicho: más a las verdes que a las maduras.

Lo hemos hecho por responsabilidad, pero sobre todo por convicción. Siendo como somos nacionalistas catalanes, y teniendo lógicamente Catalunya como prioridad, nunca nos hemos apuntado a la causa de la mediocridad o del atraso de España; siempre hemos apostado por una España democrática, próspera, europea y moderna.
Habiéndolo hecho, como les decía, por convicción, nada exigimos a cambio.

Ahora bien, una cosa si les pedimos. Actúen con auténtico sentido de Estado. Lo repito, aprovechando la solemnidad y la trascendencia de la sesión de hoy: actúen con sentido de Estado, en mayúsculas.

Tenemos derecho a pedírselo, porque no pedimos nada que no hayamos practicado. Y ustedes saben que la ocasión y el reto bien lo merecen.

Sentido de Estado quiere decir no engañar a la gente en un tema del calado que estamos tratando. Se puede estar o no de acuerdo con el Estatut. Se puede votar si o votar no. Se puede incluso recurrir al Tribunal Constitucional si se tiene dudas sobre su constitucionalidad. Pero lo que no se puede hacer es engañar y atemorizar a la gente diciendo que el Estatut rompe España y presentar a los catalanes como pedigüeños insolidarios que solo piensan en quedárselo todo. Esto es injusto y falso; y una falsedad repetida mil veces sigue siendo una falsedad, y no una verdad.
Hay límites y fronteras que los partidos que son alternativa de gobierno no deben traspasar, porque aún pudiendo arañar unos cuantos votos, el coste de su aislamiento político acabaría siendo más perjudicial que el supuesto beneficio partidista obtenido a corto plazo.

Sentido de Estado significa dejar de utilizar Catalunya como punta de lanza de la legítima controversia partidista. No pedimos adhesiones inquebrantables a nuestro proyecto; pero sí reclamamos respeto por lo que somos y lo que representamos. Sentido de Estado conlleva decir las cosas por su nombre y no deformar sistemáticamente la realidad. Reclamamos, sí, más autogobierno y una financiación más justa. Pero no confundan esto con pedir privilegios. Difícilmente podría pedirlos alguien como Catalunya que todo lo que es lo debe al fruto de su propio esfuerzo.

Hagan el favor de explicar de una vez por todas que Catalunya es solidaria como el que más con los distintos pueblos de España. Queremos una financiación justa y definitiva para Catalunya, pero no al precio de dar la espalda a aquellas comunidades que realmente necesitan nuestro apoyo. Reclamamos un nuevo modelo de
financiación no porque seamos gente insaciable que se desentiende de los demás, sino porque lo necesitamos para asegurar nuestro progreso como sociedad. Catalunya es y quiere seguir siendo solidaria. Por eso mismo tenemos derecho a proponer una revisión de los mecanismos de solidaridad, porque cuando la solidaridad acaba mermando el progreso de quien la practica, deja de ser solidaridad para convertirse en abuso.

Quisiera también dirigirme brevemente al Presidente del Gobierno para decirle que se nos pidió consenso y constitucionalidad, y creemos haber cumplido. Catalunya también espera que se cumplan los compromisos con ella contraídos. Como demócratas, sabemos
que tan soberano es el Parlamento catalán para formular su propuesta, como lo son las Cortes para formular la suya. Como soberano es el pueblo de Catalunya para apoyar o no el Estatut en el referéndum.

Nosotros estaremos por tanto en la mesa de negociación. Dialogando siempre, y pactando cuando el acuerdo sea mejor que el desacuerdo. Con la misma convicción le digo que defenderemos el Estatut aprobado por el Parlament en su integridad. E intentaremos convencerles. No deseamos el fracaso del Estatut. Y tan fracaso sería
que no saliera de las Cortes como que saliera con un contenido que no fuera asumible por el Parlament de Catalunya y por los catalanes. Quiero decirle asimismo que aplaudimos su valentía política al abordar un tema complejo que puede incluso acarrear una cierta impopularidad. Usted asume riesgos; nosotros también. No está
usted solo en este camino. Le pido, eso sí, que una vez puestos en marcha no le falle a Catalunya quedándose a medio camino. Quisiera que mis últimas palabras se dirigieran al conjunto de los ciudadanos de los pueblos y naciones que conforman España.

Pido a todos que ante el Estatut que Catalunya propone no reaccionen con miedo, temor o recelo. No tengan miedo a que España se reconozca tal como es y se acepte tal como es: plurinacional, pluricultural y plurilingüística. Aceptándose tal como
es, refleja lo mejor y no lo peor de su propia historia; defiende su presente y apuesta por su futuro como realidad y como proyecto común. En definitiva, refleja lo mejor de si misma.

Muchas veces se ha pedido a Catalunya que explicara hasta donde quería llegar. Ahora se lo hemos dicho a través del Estatut. Las cartas están sobre la mesa, boca arriba. No hay por nuestra parte ni cartas marcadas, ni cartas escondidas. Catalunya ha hablado con voz clara y firme. Ha hablado pacíficamente, democráticamente, respetando las leyes y por un rotundo consenso que no deja lugar a dudas sobre nuestra aspiración colectiva.

Catalunya ha hablado. Ahora les toca hablar a ustedes. Les invito a hacerlo con auténtico sentido de Estado y huyendo de politiquerías de corto recorrido.
Háganlo, si no es mucho pedir, con el mismo sentido de Estado que Catalunya ha practicado, siempre que algo importante de verdad estaba en juego.


[Intervenció d'Artur Mas al debat de l'Estatut del Congrés dels Diputats, 02.11.2005]

04 novembro 2005

Ah, que maravilha !


Melvin walks back into the apartment and is about to
close the door when Simon has another burst of bravery.

SIMON
Did you... do something to him?

MELVIN
Do you realize that I work at
home?

SIMON
(eyes downcast)
No, I didn't.

MELVIN
Do you like to be interrupted when
you are danging around in your
little garden?

SIMON
No... actually, I even shut the
phone off and put a little piece
of cardboard in the ringer so no
one can just buzz me from d...

MELVIN
Well, I work all the time. So
never, never again interrupt me.
Okay? I mean, never. Not 30
years from now... not if there's
fire. Not even if you hear a thud
from inside my home and a week
later there's a smell from in
there that can only come from a
decaying body and you have to hold
a hanky against your face because
the stench is so thick you think
you're going to faint even then
don't come knocking or, if it's
election night and you're excited
and want to celebrate because some
fudge-packer you dated has been
elected the first queer President
of the United States... and he's
going to put you up in Camp David
and you just want to share the
moment with someone... don't knock
... not on this door. Not for
anything. Got me, sweetheart?

SIMON
Yes. It's not a subtle point
you're making.

MELVIN
Okay, then.

Melvin enters his apartment and slams the door shut.


É sempre bom recordar. Do script de As Good as it Gets, 1997, filme de James L. Brooks, autor dos Simpsons, realizador de Jerry McGuire, A Guerra das Rosas e afins.

03 novembro 2005

Daciano Costa


Esse mestre do Design em Portugal [e do Design Português, bem entendido] faleceu na terça feira, dia 18 de Outubro de 2005.

Tínha-mo-lo ouvido há relativamente pouco tempo, numa entrevista estupidamente lúcida, elegante, inteligente e humana conduzida pela agora apagada [aquietada?] entrevistadora Ana Sousa Dias, então na RTP-2.

Faleceu com 75 anos, e sua obra mais 'mediática', mais impressiva, foi a Fundação Gulbenkian, um ícone do design português de 60-70. Como o próprio dizia, 'o criminoso volta sempre ao local do crime' e foi-lhe igualmente encomendado o 'redesign' do espaço, que conseguiu concluir e que manteve a grandiosidade discreta e cúmplice. O foyer da Gulbenkian continua a ser simultaneamente institucional e cozy, simultaneamente clean e oldie. Uma segunda casa para muitos.

Fundou a Associação Portuguesa de Designers [passe a curiosidade: os Estatutos da APD foram redigidos por Jorge Sampaio, em 1976]e outras obras emblemáticas foram a arquitectura de interiores da Biblioteca Nacional, da Aula Magna e Reitoria da UL, do Coliseu dos Recreios e do já clássico CCB.

Vamos ter saudades do trabalho que nunca fez, e gostar cada vez mais do trabalho que nos deixou. E que, para nós, é puro prazer. Obrigado, Professor.

02 novembro 2005

A Coitada do Macho Latino




'Assim, se a motivação do agente for atendível, atentas as circunstâncias – mesmo que não tenha valor social ou moral – então a emoção, desde que violenta e causa do crime será compreensível.

No caso destes autos o arguido acordou de noite, esperou pela mulher que se houvera ausentado, não a tendo visto regressar foi à sua procura de descobriu-a com outro homem, desnudada numa casa em ruínas apenas trajando as cuecas. A sua reacção foi violenta e quanto a nós compreensível ante o quadro fáctico.

Portugal não é a "coutada do macho latino" como foi um dia tristemente rotulado. Não deixa, contudo, de ser um país que há pouco mais de 20 anos abriu as portas a outra maneira de pensar (não mais certa nem mais errada) que deixa para trás o valor da inviolabilidade do vínculo matrimonial e do dever de fidelidade que com ele está associado. Não nos podemos esquecer das fortes raízes cristãs que estão associadas ao nosso povo e com elas aquilo que é definido como a união sacro-santa do casamento em que se associa a ideia da união de duas pessoas selada pela benção de um Ser superior e omnipresente.

Será correcta a conduta do arguido ? É óbvio que não. Tanto assim é que o Ministério Público acusou, e bem. E tanto assim é que este Tribunal não deixará de condenar o arguido pela sua conduta.

Será compreensível a conduta do arguido ? Respondemos afirmativamente ante a situação de facto tida como assente.

Inexistem causas de exclusão da ilicitude ou da culpa pois que o elevado grau de ilicitude do facto e a importância do bem jurídico tutelado como que desencadeia um efeito de bloqueio que poderemos definir assim: apesar do agente estar dominado por uma emoção violenta e de essa emoção ser compreensível, ele tem ainda forças, capacidade e vontade suficientes para não praticar o crime. Cometeu, pelo exposto, o arguido o crime pelo qual vinha acusado'



Delicioso. É parte de uma sentença de 18.5.1998, proferida pelo Tribunal Judicial de Mafra.

Direi mesmo mais: delicioso.

01 novembro 2005

A 1 de Novembro...



...a nova Wallpaper.

Desta vez destaco a cozy home a hora e meia de Melbourne, por Jesse Judd.

Além desta -- que não vem no website da revista, só na edição impressa -- é de ver a reportagem sobre a nova biblioteca de Alexandria [que senta 2000 pessoas E com conforto...] e sobre a renovação da mítica estação de St.Pancras, em Londres.

Fui.