30 julho 2004

Cinemateca

Há uns dois anos, no mínimo, que não ia à Cinemateca.

'Levaram-me' a ver um filme dos Monty Pyton. Deparámo-nos com uma fila interminável na bilheteira, meia hora antes do filme.

Avancei até à bilheteira, para saber se ainda havia muitos bilhetes: um papel afixado informava que a sessão Monty Pyton encontrava-se esgotada.

Saímos inconsoláveis.

Sorri para dentro: a renovação da Cinemateca ultapassou as minhas melhores expectativas; trouxe o Fellini on Fellini, da livraria...


... e a imagem da fila.

Como era bela aquela fila de rostos irrelevantes num mesmo objectivo. E em pleno Verão.

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08 julho 2004

Dos escombros para as prateleiras

Foi recentemente lançado pela K617 um disco gravado em 2003 pelo Ensemble Turicum que não creio que em Portugal tenha tido o devido destaque, apesar de reunir, como a própria capa indica, 'musique napolitaine des archives portugaises'.

Não se trata, pois, de mais uma [ainda que sejam poucas] compilação de obras de autores do barroco português. É sim uma recolha de quatro obras parte dos algo inexplorados arquivos portugueses, apesar de muito desfalcados pelo terramoto de 1755 [cuja dimensão muito se ignora, ainda que já haja obras -- como este -- volume de Susan Neiman, editado pela Princeton UP e aclamado pelo NYTimes , a compará-lo ao 11 de Setembro (!)] e subsequentes incêndios.




Este disco reúne obras de Pergolesi, Leonardo Leo, Antonio Gallassi [falecido em Portugal c.1790] e David Pérez [falecido em Lisboa em 1778], ainda que a capa do disco destaque, certamente por motivos comerciais, a Messa a 5 Voci de Pergolesi, famoso sobretudo pelo seu extraordinário Stabat Mater e pelo facto de ter falecido aos 26 anos.

O trio de David Pérez, a fechar o disco, é um daqueles exemplos da 'cross-fertilization' musical: barroco, com castanholas. Está longe de ser único quanto a esta característica, mas é pouco comum -- sobretudo nas grandes edições discográficas de massa -- e a qualidade do conjunto raríssima. Não é de espantar: Pérez, lui-même, faz parte de um trio mítico, juntamente com Carlos Seixas e Domenico Scarlatti, seus contemporâneos.

Num Mundo onde a Educação é a chave, e num Estado onde tudo o importante é reunido numa pasta classificada como 'Cultura' e fechada numa gaveta [por políticos e por cidadãos], este disco, editado por suíços, é uma pequena peça num esforço de divulgação directa e preservação indirecta que merece aplauso.

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06 julho 2004

Seven pecados mortais: reflexão



SOMERSET
You tell me, then... you walk into an
apartment, and a man has beaten his wife to
death, or the wife murdered the husband,
and you have to wash the blood off their
children. You put the killer in jail. Who
won?

MILLS
You do your job...

SOMERSET
Where's the victory?

MILLS
You follow the law and do the best you can.
It's all there.

SOMERSET
Just know that in this case there's not
going to be any satisfaction. If we caught
John Doe and he were the devil himself, if
it turned out he were actually Satan, then,
that might live up to our expectations. No
human being could do these things, right?
But, this is not the devil. It's just a
man.

MILLS
Why don't you shut the fuck up for a while?
You bitch and complain... if I thought like
you, I would have slit my wrist already.

Somerset sits back, looking at Mills.

MILLS
You think you're preparing me for the hard
times ahead? You think you're toughening
me up? Well, you're not! You're quitting,
fine... but I'm staying.

SOMERSET
People don't want a champion. They just
want to keep playing the lottery and eating
hamburgers.

MILLS
What the fuck is wrong with you? What
burnt you out?

SOMERSET
It wasn't one thing, if that's what you
mean. I just... I can't live here anymore.
I can't live where stupidity is embraced
and nurtured as if it were a virtue.

MILLS
Oh, you're so much better than everyone,
right? No one's worthy of you.

SOMERSET
Wrong! I sympathize completely, because if
you can't win... then, if you don't ignore
everything and everyone around you, you...
you become like John Doe. It's easier to
beat a child than it is to raise it,
because it takes so much work to love. You
just have to make sure you don't stop to
think about the abuse, and the damage,
because you'll risk being sad. Keep
ignoring.

MILLS
You're talking about people who are
mentally ill. You're...

SOMERSET
No I'm not! I'm talking about common,
everyday life here. If you let yourself
worry about one thing, you'll worry about
the next, and the next, and it never ends.
In this place, ignorance isn't just bliss,
it's a matter of survival.

MILLS
Listen to yourself. You say, "the problem
with people is they don't care, so I don't
care about people." But, you're already
here. You've been here a long time. So,
there's a part of you that knows, even if
everything you say is true, none of it
matters.

SOMERSET
That part of me is dead.

Mills stands.

MILLS
You want me to agree with you: "Yeah,
you're right, Somerset. This is a fucked
place. Let's go live in a fucking log
cabin." Well, I don't agree with you.
You're giving up, and it makes me sick,
because you're the best I've ever seen.


in JUR.NAL

Se7en

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05 julho 2004

O altruísmo é uma forma inteligente de egoísmo

'Se o mal que a minha acção provoca nos outros é apenas causado pelo desfazer da imagem que os outros têm de mim, então tenho todo o direito de fazer o que considero importante para a minha realização e o que me parece certo, por muito que o outro sofra com a destruição dessa imagem. Mas se a minha acção resultar apenas de uma preferência secundária e não de algo essencial, se é uma mera apetência e não uma vivência relevante para eu me cumprir, então não vale a pena magoar os que nos amam ou sequer chocar com aqueles com quem convivemos. Além de mesquinho e estúpido é perigoso, pois o mal que fazemos aos outros mina sempre o nosso bem-estar das formas mais subtis. O altruísmo, mais do que tudo, é uma forma inteligente de egoísmo'.

'A mentira só é útil em dois tipos de ocasião: a primeira, é para não magoar desnecessariamente os outros, quando não merecem a nossa consideração e, com as pessoas de muita ou muito pouca idade mental, quando já não vale ou aiunda não vale a pena; a segunda, é para salvar a nossa pele, mas apenas em casos de estrita necessidade de sobrevivência. A esmagadora maioria das vezes, a verdade é mais leal, é mais honrosa para nós e para os outros, é mais útil e mais construtiva'.


Fernando de Mascarenhas, Marquês de Fronteira
Sermão ao meu Sucessor, 2003

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04 julho 2004

Portugal de Relance I

Não há nada, porém, que iguale outro tic das raças primitivas. Em presença de um facto qualquer que suscite a vossa admiração, se pedirdes explicações responder-vos-ão: «É costume». Cumprimentais uma senhora na rua, e surpreende-vos o facto de receberdes apenas n troca uma quase imperceptível inclinação de cabeça: É costume. Um sujeito sai-vos ao encontro na rua, obrigando-vos a parar e, com a maior sem cerimónia, sem pedir licença, tira o charuto ou cigarro das vossas mãos, acende o seu e continua o caminho soltando um «obrigado», que uma mosca não seria capaz de ouvir. Admirai-vos: É costume.

Os portugueses são geralmente bem feitos; mas prejudicam muito estas qualidades pelo excesso de vaidade; alguns deles dão-se ares de vencedores quando passam junto das mulheres.
O amor tem um lugar tão importante e absorvente em Lisboa, na vida da maior parte da gente, que se pode dizer que não lhe resta tempo para mais nada. A mocidade elegante da capital é, em geral, ignorantíssima. Aprendeu pouco; por consequência, não sabe quase nada. Não respiramos a atmosfera das gerações espontâneas.


Maria RATAZZI
Portugal de Relance, 1881

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VILDSVIN, aquele bar

VILDSVIN é um bar em Barcelona. Como se percebeu, não tem website.

Descobri-o, de resto, ao calhas.

Fica na Ciutat Vella, uma espécie de bairro alto no seu pior (porque há-o no seu melhor), se bem que tenha, porém, pérolas escondidas.

O VILDSVIN é uma delas e a pureza do branco e as contrastantes velas em cubos encarnados a criar uma meia luz num bar algo 'clínico', fazem com que este se destaque como uma nave espacial imaculada numa zona de desastre, onde pululam bêbados, sem abrigo, um ou outro cão de mau aspecto, e lixo, muito lixo.

Ir ao VILDSVIN é como que encontrar um abrigo no meio do caos.

É o local ideal para uma noite [ou para uma parte de noite] calma, com um jazz leve, bebidas razoáveis [tb destacavam cervejas belgas, mas não bebo c.] e anonimato. Permitiu uma das melhores conversas da minha vida.

Foi o que sucedeu no meu caso, depois de uma Rita residente me passear pela Ciutat e eu já estar farto de confusão.

Pudera, tinha acabado de chegar de Madrid, onde fizémos uma maratona digna de um piropo 'you've passed the test of knowing Madrid la nuit', por uma local...no MOMA, mas
isso fica para outra ocasião. O VILDSVIN será um appetizer.

Até lá:

VILDSVIN
Calle Ferrán, 38
Ciutat Vella, Barcelona
[metro:Liceu]

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Cravo em Rates...


Este artigo resume, em grande parte, o que vejo em Blandine Rannou.

Esta cravista é excepcional; tão excepcional que atrai para o cravo os mais cépticos. Aqueles para quem porventura o cravo é um instrumento agudo (um mau cravo?) e irritante ou monótono.



Esta jovem excepção estará em Portugal no dia 21 deste mês, onde interpretará, na igreja de S. Pedro de Rates, algumas das peças mais marcantes da sua carreira.

As duas peças que destaco são o prelúdio da II suite inglesa de Bach [as francesas, são-no, diz-se, por não terem prelúdio], e a chaconne do III livro de Duphly, [ou Du Phly]. Irá ainda interpretar Rameau e Forqueray.

O concerto está integrado num festival que tem vindo a ter um programa a acompanhar.



Cravo Ruckers, 1636, a aguardar fundos para restauro.

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Moda






'[Ralph]Lauren plays on our ambivalence about the upper class. We grant him the license to pretend to a grandeur that it isn't by birth beacause we are desillusioned with the rich.[...] If the rich won't play their part as stewards of the finer things in life, then those things shouls be awarded to people who will [...] The things you've always coveted, things that in the past belonged exclusively to a privileged few, are now in the public domain. Help yourself. It is up to you to carry this excquisite tradition. And yet there is something faintly absurd about the people who heed this call, and about Lauren himself [...] an identity is not acquired but earned [...] In a showcase on the first floor, in the men's department, is a horn tobacco canister, silver-trimmed, on the front of which is engraved, 'To father on occasion of his silver wedding, 15th October 1910'. It is for sale.'


Há dois fenómenos interligados que caracterizam em grande parte o chamado mundo da Moda, fora do seu aspecto artístico, mas ainda fora do seu lado fútil.

O primeiro é o da concentração, sobretudo na década de 1990, em dois grandes grupos: LVMH [Louis Vuitton-Moët-Hennessy] e PPR [Pinault-Printemps-Redoute]. Há ainda satélites como o grupo Prada ou o Gucci. Em comparação, coisa pouca.

O segundo fenómeno é o das transacções mais, ou menos, milionárias de casas 'tradicionais', associadas a costureiros cujo nome é parte do establishment, que acabam integradas (e integrados...) nestes grandes grupos.

Pergunta-se se 'la haute couture est morte'.

Seja como epitáfio, seja como guia de percurso, A Dedicated Follower of Fashion é leitura obrigatória.

Holly Brubach é consultora da Prada e reúne neste volume as suas crónicas, resultado de colaborações em ícones com conteúdo como a New York Times Magazine, a The New Yorker, a The Atlantic, ou a mais suave Vogue.

O livro é editado pela Phaidon.

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03 julho 2004

A Bruptidão




OS comentários 'mais ou menos explícitos' que surgem quanto ao blog de JPP são tão unânimes como os risinhos adolescentes de um grupo de meninas a correr para o seu sítio de eleição (e onde menino não entra).

Surge sempre o facto de ser 'hermético' em algumas escolhas ou opiniões não políticas (em geral artísticas, sobretudo poéticas e pictóricas).

Reconheço que esse seja, talvez, um resultado de uma agenda horária e mental, e sobretudo, do lado mais pessoal que cada blog deve ter, embora quando este exceda limites razoáveis, desaparecem os leitores e ficam os amigos que já eram amigos.

Creio porém que este lado pessoal dos blogs tem ficado esquecido.

E reconheço pois algo que me parece mais importante: tal como o Barnabé é o blog mais criativo e activo que conheço, o Abrupto é o único blog com uma componente estética e espiritual irrepreensível.

Ainda que por vezes cite JPP na brincadeira (sobretudo a fórmula 'early morning blog no.XXXXX', em múltiplas variações), ou sorria com o seu empolgamento e saudável jovialidade em acompanhar as manobras no outer space.

O blog de JPP pode, um dia, deixar de falar de política. Pois o restante conteúdo, esse, é insubstituível.

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a crise não chegou aos leilões

Foi com orgulho que chegou à minha mailbox o link da SOTHEBY's, que anuncia os remates mais altos desde 1989.

É verdade: Matisse, Modigliani, Van Gogh, Picasso, Monet, Degas, Renoir, Kandinsky, Monet, Klimt, Schiele, Giacometti, Soutine, uma festa em New York.



Tanto na Sotheby's como na Christie's, as duas rivais que protagonizaram um recente frisson,que envolvia, entre outros mimos, a sobrefacturação dos clientes, via comissões, entre 1993 e 1999. Ambas controlam 90% do mercado (leilões de arte).

Esperemos que estas grandes aquisições não dêem azo a novos 'contenciosos fiscais', como aquele que o New York Times relata de forma deliciosa.

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ovos fabergé para liquidar dívida?

é verdade.

acabo de ler no meu sempre esperado ART NEWSPAPER -- onde já tinha lido a aquisição 'maciça', ou 'massiva' [so be it] de ovos fabergé por um dos 'novos' russos -- a possibilidade de uma das maiores colecções de ovos fabergé servir para pagar cobrir dívidas, nada mais nada menos do que de indemnizações por um banco falido.

speachless.

A última lição de Sousa Franco

Não sabia o título a dar a este post; tudo parece populista e baixo, tão vil como a forma que envolveu o fim de um cidadão exemplar.

Curvo-me perante o académico, político e intelectual António de Sousa Franco.

Mas, sobretudo, medito agora com alguma frieza sobre as circunstâncias que envolveram o seu desaparecimento.

Foi a única vez que ouvi e concordei com José Saramago, autor que -- mea culpa -- nunca li.

Pois foi o único a reflectir aquilo que eu chamaria a última lição -- infelizmente involuntária e algo póstuma -- do Professor Sousa Franco.

Uma lição que culmina num aviso sobre questões de fundo: onde estamos social e politicamente? Como foi possível a barbárie, o caciquismo da low politics, associada a uma candidatura a cargos em instituições comunitárias? O que passaria pela cabeça de quem (todos incluídos, sem excepção) estava no local? E de quem não estava (alguma autoridade pública)? E de quem já não está, mas ainda permanece algures (os dois protagonistas locais)?

Meditemos sobre a política que temos, conquanto esta reflecte a moral que nos falta, por acção ou omissão, e aquilo que somos enquanto pessoas. Que, por mero acaso, vivem no mesmo país.

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festa da blogosfera: o solstício no causa-nossa

Estive numa festa no mínimo peculiar, e agora confirmo, entre outras coisas, que a definição aí apresentada de blog como 'aquilo que fazem as pessoas que não sabem construir uma página na net' não é, de todo, falsa.

Refiro-me à festa organizada pelo blog CAUSA-NOSSA no LUX, que incluiu, até, uma entrega de prémios à blogosfera e também à 'sociedade', torneando qualquer patine mundana que este termo possa ter.



Por ser um ignorante quanto a questões blogosféricas, apercebi-me de algo básico: um dos grandes critérios distintivos entre blogs é o facto de serem de Direita ou de Esquerda. Que é como quem diz, os temas abordados no blog e/ou os seus autores e/ou o seu 'público' (estou menos convencido da última, mas não deixa de ser, também, verdadeira)são políticos, com ou sem cartão, com ou sem posto.

Outra percepção -- esta nada óbvia para os blogocraques, sobretudo para os ausentes nessa noite no LUX -- foi a da quebra da magia do anonimato de alguma blogosfera para a construção da magia de um encontro 'real': do virtual ao real. Funcionou. Espero repetições, e estou certo que há muito espaço para melhorar, mas nenhum para desistir.

'Fôoçça'

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early start blog

'early start blog no. 0'

muitas ideias para um post, que se espera que não acabem nos futuros posts. E que apareçam ilustradas. E com links. E -- hélas -- com respostas. E mais. Mais.



'bom blog!'

miudos de 12 anos a beberem coisas da mesma idade

No DNa / DN+ de hoje, com destaque na capa do DN, surge uma reportagem de seis grandes páginas que 'desanca' o GARAGE.

Gosto do GARAGE ou, para ser mais objectivo, reconheço o GARAGE como um dos mais importantes palcos nacionais, em certas áreas musicais.

É no GARAGE que é possível em Portugal ver bandas que dificilmente passam por estas...bandas.

Fiquei no entanto 'triste' por ver que às sextas há bar aberto para as pitinhas, e que os 'jocks' vão com elas para também se enfrascarem à borla. Sobretudo, perceber que alguns têm doze anos, idade de um whisky mediano a mau.

Digamos que o que mais me 'tocou' foi esta passagem:

'podem encontrar-se miúdos que parecem até relativamente desinteressados de todo o ambiente de música, dança e beijos na boca. Talvez por serem demasiado novos, tão novos que preferem entreter-se com os jogos disponíveis nos seus telemóveis. Tão novos que não conseguem disfarçar um bocejo atrás do outro, à medida que a noite avança'.

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liberdade . para todas as interpretações que a suportem...

Bem sei; já ninguém lê francês, e quem ainda lê já está farto de ler isto, e quem ainda aprende já leu isto no manual do colégio e para o BAC, etc., etc.

Mas quis lançar um 'early night nostalgic blog no.1'...


Liberté

sur mes cahiers d'écolier
sur mon pupitre et les arbres
sur le sable sur la neige
j'écris ton nom.

sur toutes les pages lues
sur toutes les pages blanches
pierre sang papier ou cendre
j'écris ton nom.

sur les images dorées
sur les armes des guerriers
sur la couronne des rois
j'écris ton nom.

sur la jungle et le desert
sur les nids sur les genêts
sur l'écho de mon enfance
j'écris ton nom

sur les merveilles des nuits
sur le pain blanc des journées
sur les saisons fiancées
j'écris ton nom.

sur tous mes chiffons d'azur
sur l'étang soleil moisi
sur le lac lune vivante
j'écris ton nom

sur les champs sur l'horizon
sur les ailles des oiseaux
et sur le moulin des ombres
j'écris ton nom.

sur chaque bouffée d'aurore
sur la mer sur les bateaux
sur la montagne démente
j'écris ton nom.

sur la mousse des nuages
sur les sueurs d'orage
sur la pluie epaisse et fade
j'écris ton nom.

sur la vitre des surprises
sur les lévres attentives
bien au dessus du silence
j'écris ton nom.

sur mes refuges détruits
sur mes phares écroulés
sur les murs de mon ennui
j'écris ton nom.

sur l'absence sans désirs
sur la solitude nue
sur les nuages de la mort
j'écris ton nom.

sur la santé revenue
sur le risque disparu
sur l'éspoir sans souvenir
j'écris ton nom.

et par le pouvoir d'un mot
je recommence ma vie
je suis né pour te connaître
pour te nommer

liberté.


§

LIBERTÉ
Paul Élouard,1942

imagem: Éluard visto por Léger, que ilustrou este poema.


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